Como o fundador da Virgin vai ajudar a eliminar o plástico de uma fábrica de produtos de limpeza

Crédito: Fast Company Brasil

Talib Visram 3 minutos de leitura

Em 1971, Richard Branson abriu sua primeira loja de discos em Londres; e, durante o Most Innovative Companies Summit, conferência sobre inovação da Fast Company, a descreveu como o sonho de qualquer hippie: “Almofadas no chão, fones de ouvido e um ‘baseado’ na mão de quase todos ali. Era uma época em que bastava segurar um disco Dark Side of the Moon para sentir toda sua essência.” 51 anos depois, a nova empreitada de Branson – sua primeira aventura pelo varejo desde o fim de seu empreendimento no mundo da música – pode vir a se tornar “os Sex Pistols dos produtos domésticos”.

Essa foi a analogia feita pela editora da Fast Company, Jill Bernstein. Ela se referia ao investimento de Branson na empresa de produtos de limpeza, Grove Collaborative, que pretende eliminar todo o plástico de seus produtos até 2025 e ajudar a levar a ideia a todo o resto da indústria – segundo ela, uma atitude bem “punk rock”. O CEO Stuart Landesberg juntou-se a Branson e a Bernstein para discutir como a crise do plástico reflete a climática e como vê a Grove na vanguarda de uma mudança sustentável. Branson fará parte dessa iniciativa por meio de uma fusão com a Virgin.

“Nossa indústria tem um impacto e alcance enorme e precisa de uma mudança tão grande quanto”, afirma Landesberg, uma vez que quase todos os lares usam estes produtos e sua grande maioria é feita de plásticos de uso único. Além disso, apenas 9% deles são reciclados. “A reciclagem do plástico é, na verdade, um mito criado pelo lobby petroquímico para nos fazer sentir confortáveis em usar esse substrato que é bastante barato de produzir, mas que dura para sempre”, explica.

A Grove Collaborative, que comercializa, dentre muitos produtos, sabão concentrado, frascos de spray de vidro reutilizáveis e desodorante e loção refil embalados em alumínio, pretende eliminar todo o uso de plástico até 2025, uma meta muito mais ambiciosa em comparação com outras empresas, que normalmente buscam a neutralidade do plástico – ainda assim, em datas posteriores. A Grove diz estar no caminho certo para atingir seu objetivo e que já eliminou o equivalente a quase 485 milhões de garrafas plásticas.

Além das mudanças nos produtos, também inovou ao criar o Plastic Scorecard – um rótulo nas embalagens que indica a ausência ou neutralidade de plástico, e espera inspirar toda a indústria. “Parte de ser um bom administrador é garantir que temos o capital necessário para colocar em prática nossa visão”, diz.

É aí que entra o Branson. A Virgin criou uma sociedade de aquisição de propósito específico, ou SPE, chamada Virgin Group Acquisition Corp II, em essência, uma empresa com o objetivo de arrecadar fundos por meio de um IPO. Posteriormente, ela se fundirá com a Grove e se tornará uma a empresa pública, provavelmente ainda no primeiro semestre de 2022. Este acordo fez com que fosse avaliada em US$ 1,5 bilhão. (Para esta fusão, a Grove teria demitido 17% de sua equipe em março, em uma tentativa de posicioná-la financeiramente para obter “sucesso a longo prazo”.)

Branson conta que seu interesse pela empresa de produtos de limpeza é devido à sua missão, que se alinha à nova política da Virgin de que “qualquer novo investimento que fizermos a partir de agora deve ter como objetivo tornar o mundo um lugar melhor”. Mas, sobretudo, ele parece confiante no produto. Ele compara este cenário com quando sua companhia aérea, Virgin Atlantic, foi lançada: “Como éramos melhores que a British Airways, havia muita procura pelo nosso serviço”. E acredita que o mesmo se aplica à Grove: “A melhor empresa quase sempre sobrevive”.

Landesberg analisa como a crise do plástico reflete a climática – ambas se originam da extração de combustíveis fósseis – e acredita que reduzir o uso de plásticos é algo possível e viável, já que hoje a maioria das pessoas está convencida de que se trata de um problema real: 84% dos norte-americanos se dizem preocupados com a poluição gerada pelo plástico. “É algo surpreendente já que é difícil que 84% da população [norte-americana] concorde sobre um determinado tópico hoje em dia”, diz ele. Apesar de algumas pessoas ainda acreditarem que as mudanças climáticas não são causadas pelo homem, “ninguém discorda que garrafas de plástico existem”.


SOBRE O AUTOR

Talib Visram escreve para a Fast Company e é apresentador do podcast World Changing Ideas. saiba mais