Sem dinheiro para uma viagem ao espaço? Experimente um passeio de balão pela estratosfera

Crédito: Cookelma/ Mblach/ Envato

Susan Karlin 4 minutos de leitura

Desde as primeiras missões espaciais, os astronautas têm o privilégio de poder ver de fora o planeta em que vivemos.Isso é algo que os muda completamente.

Em 2024, duas empresas – a Space Perspective, startup na Costa Espacial da Flórida, e a World View, empresa de balões de grande altitude do Arizona – esperam levar essa experiência transcendental a mais pessoas por meio de um passeio de balão pela estratosfera, uma camada da atmosfera ainda bastante longe do espaço, mas acima da altitude atingida por voos comerciais.

Por um valor entre US$ 50 mil e US$ 125 mil, turistas poderão vagar lentamente a uma altura de 30 quilômetros e ver a curvatura da Terra, a escuridão do espaço e estrelas que brilham mais nitidamente através da atmosfera mais fina.

Ambas esperam que essa experiência desperte uma maior consciência ambiental e humanitária.

“Quando astronautas vão ao espaço, não veem apenas uma bela vista da Terra; eles se conectam profundamente com nosso planeta e com a humanidade”, explica a CEO da Space Perspective, Jane Poynter, que administra a empresa com seu marido, Taber MacCallum. “Quando voltam, se envolvem em causas sociais e ambientais”. 

Com projeções de que o mercado de turismo espacial crescerá em centenas de milhões, se não bilhões, de dólares ao longo da próxima década, a Space Perspective e a World View estão explorando o desejo cada vez maior de experiências espaciais.

Já que uma viagem de balão não apresenta os mesmos riscos nem exige o treinamento e a resistência física que um astronauta precisa, ela pode ser feita por idosos, pessoas com deficiência ou com problemas de saúde. E os passageiros ainda podem desfrutar de drinks durante o passeio.

Grand Canyon visto da estratosfera (Crédito: World View/ Divulgação)

VISÕES SEMELHANTES

Tanto a Space Perspective quanto a World View usam balões de aproximadamente 200 metros de comprimento amarrados a cápsulas pressurizadas e climatizadas, de quatro a cinco metros de diâmetro, com janelas que oferecem uma vista de 360 graus.

O interior das cabines é equipado com poltronas móveis e ergonômicas para oito passageiros; além de bar e serviço de catering, telescópios, wi-fi e telas de videoconferência para se comunicar com as pessoas na Terra, displays de informações e, claro, banheiros.

Os voos deverão durar cerca de seis horas, com uma subida de duas horas que começa antes do amanhecer, para atingir a altitude ideal a tempo de ver o nascer do Sol, e permanecerão flutuando por duas horas, antes da descida. Futuramente, os voos poderão ser mais longos e alcançar maior altitude.

Ambas desejam transmitir uma mensagem voltada para a proteção ambiental, alinhando-se a iniciativas ecológicas e reciclando seus balões, de uso único.

A Space Perspective está compensando suas emissões comprando créditos de carbono através da Cool Effect, uma organização sem fins lucrativos de redução de carbono. A World View está fazendo parceria com a One Tree Planted e destinando parte de seus balões reciclados para estufas que cultivam novas árvores.

DIFERENTES TECNOLOGIAS

Quando se trata de decolagem e aterrissagem, as abordagens técnicas das duas empresas divergem completamente.

A cápsula Neptune, da Space Perspective, usará hidrogênio para decolar do Centro Espacial Kennedy e cair suavemente no oceano Atlântico ou no golfo do México, dependendo da época do ano. Os balões ficarão presos, liberando gás lentamente para aterrissar na água. Um navio levará os tripulantes de volta.

O Explorer, da World View, usará hélio para decolar de um espaçoporto perto do Grand Canyon. Depois que a nave chegar de volta à troposfera, desprenderá o balão e usará paraquedas direcionáveis, chamados “parafoils”, para retornar à plataforma de lançamento, enquanto uma equipe recupera o balão. Ambos terão paraquedas de reserva para emergências.

A EXPERIÊNCIA DO PASSAGEIRO

Essa transformação existencial não acontece sem um empurrãozinho. Por isso, as empresas buscam oferecer diversos serviços de hospitalidade para contribuir para uma nova perspectiva e enriquecer a experiência.

Embora ambas ofereçam pacotes sob medida, a Space Perspective, que cobra US$ 125 mil pelos voos, está estudando serviços e atividades mais personalizadas durante o “pré-voo”, como curso de fotografia que ensina como capturar a luz na estratosfera.

Por US$ 50 mil, a World View quer primeiro oferecer aos viajantes experiências na Terra, com caminhadas e visitas, para que tenham uma visão mais rica lá de cima. “Queremos enriquecer a viagem garantindo que eles reconheçam e se conectem mais com o que estão vendo”, explica Hartman.

Para avaliar como um voo de balão se compara a uma viagem ao espaço, a Fast Company pediu a Chris Sembroski – engenheiro aeroespacial que integrou a primeira missão do Inspiration4 no ano passado – que contasse sua experiência. Embora tenha chegado a uma altitude de quase 600 quilômetros, ele acredita que 30 quilômetros causem o mesmo efeito, oferecendo uma vista igualmente abrangente da estratosfera e luz intensa.

“Quanto mais alto, menor a vida na Terra fica. Mas, com isso, se torna mais importante”, diz ele. “Ver a linha que divide a atmosfera e o vácuo do espaço e perceber que há um número finito de recursos que sustentam a vida nos faz querer cuidar melhor dela. Voltei querendo que mais pessoas sentissem isso.”


SOBRE A AUTORA

Susan Karlin é colaboradora da Fast Company e cobre ciência espacial e veículos autônomos. Já trabalhou para The New York Times, NPR, ... saiba mais