Estudo revela os efeitos negativos da chuva sobre o crescimento econômico

Crédito: Fast Company Brasil

Talib Visram 3 minutos de leitura

Foram diversos os desastres causados por chuvas fortes no ano passado. No Sri Lanka e na Colômbia, as inundações deixaram mortos e desalojados. No Canadá, chuvas sem precedentes na Colúmbia Britânica causaram deslizamentos de lama e de rochas, colocando a província em estado de emergência e desalojando 18.000 moradores. Na Alemanha, 150 pessoas morreram na pior inundação que o país experimentou nos últimos 200 anos.

Depois da tragédia alemã, cientistas calcularam que essas inundações haviam se tornado até nove vezes mais prováveis ​​devido às mudanças climáticas. O aquecimento do globo – causado pela queima de combustíveis fósseis – intensifica as chuvas. A maioria das indústrias, como a agricultura, se beneficia da maior precipitação anual. Mas um novo estudo descobriu que, à medida que o número de dias chuvosos aumenta – tanto na forma de chuvas fortes quanto na forma de garoas brandas –, o crescimento econômico diminui. E descobriu, também, que o impacto foi maior nos países mais ricos. Provavelmente, esses efeitos continuarão se acentuando, até que o mundo alcance emissões líquidas zero.

“O maior problema das mudanças climáticas será, e já é, o aumento e a intensificação dos extremos climáticos”, afirma Anders Levermann, professor de dinâmica do sistema climático do Potsdam Institute for Climate Impact Research, na Alemanha. “E o aumento das chuvas tem tudo a ver com isso.”

A temperatura do globo aumentou cerca de 1 grau Celsius desde 1880, mas tem aumentado o dobro da taxa anterior desde 1981. E a cada grau que a temperatura sobe, a precipitação aumenta cerca de 7%. Isso porque uma atmosfera mais quente pode simplesmente reter mais vapor de água. Paralelamente, mais evaporação do oceano ocorre quando está mais quente, e essa água eventualmente retornar ao solo. 

Levermann é um dos autores desse estudo, que examina dados de produção econômica de 1.554 regiões, em 70 países e em um período de 40 anos, de 1979 a 2019. Primeiro, eles analisaram a precipitação média anual, descobrindo que esse aumento teve um efeito positivo na economia e nas taxas de crescimento. Isso a princípio faz sentido, porque a agricultura precisa de mais água ao longo do ano, assim como outras indústrias. “Isso é condizente com a interpretação do abastecimento líquido de água como um bem econômico”, explica o estudo.

No entanto, quando os pesquisadores analisaram as chuvas diárias, em vez de a média anual, os resultados foram diferentes. Primeiro, porque à medida que as precipitações diárias perigosamente altas – ou “precipitações diárias extremas”, como são chamadas – se tornaram mais frequentes, as taxas de crescimento econômico foram impactadas negativamente. Novamente, isso faz sentido: chuvas extremas podem causar inundações, como as que acompanhamos em todo o mundo no ano passado, e esses transtornos desaceleram a economia. Levermann esclarece que o estudo não avaliou os impactos diretos da destruição das inundações, que também são prejudiciais, mas sim seu feito sobre a produção econômica. “É a perturbação do fluxo normal das coisas”, diz ele.

O que torna a descoberta ainda mais clara é que o crescimento econômico também desacelerou com o aumento do número de “dias úmidos”, definidos como qualquer dia com mais de 1 milímetro de chuva. “Isso é realmente pouca chuva”, diz Levermann. “Dificilmente é mensurável.” Ainda assim, aquela chuva leve pode resultar em fortes reduções nas taxas de crescimento.

“É bastante compreensível que eventos extremos de chuva perturbem nossa vida diária”, diz Levermann. “Mas o que acho surpreendente é que, se tivermos mais dias chuvosos, essa garoa normal também prejudicará nossa economia.”

Quando examinou individualmente alguns setores, o estudo descobriu que muitos dias de chuva leve desaceleraram até mesmo os setores de serviços e de manufatura. O aumento das chuvas pode causar atrasos no transporte, por exemplo, levando a adiamentos nas entregas de encomendas, ou em funcionários, que não conseguem chegar ao trabalho a tempo. Embora esses efeitos possam parecer triviais, Levermann observa que “estamos falando de porcentagens aqui, que são relevantes porque é nisso que confiamos. Consideramos que um ano foi ruim se tivermos 1% a menos de crescimento econômico.”

O que talvez seja ainda mais surpreendentemente é que os pesquisadores descobriram que o aumento dos dias chuvosos afetou sobretudo as economias mais ricas. Nossa tendência é pensar que essas economias são as mais resilientes, mas talvez porque os seus sistemas são tão automatizados e eficientes, elas deixam pouco espaço para adaptação a “pequenas pedras no sapato”, diz Levermann, acrescentando: “Costumamos confiar que desastres naturais não podem realmente perturbar os países ricos. Mas isso não é verdade.”


SOBRE O AUTOR

Talib Visram escreve para a Fast Company e é apresentador do podcast World Changing Ideas. saiba mais