Feira de eletrônicos divide atenções com indústria pornô em Las Vegas

Crédito: Fast Company Brasil

Chris Morris 4 minutos de leitura

Já se passaram 11 anos desde que os mundos da eletrônica e da pornografia dividiram os mesmos holofotes em Las Vegas. Mas, em 2023, essa dupla improvável estará reunida novamente.

A Adult Entertainment Expo 2023 acontecerá no Resorts World Casino de 4 a 7 de janeiro, o que significa que a maior convenção da indústria pornográfica norte-americana será realizada novamente na mesma semana da Consumer Electronics Show (CES), a grande feira anual que lança novos produtos e tecnologias do setor de eletrônicos de consumo (prevista para 5 a 8 de janeiro). O curioso é que este é apenas o capítulo mais recente de uma emaranhada saga envolvendo essas duas indústrias, que mantêm um relacionamento inusitado há décadas.

Do início dos anos 1980 até 1997, a CES tinha uma seção de software adulto, na qual empresas e artistas de entretenimento adulto exibiam seus produtos. Cansada de ficar escondida nos estandes dos fundos, a indústria pornô lançou seu próprio evento autônomo em 1998, apoiada por Paul Fishbein, fundador da revista AVN. A nova convenção teve grande sucesso, beneficiando-se do tráfego de pessoas que já estavam na cidade para a CES.

Os dois eventos coexistiram por uma década e meia. De um lado, os participantes da CES se esgueiravam para ver suas estrelas adultas favoritas. Do outro, os representantes do mundo pornô, cada vez mais high-tech, davam uma espiada básica no que estava por vir em termos de possíveis veículos de entrega do seu conteúdo. Em 2012, porém, a Adult Entertainment Expo alterou sua data e mudou de local, do Sands Convention Center para o Hard Rock Hotel (que, ironicamente, agora se chama Virgin Hotels Las Vegas).

MAIS ESPAÇO, MAIS PÚBLICO

A mudança de data barateou os quartos de hotel para os fãs das estrelas adultas e eliminou a batalha para encontrar espaço disponível e acessível na cidade. Como a AEE passou a ocorrer em conjunto com a Shot Show, uma feira de tiro e caça, ainda havia uma grande audiência masculina em comum para atrair.

Mas, em 2023, a AEE vai se mudar para o Resorts World, localizado a menos de 1,6 quilômetro da CES, no Las Vegas Convention Center, o que aumentará a área de cobertura em 9 km². Esse espaço extra permitirá que a convenção não apenas hospede mais estandes e de tamanho maior, como também espalhar melhor as atrações, para reduzir o risco de transmissão de Covid-19.

A PORNOGRAFIA É, MUITAS VEZES, UM IMPULSIONADOR DE NOVAS TECNOLOGIAS.

A exposição, normalmente, recebe entre 25 mil e 30 mil visitantes, mas as autoridades esperam que o número aumente aproximadamente 30% em 2023, dadas as multidões muito maiores que estarão por lá por conta da CES.

Ambos os eventos evoluíram separadamente, em seu próprio ritmo. Hoje em dia, a AEE é menos um encontro de mega estúdios, e muito mais uma vitrine para câmeras ao vivo e serviços sob demanda. Grandes nomes como Vivid, Digital Playground e Wicked foram substituídos por MyFreeCams, Pornhub e Gamma Entertainment.

Enquanto isso, nos últimos dez anos a CES abriu as portas para empresas de novidades adultas e tecnologia com temas sexuais, com a participação de algumas empresas de produtos de prazer, como a OhMyBod. A feira de eletrônicos realmente começou a abraçar essa categoria em 2020, depois de o polêmico Prêmio de Inovação ser dado à empresa de brinquedos sexuais Lora DiCarlo.

Essa conjunção pode tornar a semana especialmente frenética para algumas empresas de novidades para adultos, já que a AEE, mais uma vez, sediará a Adult Novelty Expo, uma vitrine B2B onde os compradores de varejistas especializados nesses produtos examinam as ofertas mais recentes. Como a AEE e a CES têm bases de participantes diferentes, as empresas inovadoras podem ser forçadas a escolher um evento em vez de outro – ou hospedar dois estandes separados.

DEPENDÊNCIA MÚTUA

CES e AEE podem até formar uma dupla estranha, mas uma indústria depende da outra, à sua maneira. A pornografia é, muitas vezes, um impulsionador de novas tecnologias. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando o VHS e o Beta disputavam a hegemonia na sala de estar dos consumidores, a indústria adulta era um grande fator de desempate.

A introdução de videocassetes em residências provou ser uma era de ouro para as empresas pornográficas, pois os consumidores não precisavam ser vistos entrando em cinemas decadentes ou sofrendo para assistir curtas-metragens de 8 mm. Os estúdios adultos escolheram o VHS como meio de entrega, pois era mais barato e oferecia tempo de gravação mais longo.

Essa escolha, reza a lenda, inclinou a balança a favor desse formato, em detrimento do Betamax. Anos depois, as empresas pornográficas lideraram a produção de vídeos na internet, embora também tenham aberto as portas para a pirataria desenfreada que passou a ameaçar seu sustento.

Coincidência ou não, a indústria também virou as costas para outras tecnologias elogiadas, como 3D e HD-DVDs, que nunca chegaram a conquistar um público fiel.  


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais