As oito lições da carta anual de Larry Fink

Crédito: Fast Company Brasil

Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

Quando Larry Fink fala, as empresas ouvem. E o fato é que a carta aberta do CEO da BlackRock, a maior empresa de gestão de ativos do mundo, dirigida anualmente aos principais executivos, define o tom para investidores, empresas em geral e, mais recentemente, ambientalistas.

Graças aos US$ 10 trilhões sob gestão da BlackRock, Fink detém grande influência sobre empresas de todos os tipos. Nos últimos anos, sua carta anual focou na importância das questões ambientais, sociais e de governança (ESG), em especial as mudanças climáticas. A carta deste ano continua no tema, mas assume um teor mais voltado para o mercado.

Em reação às críticas à sua defesa da ação climática, Fink argumenta que “não é questão de consciência. É o capitalismo, impulsionado por relações mutuamente benéficas entre empresários e funcionários, clientes, fornecedores e comunidades das quais sua empresa depende para ter sucesso. Este é o poder do capitalismo.”

Aqui estão as oito principais lições de sua carta:

1. O CAPITALISMO E O ESG

O cerne da filosofia da Fink é que empresas preocupadas com as necessidades de todas as partes interessadas apresentam retornos melhores e mais sustentáveis a longo prazo. Desta forma, aquelas que são orientadas por um propósito serão as que alcançarão sucesso a longo prazo para todos – incluindo os acionistas. A carta deste ano deixa claro que a BlackRock “investirá em empresas mais dinâmicas – sejam startups ou players já estabelecidos – com melhores chances de sucesso”. Ele reforça a relação entre lucro e propósito com esta afirmação: “O acesso ao capital não é um direito. É um privilégio. E o dever de atrair esse capital de forma responsável e sustentável é seu.”

2. A TRANSIÇÃO PARA INVESTIMENTOS SUSTENTÁVEIS VAI SE INTENSIFICAR

O investimento sustentável está no nível mais alto de todos os tempos, e Fink afirma que “este é apenas o começo – a transição para o investimento sustentável ainda vai se intensificar”. A recém-lançada Glasgow Financial Alliance for Net Zero, uma promessa das maiores instituições financeiras do mundo com ativos de US$ 130 trilhões para promover estratégias de emissão zero, comprova essa afirmação.

3. INVESTIDORES NÃO CONSEGUEM FAZER ISSO SOZINHOS

A parte mais interessante da carta de Fink é sobre as forças do capitalismo alinhadas com as necessidades das pessoas e do planeta. Mas até ele reconhece que as empresas não podem ser responsáveis por se policiar. Ele faz um forte apelo aos governos para “fornecer diretrizes claras e consistentes para a política de sustentabilidade, regulamentação e divulgação em todos os mercados”. Ele usa a analogia da parceria público-privada que levou ao desenvolvimento das vacinas contra Covid-19 em tempo recorde como modelo do que devemos fazer para alcançar emissões líquidas zero.

Da mesma forma, a escritora de finanças Clara Miller aponta que os investidores não conseguem zerar as emissões sozinhos. Eles fornecem capital, mas são as empresas com líderes esclarecidos que criam inovações sustentáveis.

4. INOVAR PARA ZERAR AS EMISSÕES OU ENTRAR EM EXTINÇÃO

A pandemia da Covid-19 abalou a economia. Alguns conseguiram se adaptar com sucesso ao novo normal, enquanto outros não conseguiram fazê-lo com a rapidez necessária. Com a aceleração da crise climática veremos este cenário se repetir.

Fink aponta como, em apenas alguns anos, a indústria automobilística foi completamente reinventada com praticamente todas as fabricantes de automóveis produzindo modelos elétricos. Uma transformação massiva semelhante a esta afetará todos os setores. Algumas empresas não conseguirão se adaptar e fecharão suas portas, enquanto outras que abraçarem a transição terão sucesso.

5. OS PRÓXIMOS “UNICÓRNIOS” SERÃO EMPRESAS DE TECNOLOGIA CLIMÁTICA

Com a enorme proporção da transição energética, Fink prevê que “os próximos ‘unicórnios’ (startups que valem US$ 1 bilhão ou mais) serão inovadores sustentáveis e startups com o objetivo de descarbonizar o planeta”. 2021 foi um ano recorde de investimento em tecnologia climática, e ele prevê que essa tendência continuará.

6. CRIAR METAS DE CARBONO E RELATÓRIOS DE EMISSÕES

Voltando ao tema de que capitalismo e ambientalismo se apoiam mutuamente, Fink afirma que o foco da BlackRock em sustentabilidade  “não é porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e temos uma relação de confiança com nossos clientes”.

Desta maneira, a carta pede que as empresas criem metas de redução de gases de efeito estufa de curto, médio e longo prazos e alinhem seus relatórios com as diretrizes da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD).

7. ENGAJAMENTO NO LUGAR DE CORTAR INVESTIMENTOS

Em um tom um tanto defensivo, a carta deste ano explica o investimento contínuo da BlackRock nos setores de combustíveis fósseis. Fink escreve: “Retirar investimentos de setores inteiros – ou simplesmente passar ativos intensivos em carbono dos mercados públicos para os mercados privados – não levará o mundo à emissão líquida zero. E a BlackRock não busca o desinvestimento em empresas de petróleo e gás como política.”

O principal argumento é que o desinvestimento não traz resultados concretos. Fink afirma que passaremos por vários estágios até chegarmos onde queremos – afirmando o óbvio, que a economia não mudará para energia limpa da noite para o dia. A BlackRock considera seu papel avaliar as melhores empresas e fornecer capital para acelerar a transição.

8. O CAPITALISMO DOS STAKEHOLDERS CHEGOU PARA FICAR E CRESCER

Embora tenha certeza de que sua versão do “capitalismo das partes interessadas” (Stakeholder capitalism, em inglês) atenderá às necessidades dos investidores, Fink compartilha que ainda há muito a aprender sobre como o relacionamento de uma empresa com seus stakeholders impactará seu valor no longo prazo. Para entender este impacto, a BlackRock anunciou um novo Center for Stakeholder Capitalism (Centro para Capitalismo das Partes Interessadas), para desenvolver pesquisas, promover diálogos e debates sobre a relação entre o envolvimento dods stakeholders e o valor para os acionistas.

Toda empresa tem a opção de adotar esse tipo de capitalismo. E, para isso, Fink propõe uma reflexão: “Você quer liderar ou ser liderado?”


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Fast Company é a marca líder mundial em mídia de negócios, com foco editorial em inovação, tecnologia, liderança, ideias para mudar o ... saiba mais