Este arquiteto quer suspender um prédio no ar. Não é tão impossível quanto parece

Crédito: Fast Company Brasil

Nate Berg 3 minutos de leitura

Acima do chão de qualquer cidade flutua um recurso inexplorado. Esse espaço aéreo – o vazio acima do nível da rua e entre os prédios – é, por várias razões práticas, inutilizado. Mas uma proposta de design surpreendente e apoiada pela ciência sugere que esse vazio não precisa ser desperdiçado. O espaço aéreo das ruas poderia ser transformado em um tipo inteiramente novo de plano de construção.

Batizado de Oversky, o projeto propõe uma série de estruturas semiflutuantes que poderiam preencher espaços aéreos não utilizados. Com base na mesma tecnologia que permite que os zepelins flutuem, essas estruturas modulares se combinariam no ar em um aglomerado de salas ocupáveis, conectadas a edifícios adjacentes ou a outras estruturas fixas, para permitir o acesso.

Desenvolvido pelo estúdio de pesquisa e design Framlab, o projeto é uma tentativa de mostrar como o vazio urbano a dezenas de metros acima da rua pode ser reimaginado. “Os espaços em branco no alto das cidades servem como um novo tipo de espaço público”, diz Andreas Tjeldflaat, do Framlab.

Créditos: Framlab/ Divulgação

Tjeldflaat o descreve como um sistema de infraestrutura especulativo baseado em tecnologias comprovadas, incluindo o uso de células de fibra de carbono fechadas de hélio (inerte e mais leve que o ar), permitindo que os módulos mantenham uma estrutura rígida e pairem como pequenas aeronaves inflamáveis.

Combinados em encaixes como os do jogo Tetris, esses módulos flutuantes podem funcionar como salas individuais, escritórios ou vitrines suspensas. “Passagens suspensas permitem que os módulos se conectem às fachadas de edifícios adjacentes”, explica Tjeldflaat.

O conceito não é apenas uma extravagância arquitetônica no céu. Ele também pode ser uma nova ferramenta na luta urbana contra as mudanças climáticas. Um problema generalizado que as cidades ao redor do mundo enfrentam é conhecido como efeito de ilha de calor. Edifícios densos e ruas pavimentadas absorvem e retêm mais calor do que terrenos não urbanizados ou naturais, tornando as cidades mais quentes e levando ao aumento do uso de condicionadores de ar e das emissões que eles produzem.

Os módulos propostos no projeto Oversky criariam microclimas sombreados, que refletem a luz solar e a radiação, refletindo no céu o que seria absorvido pela superfície densa do ambiente construído. Por meio do que Tjeldflaat chama de engenharia nanofotônica, os módulos apresentariam “uma estrutura de material semelhante à espuma, com bolsões de ar em nanoescala”, capaz de irradiar calor para fora da atmosfera enquanto resfria o espaço abaixo, ao fazer sombra.

As árvores, é claro, fornecem esse tipo de sombra de maneira bastante eficaz, mas o Oversky pretende criar espaços de sombra ainda maiores e mais eficientes. As representações iniciais que Tjeldflaat fez desse conceito mostram que ele cobre apenas uma parte do espaço entre os edifícios, de modo a não barrar completamente a passagem do sol para pedestres e moradores.

Exibido recentemente em uma exposição sobre arquitetura e mudanças climáticas no museu de arte Bildmuseet, na Suécia, o projeto sugere uma alternativa audaciosa às atuais formas altamente poluentes de ar-condicionado. Um ar-condicionado convencional descarrega uma quantidade significativa de calor, bem como compostos de hidrofluorcarbono poluentes, “exacerbando o problema que procura mitigar”, explica Tjeldflaat.

Ele observa que a maioria dos aparelhos de ar-condicionado usados nas cidades depende de energia produzida por combustíveis fósseis, um problema que deve piorar. “Estima-se que a demanda global por resfriamento exigirá um aumento de três vezes no uso de energia até 2050”, prevê.

O Oversky é uma solução ainda teórica. Mas Tjeldflaat argumenta que, mesmo que esses módulos flutuantes não cheguem tão cedo aos espaços aéreos urbanos, os materiais e conceitos por trás da ideia já poderiam ser implementados hoje em projetos mais realistas: “Os painéis dos nossos módulos certamente podem ser empregado por conta própria, como parte de projetos de construção e infraestrutura mais convencionais”.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais