Como um empreendedor iniciante convenceu Tim Cook a investir em seu negócio

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 5 minutos de leitura

A Nebia é uma premiada marca de chuveiros luxuosos e outros acessórios sustentáveis para banheiro. Mas tudo começou com um único e inusitado investidor: Tim Cook.

O principal produto da empresa é um chuveiro de US$ 120, produzido em parceria com a fabricante Moen e capaz de transformar a pressão da água de um hotel de beira de estrada em uma experiência digna de um spa cinco estrelas. Até o momento, os produtos da Nebia arrecadaram US$ 9 milhões na plataforma de financiamento coletivo Kickstarter e estão instalados em mais de 100 mil residências, ajudando a economizar cerca de 1,5bilhão de litros de água. O lançamento mais recente é uma toalha feita com 30% de tecidos reciclados. 

Mas, em outubro de 2014, o presidente e cofundador da Nebia, Philip Winter, tinha apenas 24 anos e era mais um jovem que acabara de se mudar para São Francisco com uma ideia na cabeça – e, no caso dele, com alguns protótipos de chuveiros na mala. Os modelos, ainda desajeitados, haviam sido construídos pelo pai de Carlos Gomez Andonaegui, outro cofundador.

Quando Andonaegui era CEO de uma rede de academias de ginástica no México, percebeu que o maior custo variável era a conta de água. Seu pai, um engenheiro aposentado na casa dos 80 anos, passou dois anos trabalhando no projeto de um chuveiro de baixo fluxo, que poderia atomizar a água em minúsculas gotículas, para parecer que a pessoa estava tomando banho em uma nuvem. Tudo isso usando 85% menos água do que de um chuveiro comum.

A ideia de criar um chuveiro luxuoso e que, ainda por cima, economiza água, era excelente na teoria. Mas Winter precisava de financiamento. Precisava de feedback do produto. E, mais que tudo, ele precisava de contatos.

Crédito: Nebia/ Divulgação

O progresso de Winter foi rápido. Dentro de um mês, ele chegou à sede do Google, onde foi convidado a testar os chuveiros para saber se as pessoas realmente iam aprovar o design exclusivo e eficiente. Ele encontrou uma academia que permitiu que fizesse testes com os clientes. O único problema era que, todos os dias, precisaria chegar à academia antes do horário de abertura, para instalar seus dois chuveiros.

Na primeira manhã, em apenas 10 minutos o chuveiro foi montado no vestiário feminino. “Estava saindo do feminino e entrando no masculino quando eis que, três metros à minha frente, sentado no supino, estava aquele figurão que logo reconheci”, conta Winter. “Pensei: ‘Caramba, é o Tim Cook!’ ”.

Bastou um milésimo de segundo para Winter se dar conta de que estava diante de uma oportunidade ímpar. Se conseguisse instalar seu chuveiro antes de Tim Cook terminar o treino, o CEO da Apple poderia experimentá-lo. Winter correu para o vestiário e começou a instalação com o coração batendo acelerado.

Quando Cook entrou no vestiário, Winter insistiu para que ele esperasse um pouco mais para testar sua criação, explicando como o design usava menos água do que os chuveiros tradicionais. “Interessante, esse é o tipo de coisa que eu gostaria de ter na minha casa. Você vai estar aqui amanhã para eu testar?”, respondeu Cook.

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Na manhã seguinte, Winter chegou ainda mais cedo para garantir que seu produto estivesse instalado. Cook entrou na academia às 5 da manhã, bem no horário de abertura. “Ele terminou o treino e eu ia acompanhá-lo até o chuveiro para dar as instruções de uso”, relembra Winter. “Só que você não vai acreditar: o chuveiro estava ocupado! Alguém já estava tomando banho nele. Eu pensei: ‘Não é possível, só pode ser braincadeira!’ ”.

Sentindo aquele otimistmo inabalável que só se atinge nos momentos de mais profundo desespero, quando Cook terminou seu banho, Winter propôs um teste para medir quanta água o chuveiro da academia estava usando em relação ao seu. Qual chuveiro consumia mais água em 30 segundos? O da academia encheu 85% de um balde. O protótipo Nebia só preenchia uns 2 cm de altura. Cook ficou impressionado e disse, de novo, que voltaria no dia seguinte para experimentar.

Quando o despertador tocou no terceiro dia, Winter não podia mais correr nenhum risco. Chegou cedo à academia e, desta vez, imprimiu um aviso de “Em manutenção” e afixou em seu chuveiro para testes. Tirou o aviso apenas quando levou Cook para o vestiário depois do treino. E, finalmente, o grande chefe da Apple testou e adorou a invenção.

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Winter concluiu seu trabalho na academia, sabendo que voltaria a entrar em contato com Cook. Duas semanas se passaram enquanto ele gerenciava a criação de um piloto no Google, um protótipo modificado com uma pequena, mas importante mudança: o aumento do tamanho da gota em 50 mícrons, o que exigia o uso de 5% a mais de água, mas fez muita diferença na experiência de uso.

Na manhã seguinte, ele voltou para a academia e instalou o chuveiro para mais um dia de testes. Mas é claro que o que queria era mostrar sua versão atualizada para Cook. “A preocupação dele era quanta água era usada. Passamos de 85% de economia de água para 80% (em comparação com um chuveiro comum)”, diz Winter. “Aprendi mais tarde que ele estava interessado nisso porque é apaixonado por sustentabilidade.”

O AUMENTO DO TAMANHO DA GOTA EM 50 MÍCRONS GASTAVA 5% A MAIS DE ÁGUA, MAS FEZ MUITA DIFERENÇA NA EXPERIÊNCIA DE USO.

De cabeça erguida, Winter explicou que estava fazendo progressos no financiamento de sua empresa, e seu pitch deck (apresentação para demonstrar um panorama geral do negócio) seria feito para uma grande empresa de investimentos naquela semana. Neste momento, Winter e Gomez Andonaegui estavam pendurados em seus cartões de crédito pessoais e nem tinham uma conta bancária corporativa. A resposta de Cook a essas notícias – vinda de um empresário conhecido por não ter nenhuma grande carteira de investimentos públicos – surpreendeu Winter. 

“Ele ficou dizendo, ‘Ei, espere! Você tem que ter cuidado ao arrecadar dinheiro. Há muita gente que se envolve só para ganhar um dinheirinho rápido. Tudo o que importa é o ROI (sigla para Return on Investment, métrica usada para saber quanto a empresa ganhou com os investimentos feitos) ‘ ”, lembra Winter. “‘Precisa procurar pessoas que invistam porque acreditam em você, porque acreditam no produto e te deixam fazer o que quer’”

“Eu não podia acreditar no que estava ouvindo, então dei um passo para trás para processar o que ele estava dizendo”, continua Winter. “E perguntei: ‘Você faz investimento em empresas iniciantes?’ Ele respondeu: ‘É claro, é só me mandar os papeis.'”


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais