Que tal uma ceia de Natal com carne de verdade, mas não de animais?

Por que não aproveitar esta época do ano para entender como nossa comida é produzida?

Crédito: Istock/ Annie Nikita/ Unsplash

Amelia Hemphill 2 minutos de leitura

E se pudéssemos acabar com o modelo agrícola tradicional: parar de matar animais, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas continuar comendo carne? Carnes e laticínios livres de crueldade com animais estão em alta e os investidores estão começando a se interessar por startups de fermentação de precisão que produzem proteínas reais sem carne animal.

Mas será que esses produtos estão destinados a um mercado extremamente restrito, ou poderão estar na ceia de Natal de todos?

Daan Luining fez parte da equipe que produziu o primeiro hambúrguer de carne cultivada em laboratório do mundo, em 2013, na Holanda. Naquela época, era considerado o hambúrguer mais caro de todos os tempos. Mas Luining estava determinado a aperfeiçoar as técnicas de agricultura celular e reduzir os custos.

“A ideia é que possamos comer carne e que os animais possam ter uma vida melhor. É como ter o melhor dos dois mundos”, diz ele.

A missão da startup holandesa de Luining, a Meatable, é fazer produtos 100% de carne real sem ferir nenhum animal no processo. A linguiça de porco é o primeiro produto que deve chegar ao mercado, em 2025. Pode soar como ficção científica, mas as técnicas para cultivar carne em laboratório são realmente muito semelhantes aos métodos de produção que já usamos há séculos.

Crédito: Meatable

“A produção de cerveja é, na verdade, agricultura celular.” explica Luining. “Você precisa de um organismo – o fermento –, que é alimentado com lúpulo e grãos para criar outro produto. E é exatamente isso que estamos fazendo.”

As carnes da Meatable são feitas com células animais cultivadas para replicar o processo natural de criação de gordura e músculo. Em seguida, as células musculares e adiposas são misturadas nas proporções encontradas em uma linguiça tradicional.

A ideia é que possamos comer carne e que os animais possam ter uma vida melhor. É como ter o melhor dos dois mundos.

O processo de produção demora três meses do início ao fim, um tempo bastante curto comparado ao da produção de carne tradicional, que leva três anos até que uma vaca cresça e possa ser abatida para alimentação.

“Não sou vegetariano, mas sei o impacto que [a produção comercial de carne] tem neste planeta e que não podemos continuar com esse ritmo e modelo de produção”, disse Luining. “Esta é basicamente uma nova revolução agrícola.”

A marca de sorvetes veganos Brave Robot está adotando uma abordagem semelhante. Os cofundadores Ryan Pandya e Perumal Gandhi levantaram US$ 300 milhões para enfrentar a indústria de laticínios e ampliar seu processo de fermentação de precisão.

“Fazemos nosso produto usando fermentação. E é realmente simples”, diz Pandya. “Temos um tanque no qual alimentamos pequenos organismos com açúcar e eles o convertem em proteína. Eles comem o açúcar. Da mesma forma que alimentamos uma vaca com grama e ela a transforma em leite.”

Estudos independentes sugerem que o processo de fermentação utiliza 45% menos energia do que a agricultura global e requer 99% menos terra. Pode ser uma grande vitória para o clima do planeta, mas será que essas empresas vão crescer com o tempo?


SOBRE A AUTORA

Amelia Hemphill é produtora audiovisual e apresentadora de podcasts da BBC e da Fast Company. saiba mais