Designers transformam em móveis patinetes jogados no lixo

Crédito: Fast Company Brasil

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Nos canais da cidade de Malmö, na Suécia, podemos encontrar todos os tipos de esquisitices. Assim como muitas hidrovias urbanas, eles são repletos de carrinhos de compras, bicicletas e patinetes elétricos abandonados há anos. Para a maioria das pessoas, são apenas lixo. Mas, para um grupo de designers, é um baú de tesouro.

Em parceria com o estúdio de design Andra Formen (ou “segunda forma”, em sueco), mergulhadores se aventuraram nas águas desses canais e retiraram cerca de 20 patinetes, a maioria deles descartados perto da estação ferroviária central da cidade. Eles os desmontaram, criando um kit de peças para construir móveis únicos. A coleção completa conta com lâmpadas, vaso hidropônico, cadeira e até uma grande churrasqueira. Tudo feito com peças retiradas dos patinetes, como guidões, colunas de direção e calotas, de marcas como Tier, Lime e Voi.

Crédito : Andra Formen/ Divulgação

As empresas de patinetes elétricos, em grande parte, posicionam seus produtos como ecológicos, devido ao tipo de energia que utilizam. Também porque funcionam como um sistema de compartilhamento entre usuários via aluguel pelo aplicativo, que oferece alternativas de mobilidade e ajuda a reduzir a quantidade de carros no trânsito.

Por outro lado, também geraram uma consequência inesperada: seus patinetes são frequentemente vandalizados e descartados. Eles acabam nas redes fluviais das grandes cidades, por exemplo, no rio Willamette, em Portland; no lago Merritt, em Oakland; e nos canais de Malmö. Suas baterias de lítio intoxicam e poluem esses corpos d’água.

Há cerca de um ano, um jornal local de Malmö publicou um artigo afirmando que haviam mais de 200 patinetes elétricos no fundo dos canais da cidade. “Em alguns podia até se observar cracas”, conta Christian Svensson, que fundou a Andra Formen com outros três designers.

Após um rápido enxágue, a equipe desmontou cada patinete – uma tarefa difícil pois, segundo Svensson, os parafusos estavam bastante enferrujados. Então, buscaram inspiração em cada uma das partes. “Tentamos nos manter fiéis ao que eram”, diz Oskar Olsson, que projetou muitas das luminárias de mesa. “Alguns têm amassados e arranhões, mas contam uma história sobre a vida que tinham antes.”

Os designers usaram impressão 3D para conectar alguns componentes, mas tentaram ao máximo reutilizar as peças do patinete. Para a luminária de mesa, Olsson utilizou uma calota como base e um guidão como haste e cúpula. Para a luminária de chão, Jingbei Zheng usou uma bateria descarregada – a parte mais pesada do patinete – para dar sustentação.

Para fazer a cadeira, Peder Nilsson combinou ao todo sete patinetes: as pernas são feitas de dois guidões Bolt e dois Tier; o assento e o encosto são feitos das bases dos patinetes. O conjunto foi montado com peças e conectores retirados dos patinetes Voi. “É um quebra-cabeça, na verdade”, diz Nilsson.

O estúdio está vendendo todos os móveis da coleção em seu site (os preços variam de US$ 200 a US$ 800 e os mergulhadores responsáveis por resgatar os patinetes recebem uma parte).

Por mais que seja difícil fazer uma operação que requer tantas peças e tanto trabalho em larga escala, essa coleção nos lembra que, com um pouco de engenhosidade, podemos reaproveitar tudo e transformar em algo útil. “Queríamos mostrar que é realmente possível transformar e dar nova vida aos objetos”, diz Svensson. “Nem tudo precisa acabar no lixo.”


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais