Limpar o ar ajuda no combate à Covid-19 e melhora a concentração

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Às vezes, precisamos de soluções para enfrentar inimigos invisíveis.Fizemos exatamente isso para combater a cólera, garantindo que a água não fosse contaminada pelo esgoto, em Londres, na década de 1840.E também quando criamos um mercado de carbono, que foi capaz de reduzir as emissões, mesmo com ataques do ex-primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, que o chamou de “mercado fajuto”.O ar limpo é tão invisível quanto a água não contaminada, mas, em geral, não é visto como essencial.A poluição do ar resultante da queima de combustíveis fósseis mata cerca de 280 australianos por ano. Lá, a gasolina chega a conter 15 vezes mais enxofre do que a vendida em outros lugares do mundo, como nos Estados Unidos, Reino Unido, Europa, Coréia, Japão e Nova Zelândia. Por isso, o país tem metas de adotar em 2024 o padrão que a maioria dos outros segue desde 2015.Mas a má qualidade do ar traz inúmeros outros problemas.Um novo estudo com pessoas que trabalham em escritórios, realizado em seis países,  descobriu que, em ambientes com ventilação precária e níveis altos de partículas suspensas no ar, os funcionários apresentam desempenho pior ou mais lento em testes envolvendo adição, subtração e codificação de palavras.Outro estudo sobre a relação entre a qualidade do ar em um ambiente fechado e o desempenho de jogadores de xadrez apontou que, quando há uma alta concentração de partículas com diâmetro menor que 2,5 micrômetros (0,0025mm, mais conhecido como PM2,5), os jogadores ficam 26 % mais propensos a cometer erros.O estudo também demonstrou que esse efeito se agrava à medida que o tempo da jogada se esgota.Empregadores inteligentes e atentos enxergam isso. Quando o Google se mudou para uma nova sede na cidade de Mountain View, na Califórnia, foi oferecido à empresa um filtro de ar capaz de reduzir os poluentes a 0,0001 partes por bilhão. Mas o Google optou por outro, que reduzia a zero partes por bilhão, e pagou mais por ele.Já que desempenho e educação são essenciais, deveríamos olhar para o ar limpo como um investimento em produtividade, além de seu benefício inegável no sentido de conter a propagação da Covid-19.Na Austrália, um programa chamado Building the Education Revolution (Construindo a Revolução da Educação), que custou 14 bilhões de dólares australianos, foi implementado durante a crise financeira global para ajudar a combatê-la e construir milhares de salas de aula e auditórios no país.No que diz respeito ao legado, o programa foi muito bem-sucedido. Os auditórios têm sido usados para assembleias, peças teatrais e até para aconselhamento.Mas, sobretudo, foi um programa desenvolvido para conter a propagação da pandemia. Ele foi responsável por criar escolas e ambientes de trabalho nos quais as pessoas conseguem se concentrar e raramente se infectam. Isso trouxe benefícios tanto imediatos quanto de longo prazo.Muitas dessas escolas contam com janelas que podem ser abertas, assim como em muitos escritórios. Mas no inverno, e também por razões de segurança, elas costumam permanecer fechadas.

JÁ QUE O DESEMPENHO E A EDUCAÇÃO SÃO ESSENCIAIS, DEVERÍAMOS OLHAR PARA O AR LIMPO COMO UM INVESTIMENTO EM PRODUTIVIDADE.
A professora Lidia Morawska, diretora do Laboratório Internacional de Qualidade do Ar e Saúde da Universidade de Tecnologia de Queensland, explica que o ar externo normalmente contém cerca de 420 partes por milhão de dióxido de carbono.Já em ambientes fechados a presença é de algumas centenas de partes por milhão e o vírus circula suspenso no ar. Em salas e escritórios, eles chegam a viajar longas distâncias e a permanecer no ar por horas. Quando estamos expostos a uma concentração que ultrapassa mil partes por milhão (ppm), algo comum em ambientes fechados, nossa capacidade de concentração se reduz.Para combater a Covid-19 nas salas de aula, as autoridades dos estados de Victoria, Nova Gales do Sul, Queensland, Austrália Ocidental, Austrália do Sul, Tasmânia, Território da Capital e do Norte dizem que estão preparados para instalar purificadores de ar onde for necessário.O Território da Capital Australiana está reutilizando os purificadores que comprou para filtrar a fumaça dos incêndios florestais em 2020. Já o estado de Victoria deu um passo além: encomendou 51 mil purificadores da Samsung. Esses filtros operam removendo partículas ultrafinas, em vez de puxar o ar de fora.A má qualidade do ar em ambientes internos pode custar bilhões por ano aos cofres públicos. No final da década de 1990, o CSIRO (órgão australiano para pesquisa científica) estimou um custo de 12 bilhões de dólares australianos por ano. Duas décadas depois, com o novo coronavírus e a fumaça dos incêndios florestais, esse número pode ser ainda maior.Mas agora temos uma alternativa economicamente viável de tornar o invisível visível, além de aumentar nossa produtividade e expectativa de vida. Precisamos abraçar essa oportunidade.Peter Martin é membro da Crawford School of Public Policy, na Australian National University.Este artigo foi republicado do The Conversation sob a licença Creative Commons.

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