Acredite se quiser: design do toca-discos é melhor que o do iPod

O design dos toca-discos continua evoluindo há 165 anos

Crédito: DaVinciAudio/ Phaidon

Nate Berg 4 minutos de leitura

Se houvesse uma competição entre dispositivos de áudio, o toca-discos seria o grande vencedor. Enquanto o toca-fitas, o CD player e o iPod basicamente surgiram e sumiram, o toca-discos se mantém há 165 anos em meio aos avanços tecnológicos. Um novo livro acompanha essa longa e contínua jornada, analisando como diferentes mecanismos, mercados e materiais moldaram o design dos toca-discos desde o século 19 até os dias de hoje.

Revolution: The History of Turntable Design” (Revolução: A História do Design dos Toca-Discos), é uma pesquisa ricamente documentada com fotografias da história deste aparelho de som. Escrito por Gideon Schwartz, que também comanda a empresa de equipamentos de áudio de alta qualidade Audioarts, em Nova York, o livro acompanha as mudanças e melhorias feitas ao longo do tempo nos toca-discos.

Fonógrafo Victor 6, da Victor, começo dos anos 1900 (Crédito: Tesouros Musicais de Miami/ Phaidon)

É uma evolução notável para uma tecnologia que não mudou muito em décadas. “Embora tenha havido mudanças substanciais no toca-discos, no braço de tom e no design do cartucho, o conceito é essencialmente o mesmo”, explica Schwartz. “A tecnologia fundamental ainda está lá.”

Gramofone portátil, da C. H. Gilbert & Co, 1920 (Crédito: breker.com/ Phaidon)

Schwartz escreveu anteriormente um livro sobre a história dos equipamentos de áudio de alta fidelidade, “Hi-Fi: The History of High-End Audio Design” (Hi-Fi: A História do Design dos Equipamentos de Áudio de Alta Fidelidade). É uma obsessão que ele tem desde a infância, quando memorizava os componentes e os números do modelo de toca-discos. “Sou o primeiro a admitir que sou um idiota bastante letrado no assunto”, diz ele.

Rádio e gravador Silverstone, da Sears, Roebuck & Co., 1938 (Crédito: Lion and Unicorn/ Phaidon)

Conforme o livro narra a história, fica cada vez mais claro nas imagens que os toca-discos seguem os designs da época, desde os cilindros dos fonógrafos criados por Thomas Edison no final dos anos 1800 até os aparelhos arredondados e futuristas da década de 1970.

“Se você olhar para os anos 1930 e 1940, havia uma forte influência Art Déco no design dos toca-discos”, diz ele. “Muitos deles não eram apenas aparelhos de som, eram belos móveis.” Um dos toca-discos destacados no livro é também uma cristaleira espelhada.

Console estéreo Majestic, da Grundig, 1956 (Crédito: Bluff St Props/ Phaidon)

Para Schwartz, o toca-discos atingiu seu auge na década de 1950, quando passou a adotar um design minimalista. Com tamanhos mais compactos e materiais mais variados, eles se tornaram produtos de moda para o lar.

Toca-discos Beogram, de Jacob Jensen, 1972 (recriado em edição limitada pela Bang & Olufsen em 2020) Crédito: Bang & Olufsen/ Phaidon

Um dos designs mais famosos é o Braun SK 4, desenvolvido por Dieter Rams, um toca-discos minimalista com tampa de acrílico produzido em meados da década de 1950, que ficou conhecido popularmente como “caixão da Branca de Neve”.

“Os designs de Dieter Rams eram inéditos para a época”, diz Schwartz. Ele vê muitas dessas influências nos toca-discos das décadas seguintes. “As linhas limpas e a funcionalidade verdadeiramente simples que ele defendia são vistas em muitos projetos hoje”, acrescenta.

Crédito: Andy Armstrong/Flickr

Os anos 60 trouxeram uma enxurrada de equipamentos portáteis de 45 rpm de baixo custo. Os anos 70 e 80 viram a criação de toca-discos de alta fidelidade, junto com o surgimento de clássicos, como o Technics SL-1200, que continua sendo o favorito dos DJs ao redor do mundo. Até hoje, os designers desafiam os limites. 

Toca-discos SL-1200, da Technics, 1972 (Crédito: REHIFI.SE/ Phaidon)

A empresa dinamarquesa Bergmann produz uma variedade de toca-discos com acabamento em ouro. Já a canadense Kronos fabrica aparelhos de som que se parecem com robôs. E também há os toca-discos Reference, que têm bases individuais para o prato, motor e controles, e vários braços de tom diferentes para ouvintes mais exigentes. Ao todo, esses aparelhos podem pesar centenas de quilos.

Base de toca-discos e braço de tom T3, da Goldmund, 1982 (Crédito: Goldmund/ Phaidon)

Os toca-discos Reference estão entre os favoritos de Schwartz, tanto pelo design quanto pela qualidade do som. Entre os outros estão o Garrard, com um design simples pós-guerra, o industrial EMT, e o elegante Linn LP-12, todos os quais Schwartz possui.

Toca-discos Ascana, da Acoustic Signtaure, 2020 (Crédito: Acoustic Signature/ Phaidon)

Mas será que existe alguma preciosidade que ele ainda não tem e está procurando? “Essa é uma pergunta difícil, porque tenho muitos toca-discos. É hora de me livrar de algum”, diz ele. “A pergunta é: qual deles?”

Não há candidatos possíveis. Schwartz diz que a variedade dos designs é uma parte importante do apelo. Cada um desses equipamentos analógicos é feito, desenvolvido e funciona de uma determinada maneira. “Se eu colocar o mesmo LP em cada um deles, eles produzirão um som único. E é isso que eu amo neles.”


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais