Supercondutor LK-99: uma revolução na eletrônica ou só mais uma bola fora?

Este é um possível avanço revolucionário na física, o que tem despertado tanto entusiasmo quanto ceticismo

Crédito: ktsimage/ iStock

Chris Morris 5 minutos de leitura

O LK-99 tem o potencial de mudar o mundo. Ou talvez simplesmente seja mais uma das muitas novidades que causam agitação na internet, mas que, no fim das contas, não atendem às expectativas.

Declarações de cientistas sobre o material – um possível supercondutor que funciona em temperatura ambiente e pressão atmosférica normal – despertaram grande interesse em comunidades online como Hacker News, X e Reddit.

Se você está curioso sobre esta que pode ser a maior descoberta científica dos últimos 75 anos – ou apenas uma farsa –, a seguir apresento um guia sobre o LK-99.

1. O que é o LK-99?

Cientistas da Coreia do Sul publicaram um artigo no qual afirmam ter sintetizado um material supercondutor que funciona em temperatura ambiente. Ele foi chamado de LK-99 (em homenagem aos autores do artigo, Sukbae Lee e Ji-Hoon Kim, que trabalham no projeto desde 1999) e é composto por uma combinação de chumbo, fósforo e cobre.

Os pesquisadores afirmam que o material é um supercondutor, com base em como ele reage à exposição a campos magnéticos.

2. Como ele poderia revolucionar a eletrônica?

Se o LK-99 realmente tiver as propriedades descritas, ele poderia dar início a uma nova era na eletrônica e ter um

Criar supercondutores que funcionam em temperatura ambiente têm sido um dos principais objetivos da ciência há décadas.

impacto positivo na crise climática. A eletricidade poderia ser conduzida sem resistência, reduzindo significativamente as emissões de gases de efeito estufa e tornando a transmissão de energia solar e eólica a longas distâncias muito mais viável.

Além disso, poderia levar ao desenvolvimento de dispositivos dignos de ficção científica, como computadores quânticos e trens que flutuam. Em suma, poderia revolucionar o mundo da eletrônica e abrir novos horizontes para a inovação.

3. O material foi cientificamente comprovado?

Ainda não. Os artigos não foram revisados por pares, o que automaticamente deixa os cientistas céticos. Entretanto, muitos pesquisadores estão tentando replicar os resultados em laboratório.

Uma equipe na China afirmou ter sintetizado o material, o que gerou uma nova onda de entusiasmo, mas, novamente, esses resultados não foram revisados por pares. O usuário do Twitter Andrew McCalip, que trabalha com construção de cápsulas espaciais, chamou a atenção ao transmitir suas tentativas de replicar a experiência ao vivo nas redes sociais.

Ao que tudo indica, ele parece estar se aproximando dos resultados, embora alerte os usuários para não criar expectativas excessivas: “lembrando que esta primeira tentativa PROVAVELMENTE NÃO DARÁ CERTO... o primeiro passo da replicação é demonstrar que somente seguindo a receita à risca será possível sintetizar o material com a composição correta.”

Físicos também estão alertando para não depositar muita confiança nessas tentativas transmitidas ao vivo de replicar o material.

“Uma das minhas primeiras impressões sobre o LK-99 é que o público em geral parece estranhamente empolgado com o quão ‘fácil’ é replicar o material em pequena escala, com poucas etapas e em apenas quatro dias. Aposto que a maioria de vocês nunca teve bolhas nas mãos de tanto usar um pilão”, tuitou Jennifer Fowlie, física de matéria condensada no Laboratório Acelerador SLAC.

4. Por que o ceticismo em relação ao LK-99?

O velho ditado que diz “se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é” vem à mente. Criar supercondutores que funcionam em temperatura ambiente têm sido um dos principais objetivos da ciência há décadas.

Os artigos não foram revisados por pares, mas pesquisadores estão tentando replicar os resultados em laboratório.

Assim, apenas afirmar tê-lo descoberto é motivo para ceticismo, especialmente quando não houve revisão por pares – e quando os autores do artigo não são muito conhecidos em sua área.

Além disso, os artigos são escassos em detalhes e os pesquisadores não responderam quando procurados por diversas revistas científicas. Os dados foram classificados como “imprecisos”.

Michael Normal, teórico do Laboratório Nacional Argonne, disse à revista “Science: “esses cientistas parecem bastante inexperientes. Não sabem muito sobre supercondutividade e a maneira como apresentaram alguns dos dados é suspeita.”

Mesmo que o LK-99 acabe sendo de fato a descoberta revolucionária que todos estão esperando, Sidney Perkowitz, professor emérito de física na Universidade Emory, diz que provavelmente levaria anos até que possa ser aplicado comercialmente.

RESULTADOS NEGATIVOS

Esta semana, pesquisadores do Centro de Teoria da Matéria Condensada (CMTC) da Universidade de Maryland também lançaram dúvidas sobre a teoria de um supercondutor em temperatura ambiente.

"Com grande tristeza, agora acreditamos que o jogo acabou," a equipe escreveu no X/ Twitter. "O LK-99 NÃO é um supercondutor, nem mesmo em temperaturas ambiente (ou em temperaturas muito baixas). É um material de resistência muito alta, de baixa qualidade. Ponto final. Não há sentido em lutar contra a verdade." 

A Universidade Nacional de Taiwan (NTU) também afirmou que não conseguiu replicar os resultados do experimento, observando que o material criado por seus pesquisadores apresentava algumas propriedades diamagnéticas, mas não mostrava qualidade de zero resistência ou supercondutividade. 

O próprio Andrew McCalip, ao enviar o resultado de seus experimentos para o US Material Consortium, teorizou que serão necessárias dezenas de iterações no processo de replicação para chegar a uma conclusão definitiva. Ele apontou ainda que o método magnético que muitos amadores têm utilizado "parece ter muitos falsos positivos para ser totalmente confiável." 

Os pesquisadores não abandonaram totalmente as esperanças em relação ao LK-99. A NTU planeja continuar seus experimentos. No entanto, as pessoas que esperam ver computadores quânticos pessoais, trens magnéticos e um sistema de distribuição de eletricidade reformulado que poderia reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa vão ter que esperar mais um pouco.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais