Moedas e ativos digitais: a bolha chegou ao fim?

Estamos no "Vale da Desilusão", que é quando se começa a separar o que é "espuma" dos projetos que trarão a maturidade da tecnologia

Crédito: Istock

Leonardo Toco 3 minutos de leitura

Tenho visto diversos projetos com blockchain sendo cancelados. Mas será que web3, crypto, blockchain irão afundar?

Casos recentes provocaram sobressaltos no mercado.  A CNN, uma das maiores empresas de mídia no planeta, encerrou seu projeto Vault NFT, criado em 2021. O mercado de tokens não fungíveis, proposto pela empresa como um experimento para seis semanas, alavancou um sistema de Web 3.0 em larga escala, impulsionado pela demanda cada vez maior por NFTs. Quem investiu milhares de dólares nos colecionáveis digitais vinculados a notícias importantes, lógico, reclamou.

E não parou por aí. Na Austrália, uma corretora cancelou um projeto de blockchain para seguir trabalhando com Cobol – sim, o bom e velho Cobol, uma linguagem bem antiga e que, possivelmente, consideraram mais segura.

É natural que os investidores estejam se perguntando se esse mercado tem futuro.

Lógico que, neste contexto, também deve-se considerar o impacto provocado pelo colapso da corretora de criptomoedas FTX. No início de novembro, a empresa, avaliada em US$ 32 bilhões, entrou com um pedido de falência. 

A partir daí, o que se viu foi uma história tão cheia de viradas que já há plataformas de streaming interessadas em transformá-la em série de TV. Além do evidente problema de liquidez, surgiram indícios de fraudes nas operações da FTX, que incluem, por exemplo, o uso do dinheiro dos clientes em esquemas "por baixo dos panos" envolvendo tokens de outras empresas.

É natural que os investidores estejam se perguntando: esse mercado tem futuro?

SEPARANDO O JOIO DO TRIGO

De cara, é importante deixar claro que as novas tecnologias e soluções têm, sim, potencial para crescer e para se estabilizar. Mas o momento poderia ser definido como um "freio de arrumação".

Nos últimos meses, vimos um barulho exagerado em relação ao que estava acontecendo no mercado. Falou-se muito das maravilhas de blockchains, NFTs etc., apresentando um admirável mundo novo sem um certo balanceamento dos prós e contras.

Um prisma que gosto muito de utilizar para avaliar o que irá acontecer é o Gartner Hype Cycle – uma representação gráfica dos estágios pelos quais todas as tecnologias passam.

Se plotarmos o blockchain e, sobretudo, os seus mais novos desdobramentos – como, por exemplo, os NFTS –, me parece que estamos no “vale da desilusão” (que acontece exatamente após o hype, ou seja, após o pico das expectativas infladas). Um momento em que os projetos não alcançam os resultados esperados e o público geral perde o interesse. 

Gartner Hype Cycle

Isso pode parecer ruim, mas é muito bom, porque é justamente quando se começa a separar o que era “espuma” e não tinha potencial de vingar (e aí entram os aproveitadores de plantão) dos projetos sérios e que trarão a maturidade da tecnologia.

Em um de seus relatórios, a empresa destaca que "os caras maus conseguem experimentar novas tecnologias mais cedo e mais rápido do que os caras bons" e considera que haverá uma natural acomodação das coisas.

é importante deixar claro que as novas tecnologias e soluções têm, sim, potencial para crescer e para se estabilizar.

Creio que, neste segmento, chegou a hora em que se separa o joio do trigo e em que haverá uma depuração orgânica do mercado. Vamos começar a ver casos de uso mais robusto de web3, blockchain e NFT e, em contrapartida, nos deparar menos com aproveitadores e pilantras.

Repito: isso acontece com todas as tecnologias ou inovações disruptivas. Faça um exercício mental sobre inteligência artificial,segmento no qual a própria IBM reconheceu enormes problemas e falhas no badalado Watson, que não entregou o esperado. Ou sobre carros sem motorista que ainda hoje são muito mais teoria do que prática.

Você vai ver que este ciclo que parece novo, com web3, blockchain e NFT, na verdade não tem nada de surpreendente. Tudo vai passar. É só não se desesperar e apostar todo o seu dinheiro em algo que naturalmente tem ciclos de alta e baixa e que precisam de uma boa depuração e choque de realidade.


SOBRE O AUTOR

Leonardo Toco é CTO da startup Whom e especialista em transformação digital pelo Massachussetts Institute of Technology (MIT). saiba mais