Do local para o mundo: os passos do Spotify para ser o nº 1 do podcast

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Claudia Penteado 3 minutos de leitura

O lançamento do podcast “Os últimos dias de Maradona”, uma produção original do Spotify, representa um passo importante para a plataforma de streaming de áudio. Colocado no ar perto do aniversário da morte do craque argentino, ocorrida em 25 de novembro de 2020, o novo título chega à audiência em seis adaptações, todas estreando ao mesmo tempo. É a primeira vez que o Spotify disponibiliza no serviço um projeto desse porte simultaneamente, em diferentes línguas, para o mundo.

Produzido pelo Spotify Studios com a argentina Adonde Media, “Os últimos dias de Maradona” entrou na plataforma para os brasileiros com a narração do jornalista Juca Kfouri. Para a França e a Inglaterra, quem se encarregou de cumprir esse papel foi o ex-jogador Thierry Henry, falando nos dois idiomas. Na Itália, a narrativa coube ao ator Salvatore Esposito. Na Espanha, apesar de ser a mesma língua, o programa também foi adaptado e quem conduz a história é mais um ex-jogador de futebol, Jorge Valdano. Na Argentina, a missão coube ao jornalista Matías Martín.

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Maior serviço global de streaming de áudio, o Spotify tem mais de 381 milhões de usuários ativos em 184 mercados. Deles, mais de 172 milhões são assinantes. No podcast, seu caminho aponta que também nessa seara poderá ser o principal player global. Nos últimos três anos, a companhia tem feito um forte investimento para ser mais do que a referência no serviço de streaming de música inovador, sendo também um endereço garantido de variedade de podcasts. Hoje, são mais de 3,2 milhões de podcasts em sua plataforma. É uma expansão meteórica, considerando-se que a Apple, que oferece podcasts desde 2005, tem pouco mais de 2 milhões de programas de áudio.

Nos Estados Unidos, como mostra reportagem da Fast Company, assinada por Nicole Laporte, a liderança do setor pode oscilar entre a Apple e o Spotify, conforme a fonte de pesquisa. Estudo feito pela Edison Research, com mais de oito mil consumidores de podcast semanais no segundo trimestre, apontou que a plataforma de origem sueca foi a primeira plataforma mais utilizada para ouvir programas para 24% dos entrevistados. A Apple ficou em segundo, com 21%. O YouTube arrebatou 18%.

Dados do eMarketer, porém, indicam que, quando se trata de usuários ativos mensais nos EUA, a Apple ainda está na dianteira. No entanto, é por pouco. As estimativas da empresa sugerem que, até o final do ano, o Spotify chegará a 28,2 milhões, batendo os 28 milhões da companhia da maçã.

Já de acordo com o Podtrac, a Apple tem muito mais downloads mensais de podcast do que o Spotify. No entanto, o rápido crescimento do Spotify sugere que a plataforma está prestes a dominar o segmento, cuja expansão foi vitaminada pela pandemia: 41% dos americanos ouvem pelo menos um podcast por mês hoje. Três anos atrás, esse índice era de 25%.

CRIADORES CAMPEÕES DE POPULARIDADE

O que fazer para conquistar mais ouvintes e seguir nessa trajetória para o alto? Uma das apostas é “continuar a investir em conteúdo premium e a fazer negócios com os criadores mais populares do mundo”, respondeu para a Fast Company o diretor de conteúdo e publicidade do Spotify, Dawn Ostroff.

Recentemente, foi anunciado um acordo de exclusividade com a produtora de J.J. Abrams, a Bad Robot. O roteirista, diretor e produtor – ligado a sucessos como “Cloverfield”, “Star Trek Beyond” e “Star Wars: Episódio IX” – irá criar programas originais para o Spotify e se juntar a estrelas como Michelle Obama.

Outra estratégia é adaptar conteúdo local para o público que fala inglês. Ou mesmo para o público de outros idiomas. Isso quer dizer que a adaptação de uma produção pode trazer dividendos para a operação em outro país e, claro, aumentar a penetração do Spotify no setor no mundo. É uma visão que se assemelha à da Netflix, que vem crescendo sua base com conteúdo de diferentes regiões, vide os sucessos da espanhola “La Casa de Papel” e da sul-coreana “Round Six”.

“PACIENTE 63”

No caso do Spotify, um exemplo de que esse é um caminho promissor é a repercussão do podcast de ficção científica “Caso 63”, do Chile – que no Brasil recebeu o nome de “Paciente 63” e ganhou as vozes de Seu Jorge e Mel Lisboa. A empresa agora está preparando o programa para os EUA e para outras nações de língua inglesa e irá estrear ainda neste ano. “Não traduzimos literalmente o podcast palavra por palavra, mas fazemos mudanças para que as referências culturais sejam relevantes para qualquer mercado ou país”, contou Ostroff.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais