Biblioteca Memorial Martin Luther King é o edifício do ano de 2021

Crédito: Fast Company Brasil

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

O edifício eleito como destaque do ano de 2021 nos EUA… é uma biblioteca que foi construída em 1972.

Todos os anos, nos últimos 10 anos, o World-Architects, um grupo que defende a qualidade na arquitetura, pede ao público que escolha seu edifício favorito. Em uma das edições, os curadores procuraram destacar um edifício de cada estado dos EUA; no outro ano, eles se concentraram em arquitetos americanos que trabalham no exterior e em arquitetos estrangeiros construindo nos EUA.

(Crédito: Trent Bell/cortesia World-Architects) 

Cerca de 5.000 pessoas votaram durante todo o mês de janeiro. A Biblioteca Memorial Martin Luther King Jr., em Washington, D.C., ficou em primeiro lugar, com mais de 20% dos votos. Projetada por Ludwig Mies van der Rohe (que comumente atendia pelo apelido “Mies”), um dos maiores arquitetos do século 20, a biblioteca de 1972 renasceu no final de 2020 como um centro de aprendizado contemporâneo. Foram acrescentados um novo jardim público na cobertura, um auditório de 300 lugares e um conjunto de espaços comunitários. Essa é a prova de que edifícios de 50 anos podem ser redesenhados para atender aos requisitos do público do século XXI.

O prédio antes da reforma (Crédito: Mecanoo/cortesia World-Architects) 

O prédio da biblioteca foi reformado pelo escritório de arquitetura holandês Mecanoo, que projetou várias bibliotecas nos últimos 25 anos, incluindo a biblioteca coberta de grama da Delft University of Technology, na Holanda, e a recente renovação da filial de Mid-Manhattan da New York Public Library. O prédio de 1972 era a única biblioteca projetada por Mies (e, na verdade, seu único prédio em Washington, D.C.). Como resultado, a distinta fachada de vidro preto e de aço – um elemento semelhante que pode ser visto no mais famoso edifício Seagram, também de Mies, em Manhattan – foi mantida intacta. Mas o interior foi completamente atualizado para um uso mais moderno.

(Crédito: Robert Benson/cortesia World-Architects) 

Trabalhando em colaboração com a OTJ Architects, a Mecanoo ativou a biblioteca outrora passiva, originalmente projetada para as pessoas se sentarem e lerem, com uma série de espaços de exposição e performance, um laboratório de experimentações e duas escadas sinuosas que levam até um novo quinto piso. “Não se trata apenas de restauração ou renovação; trata-se de trazer nova vida a edifícios que antes serviram a um propósito, mas que precisam ser transformados para continuar servindo suas comunidades”, afirmaram os arquitetos da Mecanoo em comunicado.

(Crédito: Robert Benson/cortesia World-Architects) 

Essa biblioteca reinventada é um excelente exemplo de uma remodelação cuidadosa, mas todo o concurso estava repleto de exemplos de usos criativos para edifícios antigos. Os vice-campeões incluem uma cooperativa de alimentos em Fayetteville, Arkansas, que abriu no outono passado dentro de uma antiga mercearia que estava vazia há anos; e o histórico edifício James Farley Post Office em Manhattan, completamente transformado pela Skidmore, Owings & Merrill no muito divulgado Moynihan Train Hall, inaugurado em janeiro de 2021. Todos os projetos da competição foram selecionados a partir da coluna “Edifício da Semana” que a World-Architects Magazine apresentou ao longo do ano. (No entanto, nem todos os projetos foram necessariamente concluídos em 2021; a World-Architects apresentou vários edifícios que foram lançados no ano ou dois antes, como a Biblioteca Memorial Martin Luther King Jr.).

(Crédito: Trent Bell/cortesia World-Architects) 

Nem a reutilização adaptativa nem a renovação são novidades no mundo da arquitetura, mas essas duas práticas vêm ganhando mais reconhecimento à medida que a indústria da construção busca maneiras de reduzir sua pegada de carbono. “O contexto atual das mudanças climáticas significa que quase todos os edifícios, dentro do possível, devem ser considerados para reutilização ou renovação adaptativa”, diz o arquiteto John Hill, editor-chefe da World-Architects Magazine e curador do “Building of the Week” dos EUA. 

(Crédito: Robert Benson/cortesia World-Architects) 

Nos Estados Unidos, os edifícios geram quase 40% das emissões globais anuais de CO2. E se é verdade que os novos edifícios podem ser projetados com uma pegada de carbono menor, também é preciso considerar que 11% da pegada de carbono de um edifício vem de qualquer CO₂ criado durante a fabricação de novos materiais, o transporte desses materiais e durante a própria construção. Quando os arquitetos optam por adaptar os edifícios já existentes, muitas dessas emissões de carbono podem ser poupadas. Como Hill diz: “Seria ótimo se essa pesquisa e se o concurso ‘Edifício do Ano’ contribuíssem para incentivar arquitetos e clientes a considerar a reutilização adaptativa e a renovação, antes de pensar em uma nova construção”.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais