Por que o Alibaba foi fatiado e o que isso tem a ver com o governo chinês

O CEO Daniel Zhang sugeriu em uma carta aos funcionários que a reestruturação surpresa é um marco para a empresa

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Clint Rainey 3 minutos de leitura

O Alibaba, maior empresa de comércio eletrônico da China, anunciou que dividirá seus negócios em seis grupos, uma reestruturação radical raramente vista no país.

A mudança deve trazer um certo alívio para a holding depois de dois anos difíceis de embates com reguladores, já que terá seis braços de atuação independentes, em vez de um. Ao mesmo tempo, permite que cada unidade se concentre na otimização de suas operações e na captação de recursos.

A empresa descreveu a decisão como a reforma “mais significativa” de sua história. Os seis novos grupos serão:

  • nuvem
  • mídia
  • logística
  • serviços locais
  • comércio digital
  • e-commerce

O grupo Alibaba ficará com esta última unidade para si; os sites de compras online Taobao e Tmall são suas duas maiores fontes de receita. As outras cinco escolherão novos CEOs e conselhos, e poderão levantar fundos e fazer ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) “quando estiverem prontas”.

O CEO Daniel Zhang sugeriu em uma carta aos funcionários que a reestruturação surpresa é um marco para a empresa: “Após 24 anos de operação, o Alibaba está abraçando uma nova oportunidade de crescimento”.

PRESSÃO DO GOVERNO

Imediatamente após a divulgação da notícia, analistas começaram a especular se essa divisão dos negócios poderia servir de modelo para qualquer outra organização em apuros do setor. Pequim passou dois anos, a pedido do presidente Xi Jinping, perseguindo as empresas de tecnologia da China como nenhuma outra indústria. A repressão resultou em uma queda de cerca de US$ 500 bilhões em seu valor de mercado.

Nesse período, os reguladores impediram o IPO do braço fintech do Alibaba, o Ant Group. Depois, multaram o grupo em um valor recorde de US$ 2,8 bilhões por “comportamento monopolista”. A Didi – maior empresa de transporte privado na China – também enfrentou represálias regulatórias sem precedentes após decidir abrir seu capital contra a vontade de Pequim.

Além disso, houve a perseguição contra a Tencent, que teve início em abril do ano passado, quando os usuários do WeChat protestaram contra o lockdown em Xangai.

Pequim descobriu que os censores da plataforma não estavam excluindo postagens críticas às políticas oficiais contra a Covid-19 com rapidez suficiente. Desde então, a empresa foi forçada a abrir mão de ativos e instruída a reformular seus negócios financeiros, fazendo com que o preço das ações caísse pela metade do valor de 2021. 

Enquanto isso, os EUA passaram a desconfiar ainda mais das intenções dessas empresas, o que contribuiu ainda mais para a queda. O governo norte-americano incluiu as plataformas Tencent e Alibaba à sua lista de Mercados Notórios em Falsificação e Pirataria e, mais recentemente, aumentou a pressão sobre o TikTok, de propriedade da chinesa ByteDance.

O REAPARECIMENTO DE JACK MA

Coincidentemente, a reestruturação do Alibaba ocorre um dia após seu fundador, Jack Ma, reaparecer. Ele sumiu de vista em 2021, depois de fazer um discurso em Hong Kong criticando o que chamou de "interferência contínua de Pequim nos negócios".

A repressão do governo resultou em queda de US$ 500 bilhões no valor de mercado das empresas de tecnologia da China.

Seu paradeiro foi motivo de intriga, teorias da conspiração e assédio de paparazzi. Durante este período, Ma se afastou do Alibaba e do Ant Group. Rumores davam conta de que ele estava abandonando a tecnologia e se aventurando na sustentabilidade.

Ainda assim, o Alibaba desempenha um papel fundamental no crescente cenário tecnológico da China. O Alipay é a maior plataforma de pagamento digital do mundo e o Tmall é o terceiro site mais visitado.

Além disso, o Ant Group opera a quinta maior empresa de inteligência artificial, uma das maiores empresas de capital de risco e o segundo maior grupo de serviços financeiros do planeta.

O retorno de Ma sugere que o governo o vê como uma figura valiosa para ajudar a restaurar a confiança no setor empresarial privado da China. O Alibaba, supostamente, teria apresentado seu plano de reestruturação aos reguladores chineses antes do anúncio da cisão em seis grupos separados, e eles teriam dado “feedback positivo”.


SOBRE O AUTOR

Clint Rainey é jornalista investigativo, mora em NYC e é colaborador da Fast Company. saiba mais