Esta é a solução radical que se deve adotar para combater a crise climática

Quando a coisa certa a ser feita também é a mais fácil, as pessoas mudam seus hábitos

Crédito: Mill

Matt Rogers 4 minutos de leitura

Projetos de tecnologia como fusão nuclear, captura de carbono e carne cultivada em laboratório oferecem soluções interessantes para combater a crise climática. Mas um dos maiores desafios para os inovadores é explicar algo simples, porém difícil de ser alcançado – a mudança de comportamento.

Ao longo de duas décadas trabalhando em tecnologias revolucionárias, como o iPod, o iPhone e o termostato inteligente Nest (do Google), aprendi uma lição importante: quando a coisa certa a ser feita também é a mais fácil, as pessoas mudam seus hábitos.

muitas pessoas estarão dispostas a adotar um novo comportamento se for mais fácil, melhor e mais conveniente do que antes.

Na Nest, por exemplo, descobrimos que facilitar a economia do consumo de energia e, consequentemente, a redução da conta de luz teve um impacto em grande escala, tanto em termos de utilidade quanto na rede elétrica.

Podemos aprender muito com os avanços tecnológicos da última década – como veículos elétricos e painéis solares – sobre como mudar comportamentos antigos de forma benéfica para as pessoas e para o planeta.

Existem três princípios que os inventores devem ter em mente ao projetar tecnologias ou sistemas que incentivem a mudança de comportamento em relação ao clima:

1. Imitar um comportamento anterior

Em uma sociedade cada vez mais ocupada como a nossa, se uma solução depende de uma mudança radical do que as pessoas estão acostumadas, é menos provável que tenha um impacto significativo. A responsabilidade deve estar na tecnologia, não no indivíduo, para promover a mudança.

Podemos observar isso nos veículos elétricos. Embora a fonte de energia seja fundamentalmente diferente dos carros movidos a combustíveis fósseis, a maneira como recarregamos esses veículos imita o comportamento tradicional de abastecer em um posto de gasolina. Nosso cérebro compreende intuitivamente o ato de “abastecer” e, portanto, não sentimos que houve uma mudança real.

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No meu cargo atual como fundador e CEO da Mill, um serviço que processa e envia restos de comida para fazendas, transformando-os em ração, tenho me dedicado a esse princípio no que diz respeito ao desperdício de alimentos. Especificamente, buscamos imitar um comportamento passado para evitar o desperdício.

Para muita gente, lidar com os restos dos alimentos consumidos significa simplesmente jogá-los fora. Alguns dias depois, alguém recolhe o lixo. Nosso objetivo era imitar a experiência de jogar algo fora de uma maneira que fosse melhor para as pessoas, para a cozinha e para o planeta.

A lixeira da Mill tem a mesma aparência e funciona de forma semelhante a uma lixeira comum. Basta pisar no pedal e a tampa se abre para que você descarte os restos de comida. A mudança no comportamento é praticamente imperceptível. A verdadeira mágica acontece dentro da lixeira.

2. Tornar a nova opção melhor, mais fácil e mais conveniente do a anterior

Embora a experiência de usar uma lixeira Mill seja quase idêntica à de qualquer outra, a tecnologia é diferente. Ela “trabalha” automaticamente durante a noite e, quando você acorda de manhã, encontra os restos de comida transformados em farelo.

Seu potencial impacto para o meio ambiente é significativo. Quando os alimentos são levados para aterros sanitários, eles se decompõem e liberam metano, que é 80 vezes mais potente do que o CO2.

Crédito: Mill

Ao projetar produtos ou sistemas para incentivar a mudança de comportamento das pessoas, é importante que a nova opção seja melhor, mais fácil e mais conveniente do que as anteriores. Por exemplo, com veículos elétricos e painéis solares, não apenas economizamos em custos de energia, mas também fazemos uma escolha que é benéfica para o meio ambiente.

3. Usar dados e feedback para reforçar a mudança positiva de comportamento

Depois que as pessoas já se comprometeram com o novo comportamento, dados e feedback podem ajudar a reforçá-lo e mantê-lo. Na Nest, por exemplo, relatórios mensais de impacto e elementos de gamificação tornaram fácil e divertido para as pessoas continuarem economizando energia.

se uma solução depende de uma mudança radical de comportamento, é menos provável que tenha impacto significativo.

Adotamos uma abordagem semelhante na Mill, permitindo que acompanhem a quantidade de restos de comida que jogam fora, o que pode ajudar a conscientizá-las e, com o tempo, ajustar seus hábitos em relação ao desperdício de alimentos.

A liderança governamental também desempenha um papel fundamental no estímulo à inovação para orientar a mudança de comportamento. Estabelecer diretrizes claras sobre o caminho que precisamos seguir é particularmente importante no contexto das questões climáticas.

Nosso trabalho como inventores e inovadores é tornar a mudança de comportamento em relação ao clima fácil e divertida. Embora algumas pessoas sempre façam a coisa “certa”, muitas outras estarão dispostas a adotar um novo comportamento se for mais fácil, melhor e mais conveniente do que antes. Pequenos ajustes no nosso dia a dia podem ter um impacto significativo.

Esse é o nosso objetivo.


SOBRE O AUTOR

Matt Rogers é cofundador da Nest e cofundador e CEO da Mill. saiba mais