Symbiopunk: a máquina que transforma fezes humanas em fertilizante

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 2 minutos de leitura

Cada vez que a descarga de um vaso sanitário é acionada, ela puxa de 1 a 6 litros de água. Essa água se juntará aos resíduos e fluirá através da rede de tubulações, para ser tratada e purificada. Esse processo, isoladamente, já é responsável por 3% do gasto total de energia dos Estados Unidos. E, ainda assim, 80% de toda essa água suja continua retornando ao meio ambiente. E a mistura de água com dejetos, vale acrescentar, possui alto poder poluente. 

Mas e se o seu banheiro não fosse mais um banheiro? E se você pudesse simplesmente utilizar os seus resíduos para cultivar cogumelos que são capazes de purificá-los e de devolvê-los ao solo? 

Essa foi a ideia que Rebecca Schedler tirou do papel. Durante seus estudos de pós-graduação na Design Academy Eindhoven, na Holanda, Schedler construiu o Symbiopunk, um biorreator que transforma fezes em húmus — aquela substância negra que fertiliza o solo (favor não confundir com o nome daquela pasta árabe à base de grão de bico!). Esse trabalho foi realizado em colaboração com a empresa Kildwick, especializada em banheiros compostáveis.

O funcionamento do Symbiopunk é totalmente mecânico e, portanto, não exige eletricidade. Você deposita os resíduos sólidos em um grande recipiente de cobre que compõe o Symbiopunk (o recipiente vira de cabeça para baixo e gira da esquerda para a direita, facilitando esse trabalho). Os resíduos descansam no cobre durante dois ou três dias, porque, ao longo desse tempo, as fezes aumentam de temperatura, devido aos seus micróbios ativos. Mas a superfície de cobre tem a propriedade de oferecer resfriamento, além de ser naturalmente antimicrobiana, o que ajuda a esterilizar os resíduos.

(Crédito: Rebecca Schedler)

Depois de alguns dias, os resíduos passam pelo tubo preto que fica conectado na parte inferior da engenhoca. Esse tubo é um alimentador de rosca. Girando a alça branca, o alimentador encaminha os resíduos para o grande tanque preto, enquanto também incorpora micélio (o organismo-base de um cogumelo) à mistura.

Depois de algumas semanas, os cogumelos brotam, purificando e transformando os resíduos em húmus. Assim, os dejetos humanos se transformam em um fertilizante orgânico, que pode ser incorporado ao uso cotidiano em jardins, sítios e fazendas.

(Crédito: Rebecca Schedler)

Devido à pandemia de covid-19, Schedler ainda não obteve permissão para testar fezes humanas na máquina. Por enquanto, para provar sua eficácia, ela testou o Symbiopunk com esterco de cavalo. A pesquisadora e inventora insiste que o processo fede menos do que a gente imagina. “Fiquei surpresa”, diz ela. “Na verdade, a maioria dos cheiros é resultado da introdução de dejetos na água. E a grande vantagem deste sistema é que ele não usa água.”


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais