Como eliminar as substâncias sintéticas presentes até na água potável?

Especialista em qualidade da água explica o que seria realmente necessário para remover esses “produtos químicos eternos”

Crédito: Arnie Watkins/ Pexels

Joe Charbonnet 5 minutos de leitura

Produtos químicos nocivos conhecidos como PFAS (sigla em inglês para substâncias per e polifluoroalquil) podem ser encontrados em tudo, de roupas até no solo e na água. Sua regulamentação tem sido uma meta de pesquisadores de saúde pública e ambiental há anos.

Os PFAS são uma classe de produtos químicos que as empresas utilizam em inúmeros tipos de produtos, para torná-los antiaderentes, impermeáveis e resistentes a manchas – de roupas a embalagens, passando por cosméticos e até fio dental. São substâncias muito persistentes no meio ambiente e no corpo humano, o que significa que elas não se degradam e podem se acumular com o tempo.

PFAS são substâncias que se degradam muito lentamente e podem se acumular no meio ambiente e no corpo humano.

Mas, finalmente, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) propôs o que seria o primeiro conjunto de diretrizes federais que regulam os níveis de PFAS na água potável. A agência aceitará comentários públicos sobre o regulamento durante 60 dias antes de entrar em vigor.

E quais são as exigências propostas? Como as concessionárias de água podem cumpri-las? E quanto custará para remover esses chamados “produtos químicos eternos” da água potável?

O QUE DIZEM AS NOVAS DIRETRIZES?

Os PFAS estão associados a uma variedade de problemas de saúde e têm sido o foco de pesquisadores ambientais e de saúde pública. Existem milhares de tipos desta classe de produtos químicos ((são mais de nove mil substâncias diferentes). O novo regulamento estabelece um limite para seis deles.

Duas das seis substâncias – PFOA e PFOS – não são mais produzidas em grandes quantidades, mas são facilmente encontradas no meio ambiente porque foram amplamente utilizadas e se decompõem de forma extremamente lenta. As novas diretrizes permitiriam a presença de não mais do que quatro partes por trilhão na água potável.

Quatro outros PFAS – GenX, PFBS, PFNA e PFHxS – também seriam regulamentados, embora com limites mais altos. Esses produtos químicos são substitutos comuns para PFOA e PFOS. E devido à sua semelhança, também causam danos à saúde humana e ao meio ambiente.

O QUE PODE SER FEITO

Embora tenham sido realizados testes no passado para verificar a presença de PFAS em diferentes regiões do país, muitos sistemas de água não foram avaliados, então as autoridades de saúde norte-americanas não sabem exatamente quantos deles seriam afetados.

Os PFAS estão associados a uma variedade de problemas de saúde e têm sido o foco de pesquisadores ambientais e de saúde pública.

Um estudo recente estimou que cerca de 40% do abastecimento municipal de água potável nos EUA excede os limites de concentração propostos.

Existem duas tecnologias principais que a maioria das concessionárias de distribuição de água considera para removê-los da água potável: sistemas de carvão ativado ou troca iônica.

O carvão ativado é uma substância usada para a absorção de contaminantes orgânicos. Em 2006, a cidade de Oakdale adicionou uma etapa de tratamento de carvão ativado ao seu sistema de água.

O tratamento extra não só reduziu substancialmente os níveis de PFAS, como influenciou no aumento da quantidade de gestações que não foram interrompidas e no peso dos recém-nascidos na comunidade após sua implementação.

Os sistemas de troca iônica conseguem remover o PFAS usando partículas com uma carga semelhante. Eles costumam ser mais eficazes do que o carvão ativado para a redução da concentração desses compostos, porém, são mais caros. 

Uma alternativa é encontrar fontes de água menos contaminadas. Embora esta seja uma maneira simples e de baixo custo de reduzir a contaminação escancara uma grande disparidade na justiça ambiental. Concessionárias em zonas rurais e com menos recursos provavelmente não terão essa opção.

UMA TRANSIÇÃO POSSÍVEL

Por lei, a EPA deve considerar não apenas a saúde humana, mas também a viabilidade do tratamento e o custo financeiro potencial ao estabelecer níveis máximos de contaminantes na água potável. Os limites propostos certamente podem ser alcançados por muitas concessionárias, mas os custos serão altos.

encontrar fontes de água menos contaminadas seria uma maneira simples e de baixo custo de reduzir os prejuízos causados pelos "químicos eternos".

O governo federal dos EUA disponibilizou bilhões de dólares em financiamento para o tratamento da água. Mas algumas estimativas apontam que o custo total para cumprir os regulamentos propostos em todo o país seria de cerca de US$ 400 bilhões – valor muito acima do financiamento do governo.

Isso faria com que alguns municípios tivessem que buscar ajuda financeira de poluidores próximos, enquanto outros se veriam obrigados a aumentar as tarifas para cobrir os custos.

A EPA estabeleceu um período de 60 dias para comentários públicos sobre os regulamentos propostos antes de entrar em vigor. Mas muitos especialistas apontam que a agência deve enfrentar uma série de desafios legais.

Apenas o tempo dirá como será a versão final do regulamento. Mas o objetivo é garantir que o país tenha a água potável de melhor qualidade do mundo.

Embora esses seis PFAS certamente representem ameaças que merecem algum tipo de regulamentação, existem milhares de outros que provavelmente têm impactos muito semelhantes na saúde humana.

Em vez de regular um por vez, há um consenso entre pesquisadores e autoridades de saúde pública de que os PFAS devem ser regulamentados como uma única classe de produtos químicos.

Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Joe Charbonnet é professor assistente de engenharia ambiental na Universidade Estadual de Iowa e desenvolve técnicas para remover cont... saiba mais