5 perguntas para Carine Roos, da Newa

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Claudia Penteado 4 minutos de leitura

Carine Roos é jornalista, socióloga e CEO da Newa, empresa de impacto social que atua no desenvolvimento de organizações em D&I por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Ela já impactou mais de 15 mil pessoas por meio de vivências em salas de aula e foi mentora de mais de duas mil mulheres. Nesta entrevista à Fast Company Brasil ela fala sobre ambientes de trabalho seguros, sobre escuta, paz de espírito, paciência, persistência e humildade. 

O que é inovação para você?

Inovação não é apenas um ambiente de diversidade em termos de pessoas com realidades, backgrounds e histórias diferentes, mas quando elas realmente podem ser quem são em um ambiente psicologicamente seguro. Ao se permitir tal atitude, as pessoas trazem a sua essência para o negócio. É aí que a inovação acontece.

Ter um clima de acolhimento, respeito, diversidade, pluralidade e onde as pessoas tenham consciência dos seus vieses é fundamental para que todos consigam dar o seu melhor, e é onde de fato se consegue atingir a alta performance.

Qual a sua visão sobre ESG?

Acredito que as empresas estão iniciando uma jornada de consciência em relação a ter práticas socialmente responsáveis e ambientalmente corretas, que levem transparência à governança corporativa e à prestação de contas em relação a toda a sua cadeia produtiva. Entendo que existem diferentes estágios e maturidade de consciência sobre essas práticas.

Inovação não é apenas ter diversidade, mas que as pessoas realmente possam ser quem são em um ambiente psicologicamente seguro.

Muitas empresas violam os direitos humanos quando impactam negativamente o ambiente, a natureza. Quando não olham, por exemplo, para os seus colaboradores e para o seu desenvolvimento integral. Quando não criam metas e não praticam a diversidade e inclusão, ou quando deixam de criar planos claros de carreiras para que as pessoas consigam se desenvolver da base ao topo.

Tudo isso tem a ver com ESG, e observo que as empresas estão engatinhando nessa jornada. Não tenho dúvidas de que esse é um caminho sem volta. Não só porque temos discutido sobre isso cada vez mais, mas porque a sociedade está cobrando e exigindo que as empresas sejam ambiental e socialmente responsáveis.

Um exemplo claro disso é que agora a B3 [a bolsa de valores do Brasil] possivelmente vai criar regras para que as empresas listadas tenham pelo menos uma mulher no conselho e uma pessoa de grupo minorizado.

Qual a habilidade fundamental para exercer a liderança nos dias de hoje?

Escuta e humildade para reconhecer que você não sabe tudo e que está tudo bem. Ser uma liderança vulnerável no sentido de acolher a diferença, de ser humilde por entender que não tem, nem precisa ter, todas as respostas. Mas que, acima de tudo, apesar de não ter determinados conhecimentos, corre atrás e busca seus próprios meios para se desenvolver. Existe um processo de autoconhecimento muito importante pelo qual as lideranças precisam passar.

No meu ver, a liderança do futuro é aquela que é compassiva no sentido de que, ao mesmo tempo em que é objetiva em relação às metas e resultados, ela também acolhe, escuta, leva em consideração o time e tem uma dimensão humana importante. Entendo que essa é a liderança do futuro. Em relação à habilidade, eu pontuaria mais do que uma: ser assertivo, compassivo, ter humildade e saber ouvir.

O que é qualidade de vida para você?

É quando você tem paz de espírito, quando vê propósito e impacto naquilo que faz, quando vê que o seu time está engajado, feliz, se sente incluído e pertencente à organização. Não tem como termos uma liderança que não busca o autoconhecimento e a gestão de suas emoções, que não olha para si para conseguir entregar o seu melhor para o time.

Há um processo de autoconhecimento muito importante pelo qual as lideranças precisam passar.

Então, para mim, qualidade de vida é quando você tem uma visão de futuro e um propósito no qual consiga ver um impacto em outro nível. Não apenas dentro da organização, mas na sociedade como um todo, para essas gerações e para as próximas, sem deixar de olhar para as suas necessidades e para as do seu time.

Qual o melhor conselho que já recebeu na vida?

Paciência, persistência e humildade. Paciência porque as coisas não acontecem na expectativa que você busca, ou seja, as frustrações e o sofrimento fazem parte da vida. Persistência porque, quando você tem clareza de onde quer chegar, busca esse resultado mesmo que a jornada não seja fácil. E humildade para reconhecer que somos apenas um grãozinho de areia num vasto universo.

Reconhecer nossa insignificância no sentido do autocentramento é importante para nossa jornada espiritual, então a humildade é uma competência muito importante de ser desenvolvida também. 


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais