Arquitetos criam prédio “à prova de pássaros”

Crédito: Fast Company Brasil

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Chicago pode ser conhecida por seus arranha-céus e pelo estilo de pizza de prato fundo, mas a cidade também fica em uma das principais rotas migratórias de pássaros da América do Norte, tornando-se um ótimo local para observadores.

Um desses pontos de observação fica no extremo sudeste da cidade, onde um novo edifício celebra a história e a ecologia da região e educa os visitantes sobre a vida selvagem. Localizado junto ao Lago Calumet, o Centro Ambiental Ford Calumet foi construído para as pessoas, mas também para as 200 espécies de aves que vivem nas proximidades e para milhões de aves que sobrevoam a região durante o período de migração

Todos os anos, entre 100 milhões e 1 bilhão de aves morrem após colidir com edifícios, especialmente aqueles com grandes extensões de vidro, porque os pássaros não conseguem enxergar materiais transparentes. Para remediar esse problema, o centro ostenta uma fachada opaca com janelas recuadas, para as quais os pássaros não podem voar, além de iluminação mínima, para evitar que eles se confundam, e de persianas inteligentes, que se abrem para cima para bloquear a visão das janelas de vidro para quem olha para o prédio por cima.

Créditos: Tom Harris/cortesia do Valerio Dewalt Train

Projetado pelo escritório de arquitetura Valerio Dewalt Train Associates (VDTA), com sede em Chicago, o centro fica na entrada de um parque de 113 hectares chamado Big Marsh. Antigamente uma área úmida natural, o local foi contaminado por resíduos de siderúrgicas próximas que foram fechadas e demolidas há mais de 30 anos. Em 2016, o Brownfield (tipo de projeto arquitetônico realizado para agregar valor a algo que já existe) resultou em um parque verdejante, que inclui área para ciclismo de 16 hectares, além de muitas trilhas para caminhada e vastos habitats de vida selvagem.

Em meio a tudo isso, o Centro Ambiental Ford Calumet faz jus ao seu nome. Por exemplo, o edifício de US$ 7,8 milhões inclui o primeiro sistema de áreas úmidas de águas residuais de Chicago, que processa a água contaminada do centro e transfere água limpa de volta ao ecossistema. “Este edifício foi feito para reabilitar uma paisagem devastada pelas indústrias do século 20”, diz Joe Valerio, diretor fundador da VDTA. Mas um dos maiores testemunhos de como o edifício pensa no meio-ambiente como um todo é a série de proteções que ele inclui para os pássaros.

A região de Calumet é uma importante parada de descanso para aves migratórias ao longo da rota do Mississippi, então a fachada do edifício não poderia apresentar grandes extensões de vidro; os pássaros podiam colidir na paisagem refletida. Os arquitetos revestiram o prédio com uma tela de chuva opaca feita de aço desgastado (uma homenagem à história industrial do local) e mantiveram o paisagismo ao redor do prédio baixo, para evitar que os pássaros fizessem ninhos perto dele. “Nós tentamos o nosso melhor para eliminar qualquer coisa que atraísse os pássaros para o prédio,”, diz Alexander Raynor, arquiteto e gerente de projetos da VDTA.

O envelope de aço é pontuado por várias janelas que permitem a entrada de luz natural. Mas mesmo essas janelas são protegidas por telas de metal perfuradas que podem dobrar para cima e formar um toldo. Quando estão fechadas, a luz natural ainda pode ser filtrada no espaço através das perfurações. Quando estão abertos, os toldos bloqueiam a visão do vidro para os pássaros que voam acima dele. As telas ficam abertas principalmente durante o dia, exceto durante as estações migratórias, na primavera e no outono, quando são mantidas fechadas o dia todo.

Encaixadas no topo do edifício, duas estruturas ocas de madeira afunilam ainda mais luz do dia para o interior, com grandes janelas recuadas a 60 centímetros da parede externa. Essas janelas vêm com um padrão frisado que quebra a superfície reflexiva e evita ainda mais colisões de pássaros. Enquanto isso, a natureza recuada das janelas serve como mais uma barreira visual para as aves

Em sintonia com a iniciativa Lights Out de Chicago, que incentiva os proprietários de edifícios a reduzir a quantidade total de luz emitida à noite, a iluminação externa foi reduzida ao mínimo: sem iluminação ascendente, sem luzes decorativas – apenas uma luz na saída, dois postes iluminados indicando a entrada, e três sinalizações que devem ser acesas pela prefeitura. 

Qquando o prédio fecha, à noite, todas as luzes são apagadas completamente, para não incomodar os pássaros. É um recurso simples, mas significativo, no qual outras cidades devem se inspirar.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais