Mudança climática tornará alguns esportes ainda mais elitizados

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Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, assistimos aos esquiadores competindo quase sempre em neve artificial. Diante dessa novidade, foi difícil não pensar nas mudanças climáticas, no que isso significará para o futuro dos esportes de inverno ou em quem terá condições de praticar esses esportes.

Para manter as montanhas e encostas funcionando como pistas enquanto o planeta aquece, as estações de esqui dependem cada vez mais de grandes operações de fabricação de neve. Alguns graus de aquecimento podem significar invernos mais curtos e mais dias de chuva, em vez de neve. Isso reduz a receita das operadoras e aumenta seus custos.

Repassado ​​aos visitantes nos ingressos dos teleféricos e nos preços dos resorts, o aumento redefine diretamente quem poderá ou não passar um dia esquiando ou praticando snowboard. À medida que os custos dos resorts aumentam, esses esportes, que já são considerados caros, correm o risco de se tornar ainda mais excludentes e menos diversificados.

Nossa pesquisa envolve a sustentabilidade interseccional nos esportes, ou seja, a preocupação em garantir que eles sejam inclusivos e sustentáveis para o meio-ambiente. No caso dos resorts de esqui, considerar a sustentabilidade interseccional significa reconhecer que as mudanças climáticas podem reforçar ainda mais a falta de diversidade nos esportes e buscar, proativamente, evitar essa consequência não intencional.

ADAPTAÇÃO NECESSÁRIA, MAS CARA

Criar neve artificial para se adaptar às mudanças climáticas não sai nada barato.

Nos últimos 40 anos, o Holiday Valley, um pequeno resort em Ellicottville, Nova York, investiu mais de US$ 13 milhões em equipamentos para fabricar neve. Além disso, há os custos em energia, em mão-de-obra, tubulação e em milhares de litros de água por minuto, necessários para operar as máquinas de fazer neve. Mesmo que elas se tornem mais eficientes, o custo total ainda será significativo.

Uma análise das perspectivas encomendada pelo Blue Mountain, um resort de esqui localizado em Ontário, no Canadá, da uma ideia do futuro. Na melhor das hipóteses, se a meta do acordo climático de Paris (limitar o aquecimento do planeta a menos de 2 graus Celsius) for atingida, a temporada de esqui no Blue Mountain provavelmente diminuirá em 8% e seus esforços para fabricar neve terão que quase dobrar até 2050. A janela de clima ideal para neve seria reduzida em 22%, o que significa que o resort estaria fazendo neve sob condições menos eficientes, aumentando ainda mais a despesa. O que provavelmente refletirá no aumento de custo das passagens e da hospedagem.

Resorts menores podem ser forçados a contrair dívidas para financiar equipamentos de fabricação de neve. Já foi demonstrado que o aumento no índice de alavancagem reduz a lucratividade das estações de esqui. 

CRIAR NEVE ARTIFICIAL PARA SE ADAPTAR ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NÃO SAI NADA BARATO.

RESORTS JÁ SÃO ELITISTAS 

Os resorts de inverno já são criticados por sua falta de diversidade. Em 2019 e 2020, 69% dos visitantes que se identificaram como esquiadores e 61% dos snowboarders se descreveram como caucasianos ou brancos, de acordo com a Snowsports Industries of America. A entidadedescobriu que os participantes mais frequentes são ainda menos diversificados.

Uma pesquisa separada, conduzida pela National Ski Area Association (SIA), dos Estados Unidos, encontrou uma desigualdade ainda maior: 87,5% das visitas às estações de esqui norte-americanas na temporada foram de indivíduos caucasianos ou brancos. Apenas 1,5% eram pessoas que se identificavam como negros ou afro-americanos.

Algumas corporações de resorts, incluindo a Aspen Snowmass e a Powdr, têm se comprometido a aumentar a diversidade e a inclusão em seus espaços. A Powdr, por exemplo, tem iniciativas comunitárias dentro da campanha “Play Forever”, incluindo concessão de bolsas de estudo para ajudar as pessoas a participarem de seus acampamentos. Inclui também parceria com a Stoked, organização sem fins lucrativos que orienta jovens de comunidades carentes interessadas em esportes de prancha.

Mas na maioria dos resorts de neve há uma notável falta de esforços para promover a diversidade. Oito empresas do ramo sequer mencionam diversidade e inclusão em seus sites, ou não forneceram evidências de iniciativas nesse sentido. Os resultados sugerem que os custos crescentes com a adaptação climática tornarão impossível a muitos aspirantes a esquiadores praticar o esporte.

IDEIAS PARA PROMOVER A DIVERSIDADE 

Conforme o clima muda, as práticas de manejo também podem mudar, para manter as montanhas onde se praticam esportes de inverno mais acessíveis. Uma estratégia eficaz é a parceria com organizações comunitárias que se concentram na diversidade e na inclusão. Ao trabalhar com organizações engajadas na comunidade, a Powdr, por exemplo, se conecta a jovens desfavorecidos e pode apresentá-los ao snowboard e ao esqui.

As estações de esqui também podem se envolver diretamente com organizações sem fins lucrativos, como a Irmandade Nacional de Esquiadores, cuja missão é desenvolver e apoiar atletas negros em esportes de inverno. As redes de resorts também podem melhorar suas conexões com diversas comunidades, aumentando a diversidade na cúpula diretiva e criando cargos de liderança responsáveis ​​por iniciativas de diversidade, equidade e inclusão.

Ao incluir diversas comunidades na discussão sobre a adaptação ao clima, os resorts de esqui têm mais chances de alcançar um futuro em que os esportes de neve sejam mais acessíveis para todos.


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