Filtro feito com musgo é capaz de capturar microplásticos da água

Batizado de MustGo, o projeto do filtro de musgo acaba de vencer o Biodesign Challenge Summit deste ano

Crédito: Universidade dos Andes/ Rawpixel.com/ Mihály Köles/ Unsplash

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

No alto da Cordilheira dos Andes, a mais de 3,6 mil metros acima do nível do mar, encontramos um dos ecossistemas mais singulares do mundo. Conhecido como Páramo, ele é responsável por 70% da água doce da Colômbia. Em parte, graças às espécies de musgo que retêm a umidade da chuva, da névoa e do degelo de geleiras, a armazena no solo e a libera gradualmente para as planícies.

Após ser liberada pelo musgo, a água está tão limpa que é considerada segura para beber por cerca de 40 milhões de pessoas na Colômbia, Peru, Bolívia e Equador. Mas o musgo é capaz de filtrar muito mais do que sujeira e impurezas: também pode filtrar microplásticos.

Créditos das fotos: Universidade dos Andes

No início de 2022, um grupo de estudantes de design da Universidade dos Andes, em Bogotá, visitou Páramo como parte do curso de mestrado em biodesign. Inspirados pelas propriedades do musgo, projetaram um filtro capaz de reter cerca de 80 gramas de microplásticos da água da torneira – o equivalente a 16 cartões de crédito.

Batizado de MustGo, o projeto acaba de vencer o Biodesign Challenge Summit deste ano. Ainda em seus estágios iniciais, o conceito é parecido com outros projetados sobretudo para filtrar microplásticos, mas utiliza materiais naturais.

“[O musgo] é um organismo tão pequeno e faz tanto pelo ecossistema”, explica María Paula Osorio, estudante da Universidade dos Andes que desenvolveu o projeto com David Julian Oviedo.

O musgo esfagno, o mesmo que é utilizado no MustGo, cresce apenas em lugares frescos e úmidos. Mas, nas condições certas, é fácil de cultivar, pode suportar temperaturas abaixo de zero, absorver 40 vezes do seu peso em água e servir como um poderoso filtro.

“Sabemos o quão incrível é esse organismo e queríamos construir algo que fizesse a diferença”, conta. Após muita pesquisa, os estudantes se depararam com um estudo da Universidade César Vallejo, no Peru, sugerindo que o musgo é capaz de filtrar microplásticos. Assim, encontraram sua missão.

Com o aumento da produção de plástico após a Segunda Guerra Mundial, bilhões de toneladas de resíduos se acumularam no meio ambiente. Os microplásticos, em particular, agora podem ser encontrados em todos os lugares, na neve do Ártico, no sal de cozinha, na água da torneira e até mesmo nos nossos pulmões.

Um estudo de 2017 realizado pela organização sem fins lucrativos Orb aponta que 94% da água da torneira nos Estados Unidos está contaminada com microplásticos. Ainda não sabemos exatamente como eles afetam nossa saúde, mas os cientistas acreditam que é motivo de preocupação. É aí que entra o filtro MustGo.

O produto é composto por duas partes principais: um filtro cilíndrico e estriado, feito de 280 gramas de musgo seco, e uma hélice de aço inoxidável. A membrana porosa do musgo seco absorve e retém microplásticos enquanto filtra a água.

Sua hélice foi inspirada no parafuso de Arquimedes, que ajuda a transferir um líquido do ponto A para o ponto B. Ele gira a água com rapidez suficiente para que os microplásticos se desprendam e sejam absorvidos pelo filtro.

Ele foi projetado para ser usado por comunidades vulneráveis e pode ser acoplado a uma torneira ou mangueira. A equipe ainda não construiu um protótipo funcional, mas prevê que o cilindro de musgo terá que ser trocado a cada dois meses.

No final de seu ciclo de vida, o filtro não poderá ser reciclado por causa dos microplásticos incorporados em sua membrana. Assim, os alunos idealizaram uma rede de locais de entrega onde poderão ser coletados e transformados em um novo tipo de material bioplástico, enquanto a hélice de aço inoxidável poderá ser reutilizada em um novo filtro.

“Uma das coisas mais importantes para nós é dar um destino para o produto após seu ciclo de vida”, diz Osorio. “Precisamos dos aliados certos para transformá-lo em um material útil.”

Pode levar anos até que o produto veja a luz do dia, mas o MustGo prova, mais uma vez, que a solução para muitos dos nossos desafios já existe na natureza. Tudo o que precisamos fazer é aproveitá-la.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais