Web Summit 2021: o maior problema da web que podemos evitar e outros destaques

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 4 minutos de leitura

Tim Berners-Lee no Web Summit

O físico inglês Tim Berners-Lee, conhecido como “pai da internet”, esteve no palco do Web Summit, conferência de tecnologia e vida digital realizada durante quatro dias em Lisboa. Responsável por inventar a World Wide Web, ele entende que a internet “continua a entregar valor e liberdade para as pessoas no mundo todo”. No entanto, isso tem sido eclipsado ultimamente por consequências que Berners-Lee diz que nunca teve a intenção de causar.

Uma das perguntas que lhe fazem com constância, contou, é o que alteraria em relação a web como a criou, em 1989. Outra que tem surgido bastante é se conseguimos consertar a internet. No cerne dessas questões está o que Berners-Lee, atualmente CTO de uma empresa chamada Inrupt, aponta como o maior problema da web: a gestão de dados.

Segundo ele, apesar de a internet ter surgido como conceito de colaboração entre pessoas à distância, não foram implementadas ferramentas necessárias para lidar com a segurança de dados. Hoje, o “ganhador” é quem possuir a maior quantidade de informações. “Nossos dados estão presos em sistemas que nós, cidadãos e consumidores, não podemos controlar”, declarou. Um exemplo disso são nossas informações médicas.

Ele também apontou que, pelo lado da comunicação, não levamos em consideração a disseminação de discursos de ódio e de desinformação, outro ponto em que falhamos. Mas, na visão do físico inglês, ainda há saída para termos uma web mais saudável e segura.

Berners-Lee apostou suas fichas no protocolo Solid, que apresentou na Web Summit em 2018. Essa ferramenta reconfigura a forma como os dados são compartilhados, protegendo-os como se estivessem em uma “cápsula” (pods). Para o “pai da internet”, temos meios de colocar as pessoas no controle de seus dados de forma a permitirmos que organizações e desenvolvedores vão poder acessar nossas informações. É isso que a Inrupt pretende fazer.

HIGHLIGHTS

A conferência de Lisboa teve outros nomes importantes do mundo digital. Frances Haugen, a engenheira que agora é a pedra no sapato do Facebook, esteve lá na primeira noite, dizendo, entre outras coisas, que seria melhor que a empresa não tivesse mais Mark Zuckerberg como CEO (leia aqui).

Outra mulher brilhou no mesmo palco de Frances. Ayọ Tometi, cofundadora do movimento Black Lives Matter, arrebatou a gigantesca plateia da Web Summit, que divulgou um público formado por 42.751 pessoas vindas de 128 países.

Em sua palestra, Ayo falou sobre os primeiros dias do movimento, quando logo de imediato estabeleceu a presença digital do Black Lives Matter. “Quando comprei o BlackLivesMatter.com, quando criei a página no Facebook e as contas do Twitter e do Instagram, não sabia de quantas maneiras teríamos de usar essa plataforma desde o assassinato de Travyon Martin. Eu não sabia que muitos outros precisariam dessa plataforma. Eu não tinha ideia”, disse, referindo-se ao caso de um jovem de 17 anos morto a tiros em Sanford, Flórida, em 2012.

Ayo Tometti

Ayọ comentou os desafios que o movimento vem enfrentando na esfera digital hoje, de haters individuais a organizações que estão determinadas a atacar as campanhas do Black Lives Matter. Mas a tecnologia pode ser aliada, como apontou. Ayo assegurou que todos temos condições de usar os meios digitais para lutar pela justiça racial. “Quando as pessoas pretas lideram, quando as pessoas pretas têm vitórias, quando as vidas das pessoas pretas importam, nós criamos um mundo onde todos são vencedores”, ressaltou.

Representante das grandes companhias de tecnologia, Brad Smith, presidente e vice-presidente da Microsoft, trouxe outra temática para a conferência: as promessas de redução de carbono feitas por corporações mundo afora. A própria Microsoft tem uma meta: ser carbono zero até 2030.

Smith afirmou que promessas são boas, mas que é preciso estabelecer um caminho entre as palavras e a ação. Para isso, propõe uma nova forma de medir o carbono. De certo modo, defendeu que as empresas calculem direito quanto carbono emitem, de fato. Como gerir algo que não é plenamente sabido? “Um caminho das promessas ao progresso – é disso que o mundo precisa”, declarou.

O presidente da Microsoft ponderou que é importante retornarmos à escola. Isso porque precisamos aprender o que chamou de matemática do carbono. Em suma, é necessário calcularmos quanto as pessoas emitem diretamente, quanto carbono é gerado por meio da eletricidade, e quanto as indústrias emitem de carbono.

Além disso, é importante fazer a contabilidade desses dados. E isso significa reportar, botar os números medidos em documentos, registrar o que foi feito com tudo o que se calculou. Tudo isso com transparência. Na avaliação de Smith, ainda estamos longe de conseguir fazer esse trabalho direito.

Crédito: Sam Barnes/Web Summit via Sportsfile

MULHERES NA TECNOLOGIA

Depois de tanto tempo de isolamento provocado pela pandemia, ter sido um evento com plateia lotada foi motivo de forte celebração pelos organizadores, que seguiram os protocolos sanitários aplicados pelas autoridades de Lisboa. Mas a Web Summit destacou também outro dado desta edição. A conferência, que reuniu 748 palestrantes dos mais diferentes perfis e atraiu 1.519 startups e 70 unicórnios, divulgou que 50,5% dos participantes foram mulheres.

Foi a primeira vez, em dez anos, que elas representaram a maioria. Os números da participação feminina vêm crescendo desde 2016, quando foi lançada a iniciativa Women in Tech na conferência. Trata-se de uma plataforma que fornece um lounge para network e para conteúdo extra, como masterclasses.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais