O Facebook agora se chama ‘Meta’. O próximo desafio é construir o metaverso

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Durante a conferência Connect, nesta quinta-feira, o Facebook apresentou para o mundo sua concepção do metaverso, e anunciou que  agora a empresa se chamará Meta. Como Mark Zuckerberg, o CEO do Facebook explicou, Meta vem do grego e significa “ir além”. O nome já estava na lista das sugestões que surgiram na web junto com as especulações sobre a mudança.

A empresa informou que está apostando alto no que acredita ser a próxima grande tendência em computação pessoal, um espaço virtual onde as pessoas podem trabalhar, jogar, ou socializar, por meio de capacetes de Realidade Virtual (RV) ou óculos de Realidade Aumentada (RA). A expectativa é investir mais de US$ 10 bilhões nos Laboratórios de Realidade do Facebook (Facebook Reality Labs) — que de agora em diante serão conhecidos apenas como Reality Labs — a divisão responsável por coordenar os hardwares e softwares de realidade mista.

Vale observar que na segunda-feira a empresa já tinha divulgado que agora terá duas divisões: os negócios de RV e RA ficaram centrados nos Reality Labs, e há um outro segmento para as famílias de aplicativos. A companhia afirmou ainda que o número de agentes trabalhando na iniciativa já ultrapassa 10 mil pessoas.

A demonstração de ontem não apresentou muitas notícias sobre produtos específicos, mas serviu como uma visão geral de todo P&D (pesquisa e desenvolvimento) em realidade mista que está ocorrendo na Big Tech.

DENTRO DO FACEVERSO (QUER DIZER, METAVERSO)

Após um breve discurso, Zuckerberg percorreu uma série de configurações virtuais. A primeira parada foi em um espaço chamado “casa”. “Sua casa é o espaço pessoal de onde você pode se teletransportar para qualquer lugar que quiser”, disse. Sua casa apresentava uma decoração esparsa, com uma lareira e janelas que mostravam uma vegetação do lado de fora. 

O avatar de Zuckerberg parecia uma versão de desenho animado dele mesmo e então se teletransportou para uma nave espacial onde alguns de seus amigos, incluindo o chefe do Reality Labs e o futuro CTO da Meta, Andrew Bosworth, o esperavam para um jogo de cartas. O Facebook acredita que as pessoas escolherão diferentes tipos de avatares de acordo com seus gostos e se querem ou não ser anônimos. Na espaçonave, uma pessoa parecia uma imagem de vídeo de seu eu real. Outra parecia um avatar fotorrealista (e podia voar).

“Haverá todo tipo de espaço que os usuários podem criar… mas também jogos e mundos inteiros que você pode se teletransportar para dentro e para fora quando quiser”, declarou  Zuckerberg.

A maioria das pessoas imagina o metaverso como um espaço onde se pode ir a qualquer lugar e ser qualquer coisa; uma ideia que o CEO reconheceu: “Teleportar no metaverso será como clicar em um link na internet — é um padrão aberto”.

Meta pode criar um padrão aberto para permitir que qualquer usuário ou desenvolvedor conecte seu espaço virtual a outros. Mas, por enquanto, não há nenhum padrão da indústria permitindo a federação dessa ou de qualquer outra empresa como a Roblox, de modo que elas respeitem a criptomoeda uma da outra e os usuários possam se teletransportar facilmente entre os dois espaços digitais. A apresentação da Meta na quinta-feira teria sido mais no espírito do metaverso se tivesse anunciado tais parcerias.

CONEXÃO ATRAVÉS DA TECNOLOGIA 

Os casos de usabilidade e experiências mais interessantes na apresentação aconteceram em realidade mista. Eles pareciam muito mais verossímeis e humanos (e menos claustrofóbicos) do que os espaços de realidade virtual. E por causa disso, eles podem ser muito mais eficazes em dar a amigos ou familiares distantes um sentimento de união por meio da tecnologia.

Em uma apresentação, por exemplo, havia um homem jogando xadrez na rua com um amigo representado como uma espécie de imagem fantasma (presume-se que é dessa forma que os oponentes se veem com os óculos de realidade aumentada). Eles jogavam xadrez usando um tabuleiro virtual posicionado entre eles.

(Crédito: Meta)

Outras pessoas jogavam pingue-pongue e basquete de maneira semelhante em outros ambientes do mundo real. A apresentação não explica como essas imagens digitais 3D fantasmagóricas dos usuários foram criadas. Um dos grandes desafios de P&D da realidade aumentada é a criação de avatares fotorrealistas para representar visualmente os usuários no espaço virtual.  

Essas experiências de realidade mista podem ser as mais difíceis de realizar. Seriam necessários óculos RA com processadores muito potentes e muitos sensores em um acessório de tamanho comum. Michael Abrash, que lidera o desenvolvimento de óculos de realidade aumentada da Meta, diz que a empresa deve fazer descobertas científicas em uma série de áreas diferentes antes de tornar realidade esse equipamento.

Para viver essas experiências será necessário alternar os dispositivos, entre os óculos de RA (mantendo-se presente no mundo físico) e os de VR (para que o momento seja de imersão total). 

HORIZON

No Connect, Zuckerberg transitou por uma plataforma de VR chamada Horizon. A versão casa (Horizon Home) já existia, mas está sendo atualizada para permitir… festas com amigos! Quem usar os óculos Meta Quest (até então Oculus Quest) poderá convidar outros usuários para disputarem um jogo, por exemplo.

“O Horizon é uma plataforma social para as pessoas se reconectarem”, comentou o CEO. Recentemente, o nome Horizon recebeu um upgrade para Horizon Worlds. A companhia tinha criado também uma plataforma chamada Horizon Workrooms, em formato beta, para trabalho remoto. 

Zuckerberg declarou que há possibilidades de serem criados objetos dentro do Horizon, sem que estes existam de verdade, e que no futuro eles poderão ser trocados no Horizon Marketplace.

Entre games e shows e treinos de esgrima, o Zuckerberg avatar demonstrou, com entusiasmo, o que seu metaverso pode permitir futuramente, dentro de cinco a dez anos, como disse. Mas algo que ele ressaltou foi que isso não será construído sozinho. Para isso, contará com parcerias. Foi lançada uma plataforma para desenvolvedores de realidade virtual. 

AS MUDANÇAS NÃO PARAM

Zuckerberg destacou em uma carta pública que os relatórios financeiros da Meta vão passar a reportar as duas divisões de realidade virtual e mídias sociais a partir do quarto trimestre de 2021. Ações com a nova nomenclatura, MVRS, serão negociadas a partir de 1º de dezembro. 

Outra novidade é que o Oculus também mudou de nome. Após o Connect, o futuro CTO Andrew Bosworth anunciou que o produto passará a ser chamado Meta. A linha de produtos Oculus Quest se tornará Meta Quest e o Oculus App será Meta Quest App. Essas mudanças começarão a entrar em vigor no início de 2022.

POR QUE MUDAR UM NOME SIGNIFICA TANTO AGORA?

A maior parte da experiência que Zuckerberg e sua equipe mostraram na apresentação ainda não existe. Alguns dos recursos estão mais perto de estar prontos para o mercado do que outros. A realidade mista está a anos de distância. É apenas uma coincidência que o Facebook começou a falar tanto sobre o metaverso — e até mudou seu nome para Meta — no mesmo ano em que a empresa tem sido cada vez mais repreendida na imprensa e em Washington DC? Algumas pessoas acham que não.

Na carta, o CEO informou que a empresa planeja vender dispositivos a preço de custo ou subsidiado para que atinjam mais pessoas. “Nossa esperança é que, na próxima década, o metaverso alcance um bilhão de pessoas, hospede centenas de bilhões de dólares em comércio digital e ofereça empregos para milhões de criadores e desenvolvedores”.

Por tudo isso, Zuckerberg se viu diante da necessidade de mudar a companhia. Como ele também citou na carta as vezes em que se sentiu humilhado, é razoável pensar que realmente essas transformações eram necessárias pela aposta no futuro que está fazendo, e não somente como forma de tentar recuperar a desgastada imagem do Facebook diante das polêmicas que surgiram mais recentemente. 

“A mudança de nome de Facebook para Meta [é] uma tentativa flagrante de distanciar a empresa de Mark Zuckerberg da crescente indignação com o dano que está causando à democracia nos Estados Unidos e em todo o mundo”, declara Paul Barrett, vice-diretor do NYU Stern Center para empresas e direitos humanos. “Zuckerberg e seus subordinados não podem se livrar do albatroz do Facebook com um rebranding inteligente. Já passou da hora de uma autorregulamentação profunda combinada com uma supervisão governamental cuidadosamente projetada.”

Se cenários mais agressivos envolvendo a intervenção do governo americano para regulamentar o Facebook — quer dizer, a Meta — realmente acontecerem, será necessário mudar muito mais do que o nome até que sua visão do metaverso tenha uma chance de se tornar realidade.  


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