Ecocart quer provar que comprar online pode fazer bem ao planeta

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 6 minutos de leitura

No final do ano, é comum emergir um sentimento de solidariedade e as pessoas ficarem mais dispostas a praticar algum ato que beneficie comunidades ou indivíduos. Por que não o planeta? A ajuda para o meio ambiente pode ser feita durante uma compra online. Essa é a proposta da Ecocart, empresa que chegou ao Brasil em agosto e ainda está em seus primeiros passos por aqui, mas existe há dois anos nos Estados Unidos.

A companhia utiliza um algoritmo proprietário, desenvolvido no Vale do Silício, para a medição das emissões de carbono de toda a cadeia de consumo. Instalado no carrinho de compras do e-commercer, ao final do processo de compra de um item, ele mostra ao consumidor as emissões de carbono geradas com a aquisição daquele produto e o valor equivalente para fazer a compensação. Isso antes do pagamento. A partir daí, entra em cena a modalidade de compensação escolhida pela empresa junto à Ecocart. É possível que a loja faça a compensação, em nome do cliente, ou fica aberta a opção de a própria pessoa pagar, se quiser.

Com isso, a Ecocart pretende que as empresas com e-commerce ofereçam o consumo consciente para seus clientes ou dialoguem com seu público sobre auto-responsabilidade, promovendo uma reflexão sobre a compensação de carbonos do produto que foi parar no carrinho. “A marca apresenta ao consumidor uma informação que talvez ele não tenha”, diz Pedro Vasconcellos, head da operação do Ecocart na América Latina.

Para completar, o valor gerado e pago como compensação é destinado a projetos socioambientais certificados que o Ecocart apoia pelo mundo – a marca é quem escolhe que entidade será beneficiada dentre as que estão listadas pela companhia. Fora do Brasil, a companhia já conta com 1.500 e-commerces de diferentes segmentos e estruturas adotando o algoritmo. Por aqui, o negócio deve fechar o ano com 15 empresas. Vasconcellos afirma que estão conquistando cinco novos clientes a cada mês.

A expectativa é atingir uma base de 65 clientes em 2022. Uma das razões para essa perspectiva é a maior conscientização de corporações e indivíduos a respeito da sustentabilidade. A Ecocart se embasa em pesquisas para alimentar seus planos. O estudo “Mudanças Climáticas na Percepção dos Brasileiros”, feito pelo Ibope Inteligência a pedido do Instituto de Tecnologia e Sociedade, o ITS Rio, e de um programa sobre mudança climática da Universidade de Yale (EUA), revelou em fevereiro que 92% dos entrevistados reconhecem que o aquecimento global está acontecendo. Entretanto, somente 25% declaram ter conhecimento mais profundo sobre o tema. Há muito, portanto, a ser desenvolvido nesse sentido.

A pesquisa demonstrou ainda que 78% consideram a mudança climática como muito importante para o planeta. Além disso, 32% dos brasileiros acreditam que são as empresas os agentes que mais podem contribuir para solucionar a crise climática.

Há outro fator que pode influenciar a adoção do Ecocart no Brasil: o aumento das vendas online no país. Desde a pandemia, o e-commerce vem ampliando seu espaço e conquistando mais a confiança da população. Em 2020, o comércio online aumentou 75% em relação ao ano anterior. Outras pesquisas apontam ainda que a maioria das pessoas que nunca tinha feito compras em uma loja na web irá manter o hábito.

Vasconcellos, que atua há 15 anos com e-commerce e foi fundador do primeiro cashback do Brasil (CurtiVendi), em 2010, conta que cerca de 28% dos consumidores americanos que recebem as informações do Ecocart no carrinho efetivamente fazem a compensação. Já pelo lado dos varejistas que aderiram à proposta, a empresa reporta aumento de até 14% nas taxas de conversão.

Por aqui, ele afirma que, por ser uma operação ainda muito nova, o índice dos compradores que opta por pagar para compensar é de 15%. Com o amadurecimento do negócio no país, a expectativa é chegar a um percentual de compensações entre 20% e 25% até o final de 2022.

Pedro Vasconcellos / crédito: divulgação

Dentro da meta de ajudar o planeta, a conexão entre marca e consumidor para informar a emissão de carbono é um ponto essencial. “A gente vê empresas mexendo em suas estruturas, mas vê poucas dialogando com o consumidor. Queremos aumentar a massa crítica”, comenta o head do Ecocart na América Latina. Ele observa que o mercado de carbono trabalha com escalas. Governos e grandes empresas são os principais clientes. No entanto, a compensação individual feita no e-commerce tem enorme potencial. Em um cenário com milhares de pedidos feitos diariamente, a ação de cada consumidor ganha maior relevância.

FAZENDO CONTAS

O que se mensura, afinal, para gerar o valor da compensação? O algoritmo calcula as emissões de carbono na produção e também na entrega do item adquirido. Nessa conta entram a quantidade de produtos, o peso do que está sendo transportado, a distância e ainda se a compra tem múltiplas origens. Explica-se: digamos que tenha sido adquirido um conjunto de itens. Parte pode estar na loja e outra, no estoque, em outro endereço. Ou seja, são duas origens distintas.

No cálculo das emissões relacionadas à fabricação do produto há dois tipos de serviço: busca de informações no banco de dados do Ecocart para identificar, por exemplo, quanto, em média, uma camisa feita com uma determinada matéria-prima gera – o que é adicionado nos itens descritivos do valor final da compra – ou uma consultoria feita na operação completa do cliente. Nesse caso, são considerados os gastos energéticos envolvidos na produção. Entram no cômputo a conta de luz, o tempo de funcionamento da fábrica para resultar naquele artigo e quantos funcionários trabalham nessa produção, entre outras informações. A consultoria para fazer esse inventário da emissão de carbono, um processo complexo, é oferecida para qualquer empresa.

“O valor da compensação não gira em torno do custo do produto. O gasto será muito menor em função da distância”, exemplifica Vasconcellos. “Mas existe uma ordem de grandeza para o varejo que aponta uma média: 1,5% do valor do produto”, completa.

Diversos segmentos podem aderir à proposta do Ecocart, mas o executivo aponta as indústrias da moda e de cosméticos como potenciais clientes. Isso porque são setores que têm processos poluentes muito conhecidos pelo público. Esses mercados têm buscado soluções para diminuir o impacto ambiental de seus produtos.

A empresa tem procurado também marcas que já tenham cuidado com o planeta, o que facilita o entendimento da importância do consumo consciente. Essa medida ajuda a evitar o greenwashing.

PROJETOS BENEFICIADOS

O Ecocart apoia 25 projetos no mundo. Há programas de reflorestamento, compostagem, proteção ambiental, energias solar e eólica e água potável, entre outros. No Brasil estão três projetos. No município de Lábrea, no sul do Amazonas, está a fazenda Fortaleza Ituxi, que pretende combater o desmatamento da região, preservando 1.836 hectares de floresta amazônica no período de 30 anos. O projeto faz a redução de mais de 137 mil toneladas de dióxido de carbono por ano.

No Acre, funciona o Projeto Purus, outra entidade beneficiada pela companhia. Também atua na mitigação do desmatamento e desenvolve oportunidades econômicas sustentáveis para as famílias e as comunidades locais. Em Santa Catarina está o terceiro programa brasileiro atendido pelo Ecocart: o Compostagem Brasil. Seu foco está na reciclagem de resíduos na criação de suínos. Com isso, o programa protege o sistema de abastecimento de água na região e ainda fornece para a população local um material de baixo custo que pode ser usado como fertilizante. Esses e os demais projetos podem ser conferidos no site do Ecocart.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais