Estudantes criam estufa que gera 50% mais energia do que consome

Crédito: Fast Company Brasil

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Quando as estufas se popularizaram, lá no século 19, elas revolucionaram a forma como as plantas e os produtos agrícolas eram cultivados. Hoje, o fato de que as estufas podem manter temperaturas constantes durante todo o ano faz com que sejam muito adotadas em climas mais severos. Mas é justamente aí que mora o problema: para funcionar, as estufas precisam consumir muita energia. Uma saída para esse impasse seria, é claro, se elas pudessem ser movidas a energia solar.  

Créditos: Adrià Goula/ IAAC/ Agência Pati Nunez

Pois na cidade de Barcelona, no Parque Natural Sierra de Collserola, ​​um grupo de estudantes de arquitetura construiu recentemente um protótipo de estufa solar que produz sua própria energia e cultiva alimentos de forma autossuficiente. Construída com madeira de pinho proveniente da própria região, a estrutura de 12 metros quadrados fica em um pequeno terreno ao lado do Valldura Labs, um centro de pesquisa especializado em habitats autossuficientes. Embora essa estufa esteja localizada na natureza, o mesmo conceito pode ser replicado em telhados de cidades e em campos de refugiados, lugares onde é mais difícil de atender a necessidades básicas, como comida e energia.

Essa estufa experimental foi desenvolvida durante um programa de mestrado do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha (IAAC). Liderados pelos arquitetos Vicente Guallart e Daniel Ibáñez, os alunos moraram no campus durante um ano e em apenas dois meses construíram a estrutura de dois andares.

Em 2014, Guallart escreveu um livro chamado “A cidade autossuficiente”. Na época, ele trabalhava como arquiteto-chefe de Barcelona e já ​ defendia que os edifícios deveriam ser mais produtivos e que deveríamos produzir alimentos e energia localmente. De muitas maneiras, essa estufa é uma concretização da filosofia de Guallard.

A estrutura é distribuída em dois andares: as plantas germinam no de baixo e continuam a crescer no de cima. Um telhado de vidro inclinado ajuda a capturar a luz do sol durante o dia, enquanto a luz de LED e de UV ajuda a produzir alface, tomate e berinjela durante a noite. O telhado é decorado com painéis solares em um padrão quadriculado, enquanto as janelas da frente e de trás podem ser abertas para permitir a ventilação natural. Um sistema de irrigação enriquecida com nutrientes ajuda a acelerar o crescimento dos vegetais. Adicionando mais uma prática sustentável, em vez de apenas terra, eles reaproveitaram a serragem da madeira cortada na construção. 

Tanto os painéis de LED quanto o sistema de irrigação da estufa são alimentados pelos painéis solares. Mas o sucesso é ainda maior: para funcionar, essa estufa necessita apenas de cerca de 50% da energia produzida por ela mesma. A outra metade é utilizada pelas instalações vizinhas do Valldura Labs. Guallart diz que os pesquisadores ainda poderiam cobrir todo o telhado com painéis solares e, assim, a sobra seria de 75% da energia. Mas restrições orçamentárias dificultaram a execução desse plano.  

O protótipo foi concluído em setembro de 2021 e já inspirou o projeto de uma estufa na cobertura do edifício de madeira mais alto de Barcelona, ​​que a empresa de Guallart (Guallart Architects) está projetando no momento. Com 149 metros quadrados e 2 metros e meio de altura, essa segunda estufa será mais de 10 vezes maior que o protótipo.

Estufas solares também podem ser construídas em cima de edifícios já existentes. “Se decidirmos que queremos produzir alimentos e energia em nossas cidades, podemos fazê-lo. A única coisa que precisamos fazer é adaptar os prédios, ou construí-los pensando nisso desde o início”, defende Guallart. Tudo se resume a quantos telhados planos sua cidade tem. E, segundo ele, em Barcelona cerca de 80% são planos.

Para Guallart, o objetivo final é construir comunidades capazes de cultivar os próprios alimentos e de produzir a própria energia. Nos arredores de Pequim, a Guallart Architects está trabalhando em um complexo habitacional autossustentável, com estufas comunitárias e telhados movidos a energia solar.

“Em vez de dar nosso dinheiro aos mercados que vendem alimentos e de pagar a empresas pela energia que usamos, devemos capacitar comunidades e edifícios, criando infraestruturas que os tornarão mais completos”, diz ele. “Podemos investir uma única vez e gerenciar para sempre.”


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais