Índice mostra que marcas de moda decepcionam em práticas sustentáveis

Relatório The Business of Fashion Sustainability mostra que desempenho das empresas ficou abaixo do esperado ou piorou na edição de 2022

Crédito: François Le Nguyen/ Unsplash

Redação Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

A segunda edição do Business of Fashion Sustainability Index revela que os esforços para transformar a indústria da moda e colocá-la em sintonia com os objetivos de conter as mudanças climáticas e estabelecer práticas de negócios responsáveis até 2030 – um marco crítico para as metas globais de sustentabilidade – não ganharam impulso. 

O índice, realizado pela empresa de mídia e análise Business of Fashion (BoF), se aprofundou no desempenho das 30 maiores empresas de capital aberto do setor de moda por receita em três segmentos de mercado: luxo, roupas esportivas e high street. Mais de 200 pontos de dados foram usados ​​para avaliar cada empresa em seis categorias de impacto: transparência, emissões, água e produtos químicos, resíduos, materiais e direitos dos trabalhadores.

Com apenas oito anos para atingir as metas, os resultados estão aquém do esperado: o desempenho em quase todas as categorias de impacto piorou, enquanto o progresso que vinha sendo feito pelo grupo original de 15 empresas avaliadas no ano passado foi eclipsado pela falta de ação das que entraram este ano. Como resultado, o desempenho geral em todas as categorias, exceto emissões, piorou no índice de 2022 em comparação com o de 2021.

o desempenho geral em todas as categorias, exceto emissões, piorou no índice de 2022 em comparação com o de 2021.

“Para qualquer executivo sênior do setor de moda, isso deveria estar em primeiro lugar. O índice foi desenvolvido para orientar os executivos sobre a urgência de se adotar uma jornada rumo à sustentabilidade”, afirma Imran Amed, fundador e CEO da BoF, “Mas o tempo está se esgotando. Ainda temos que ver o tipo de impulso que precisamos para que o setor reduza seu impacto até 2030. Quem não agir perderá credibilidade com funcionários, investidores e clientes.”

Segundo o índice, nenhuma empresa obteve mais de 49 pontos de um total de100. A Puma ocupa o primeiro lugar, seguida por Kering e Levi Strauss. Os cinco desempenhos mais fracos – URBN, Skechers, Fila Holdings, Anta e HLA Group – marcaram menos de 10 pontos.

O índice fez algumas descobertas importantes sobre como o setor está se comportando nas seis categorias de impacto. São insights que podem ajudar nos próximos anos até 2030:

  • O maior progresso é em emissões, embora a pontuação média geral da categoria ainda seja de apenas 38 pontos. É a única categoria de impacto em que a pontuação aumentou em relação ao ano passado.
  • Na categoria transparência, ponto essencial e bússola que ajuda a indústria a identificar problemas e criar estratégias para abordá-los, a média geral foi de apenas 35 pontos. Só nove empresas tiveram pontuação igual ou superior a 50.
  • A média de 25 pontos em materiais reflete a adoção generalizada de materiais certificados para ter um impacto menor do que as alternativas convencionais, mas ainda precisa evoluir com esforços mais ambiciosos no sentido de reformular as cadeias de fornecimento.
  • Mais uma vez, direitos dos trabalhadores é uma das categorias com pior desempenho, com pontuação média geral de 25. Quase dois terços das empresas registram 30 pontos ou menos.

PRIORIDADES PARA UM MERCADO MAIS SUSTENTÁVEL

O índice também listou cinco prioridades para que se alcance algum tipo de progresso em 2023:

1. Regulamentação necessária: esforços para melhorar a forma como a moda opera ainda se baseiam em padrões e estruturas voluntárias. A ação do governo é necessária para levar a indústria além do estabelecimento de metas. Políticas claras e aplicáveis ​​podem impulsionar mudanças reais, incentivando a ação e gerando responsabilidade. As empresas devem começar a se preparar agora, à medida que os formuladores de políticas intensificam a supervisão do setor.

2. Além do greenwashing: o sistema de padrões autorregulados e certificações nos quais as marcas confiam para respaldar declarações de sustentabilidade está enfrentando críticas por falta de ambição, responsabilidade e transparência. É preciso evitar uma crise de credibilidade e resolver as deficiências conforme reguladores e consumidores se tornam mais críticos.

3. Práticas responsáveis de negócios: com a pandemia, muitos pedidos foram cancelados, causando sérios problemas para as cadeias produtivas e chamando a atenção para a relação de poder desigual entre empresas e fornecedores. Dois anos depois, as marcas ainda priorizam produção de baixo custo e alta velocidade acima do bem-estar dos trabalhadores. Para abordar o impacto social da moda, as empresas devem começar examinando suas próprias práticas em relação aos parceiros.

4. Rastreabilidade: a baixa visibilidade da cadeia de suprimentos atrapalha os esforços da moda para operar com mais responsabilidade, aumentando o potencial de abusos trabalhistas e complicando as tentativas de se medir o progresso em práticas sustentáveis. Tecnologias como plataformas baseadas em blockchain podem ajudar, mas precisam ser sustentadas por dados robustos coletados em toda a cadeia de suprimentos.

5. Investimento e transparência: reduzir o impacto da indústria da moda exigirá centenas de bilhões de dólares de investimento em áreas como transformação da cadeia de suprimentos e energia renovável. Há pouca indicação de que as marcas estejam preparadas para fazer os investimentos necessários. É preciso mais transparência em relação aos planos de gastos e estratégias de investimento para ampliar os experimentos e projetos-piloto em andamento.


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