Diga do que você gosta e a IA faz uma playlist personalizada

O PlaylistAI usa a tecnologia OpenAI para criar uma playlist sob medida

Crédito: Freepik/ iStock

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Quando eu era pequena, gravava muitas fitas cassete com as músicas de que mais gostava. Mais tarde, passei a baixá-las no Limewire (o extinto software de pirataria que agora está de volta como um mercado de NFT) e gravá-las em CDs.

Anos depois, surgiram os serviços de streaming de música, como iTunes, Spotify, Deezer e Youtube Music – cada um deles com suas próprias curadorias, oferecendo diversas playlists geradas por algoritmos que presumem conhecer nossos gostos.

Mas tudo isso agora é coisa do passado com o lançamento do PlaylistAI, um novo aplicativo que utiliza a tecnologia OpenAI para criar playlists de acordo com o queremos ouvir. Basta vincular o aplicativo ao Spotify ou Apple Music e inserir um prompt (comando) – por exemplo, “músicas semelhantes às da Lady Gaga”, “músicas famosas dos anos 80” ou “músicas para ouvir em um dia chuvoso, tipo Bon Iver” – e ele apresenta uma lista de artistas que você pode selecionar ou remover. Ao final, ele transfere tudo automaticamente para o seu aplicativo de música.

Crédito: Playlist AI

Nos últimos anos, surgiram inúmeros geradores de playlists, tanto plataformas quanto aplicativos web. Alguns deles se baseiam no humor do usuário, outros no gosto musical e há ainda aqueles que apelam para as nossas habilidades de DJ. Não é nenhuma surpresa que a próxima geração destas ferramentas utilize os algoritmos da OpenAI.

Muitas pessoas já usam inteligência artificial para buscar ideias de design de interiores, criar artes e até redigir contratos. Na maioria das vezes, a IA facilita em muito nossas vidas – e este também é o caso do PlaylistAI. Mas o que realmente o diferencia de outros geradores é a possibilidade criar suas próprias listas, com uma leve ajuda da IA.

SAINDO DA BOLHA

“Navegar pelas playlists no Spotify é como ver o feed em uma rede social, onde os algoritmos nos entregam aquilo que pensamos desejar”, explica Brett Bauman, que desenvolveu o aplicativo.

O objetivo é buscar formas de criar playlists que permitam descobrir novas músicas e artistas.

A maioria das plataformas de streaming de música faz recomendações com base no que acredita ser o gosto do usuário. O Spotify, em particular, usa o histórico de reproduções para determinar que faixa recomendar a seguir, o que cria um ciclo infinito com as mesmas músicas e artistas.

O PlaylistAI, por outro lado, foi projetado para que o usuário tenha algum nível de controle – na medida do possível, já que a ideia é terceirizar a função para um algoritmo. “O objetivo é buscar formas de criar playlists que permitam descobrir novas músicas e artistas que não são necessariamente os mais famosos”, diz Bauman.

Até o momento, já criei 19 playlists, cada uma para ocasiões muito específicas, como escrever um artigo longo (“músicas para escrever, de artistas como Emel, Le Trio Joubran, Belle e Sebastian”); receber amigos para um jantar (“jantar em casa, músicas semelhantes a de artistas como Regina Spektor, Anais Mitchell”); escrever coisas pessoais (“músicas introspectivas, como Armand Amar, Ibrahim Maalouf); e... músicas para cantar no chuveiro (“maiores sucessos, clássicos do rock”).

INTERATIVIDADE

O aplicativo funciona melhor quando você escreve informações mais específicas. Com um gênero definido ou o tipo de artista, a inteligência artificial consegue produzir um resultado mais preciso. “Quanto mais detalhado [o prompt], melhor”, afirma Bauman.

Muitas pessoas já usam inteligência artificial para buscar ideias de design de interiores, criar artes e até redigir contratos.

Da mesma forma que acontece com qualquer tecnologia de IA que funciona a partir de um comando, a qualidade do resultado depende da instrução que foi passada. Quando digitei “músicas clássicas”, ela me recomendou “Für Elise”, uma das composições mais famosas de Beethoven. Mas quando especifiquei “músicas clássicas da era do romantismo, como Schubert, Chopin, Liszt”, o resultado foi certeiro.

Por enquanto, a experiência do usuário é bem básica. A versão mais recente permite editar o prompt se estiver insatisfeito com os resultados enquanto eles ainda estão no aplicativo. Mas, depois que a lista for finalizada e transferida para o Spotify, não é possível voltar e alterá-la.

Em algum momento, no entanto, Bauman quer usar o GPT-3 para tornar o processo muito mais interativo, para que os usuários possam pedir ao aplicativo para “deixar a playlist mais dançante” ou “remover tal artista”. 

Depois de usá-lo por mais de uma semana, ficou claro que eu poderia simplesmente continuar a ouvir minhas próprias playlists, que montei, música por música, ao longo de vários anos. Mas a possibilidade de criar a trilha sonora da minha vida em menos de um minuto me fez retornar ao PlaylistAI.

Ele permite, inclusive, limitar o número de músicas de um mesmo artista, para que a lista não acabe com cinco músicas do ABBA, por exemplo. Mas, pensando bem, que mal isso faria?


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais