Como superar a angústia e tomar atitudes efetivas para combater a mudança climática

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Nossa espécie se encontra em uma corrida contra o tempo para evitar catástrofes climáticas e muitos se perguntam: “será que eu posso mesmo fazer alguma diferença?”

Essa dúvida está relacionada a algo conhecido como agência. Seu significado é complexo, mas, em poucas palavras, é quando alguém é capaz de fazer o que se propõe a fazer acreditando que pode ter sucesso. 

A evidência é clara: estamos mudando o clima dramaticamente. Mas as ações humanas também podem afetar o clima para melhor, reduzindo a queima de combustíveis fósseis e as emissões de carbono. O modo como as pessoas vão usar seu arbítrio determinará a gravidade do aquecimento global – e suas consequências. Não é tarde demais para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas, mas o tempo está se esgotando.

Apesar da agência técnica abundante, a humanidade está alarmantemente carente de agência psicológica: falta crença na capacidade pessoal de ajudar a resolver os problemas de escala planetária. Um estudo de dez países publicado na revista médica britânica The Lancet descobriu que mais da metade dos jovens de 16 a 25 anos sentem medo, tristeza, ansiedade, raiva, impotência e desamparo em relação às mudanças climáticas.

“EU POSSO FAZER ALGO”

À medida que os gases de efeito estufa da queima de combustíveis fósseis se acumulam na atmosfera, eles aquecem o planeta. O aumento da temperatura global alimentou o agravamento das ondas de calor, elevou o nível do mar e trouxe tempestades mais intensas, às quais é cada vez mais difícil se adaptar. Um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas descreve algumas das perturbações mais perigosas em andamento e como elas já estão colocando as pessoas e o meio ambiente em risco.

Assim como os humanos podem optar por dirigir veículos movidos a gasolina, eles também podem optar por agir de maneira a mudar para melhor o clima, a qualidade do ar e a saúde pública. O conhecimento científico e as inúmeras oportunidades de ação tornam essa agência possível.

Uma parte fundamental da agência é a crença de alguém, quando confrontado com uma tarefa a ser executada, com uma situação a ser gerenciada ou com um objetivo de longo prazo – como proteger o clima –, de que ele “pode mudar o seu entorno”. Essa  sensação de autoeficácia pode ser o fator psicológico mais importante para prever como as pessoas lidarão com as mudanças climáticas e com a Covid-19, conforme indicam dados recentes de pesquisas online feitas na Europa. As pessoas que sentem uma agência adequada são mais propensas a perseverar, a se recuperar de contratempos e a ter desempenhos de alto nível.

Com a mudança climática, o senso de autoeficácia fortalece a disposição de uma pessoa para reduzir as emissões de carbono (mitigação) e se preparar para desastres relacionados ao clima (adaptação). Estudos confirmam o mesmo para ações como voluntariado, doações, contato com autoridades eleitas, economia de energia, conservação de água durante condições climáticas extremas e muito mais.

AUMENTANDO O SEU SENSO DE AGÊNCIA

Para construir uma agência para algo que pode parecer tão assustador quanto a mudança climática, concentre-se primeiro nos fatos. No caso das mudanças climáticas: as emissões de gases de efeito estufa causam os maiores danos, e as pessoas podem ajudar muito mais do que imaginam.

A agência de sucesso tem quatro impulsionadores psicológicos, que podem ser fortalecidos com a prática:

1) Intencionalidade: “Preciso escolher minhas metas e ações climáticas de alto impacto.”

Decidir agir com propósito – saber o que você pretende fazer – é muito mais eficaz do que pensar: “tenho consciência do problema, mas preciso encontrar tempo para agir”.

No quadro geral, a maior eficácia climática de alguém está em participar de esforços maiores para interromper o uso de combustíveis fósseis. As pessoas podem definir metas ambiciosas específicas para reduzir o uso pessoal e doméstico de energia e juntar-se a outras em ações coletivas.

2) Previsão: “Devo olhar para frente e pensar estrategicamente sobre como proceder.”

Depois de estipular seus objetivos, você pode pensar estrategicamente e desenvolver um plano de ação. Alguns planos suportam objetivos relativamente simples, que envolvem mudanças no estilo de vida individual, como ajustar o consumo e os padrões das viagens. Ações de maior alcance podem ajudar a mudar os sistemas – como atividades de longo prazo que defendem políticas ou políticos favoráveis ​​ao clima ou atitudes contra políticas ou prejudiciais. Isso inclui participação em manifestações e campanhas eleitorais.

3) Autorregulação: “Consigo me gerenciar ao longo do tempo para otimizar meus esforços e minha eficácia.”

Preocupar-se com o futuro está se tornando uma tarefa para toda a vida – intermitente para alguns, constante para outros. A mudança climática causará desastres e escassez, interromperá vidas e carreiras, aumentará o estresse e prejudicará a saúde pública. Enxergar o progresso e trabalhar em conjunto pode ajudar a aliviar esse estresse.

4) Autorreflexão: “Devo (re)avaliar periodicamente minha eficácia, repensar estratégias e táticas e fazer os ajustes necessários”.

Quando olhamos retrospectivamente para as últimas décadas de mudanças climáticas, durante as quais fomos descobrindo aos poucos os danos e desmascarando os esforços das empresas de combustíveis fósseis para obscurecer os fatos, sabemos que essa questão exigirá aprendizados ao longo de toda a nossa vida. A reflexão – ou, mais precisamente, a atualização sobre descobertas científicas mais recentes e formas de se adaptar – é vital, pois o futuro continuará apresentando novos desafios.

AGÊNCIA PESSOAL É O PRIMEIRO PASSO

Alguns primeiros passos aparentemente pequenos podem ajudar a reduzir as emissões de carbono e levar a caminhos de ação maior, mas ações individuais são apenas parte da solução. Os grandes poluidores muitas vezes incitam os consumidores a realizar pequenas ações pessoais, o que pode desviar a atenção da necessidade urgente de intervenções políticas em larga escala.

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E AS INÚMERAS OPORTUNIDADES DE AÇÃO TORNAM A AGÊNCIA POSSÍVEL.

Por isso, a agência individual deve ser vista como uma porta de entrada para os esforços em grupo, porque esses podem mudar de forma mais rápida e eficaz a trajetória das mudanças climáticas.

“Agência coletiva” é outra forma de agência. Uma massa crítica de pessoas pode criar pontos de inflexão social que pressionam a indústria e os formuladores de políticas a se mexerem de forma mais rápida, mais segura e mais equitativa, para implementar políticas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.

Ajudar a eleger autoridades locais, estaduais e nacionais que apoiem a proteção do clima e influenciar investidores e líderes de corporações e associações também pode criar um senso de agência, conhecido como “agência de procuração”.

Juntos, esses esforços podem melhorar rapidamente a capacidade da humanidade de resolver problemas e evitar desastres. Consertar a bagunça climática do mundo requer urgência e senso de agência para criar o melhor futuro possível.


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