Nova fábrica virtual da BMW promete revolucionar a indústria automotiva

A montadora fez uma parceria com a Nvidia para construir uma réplica digital de sua nova fábrica e, assim, economizar milhões de dólares e muita dor de cabeça

Crédito: Nvidia

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Construir uma fábrica de automóveis é um dos projetos de design mais complexos e caros que se possa imaginar. A fábrica em si é uma máquina gigante, onde milhares de trabalhadores e robôs precisam fazer tudo de forma coordenada para transformar 30 mil peças em um automóvel, a uma média de um carro por minuto.

Antes do início da construção de uma nova fábrica, é necessário muito planejamento e milhares de horas em reuniões. Ainda assim, nada impede que problemas surjam logo que ela entre em operação, o que pode resultar em milhões de dólares perdidos a cada dia até que sejam resolvidos.

Pelo menos, é assim que costumava funcionar.

Tudo isso está prestes a mudar graças à primeira fábrica virtual do mundo, uma réplica digital da futura fábrica de 400 hectares da BMW, em Debrecen, na Hungria, que será inaugurada em 2025 e produzirá cerca de 150 mil veículos por ano.

Ross Krambergar, que executa simulações geométricas para comissionamento virtual na BMW, passou os últimos dois anos criando a versão digital da fábrica ao lado de Rev Lebaredian, vice-presidente de tecnologia de simulação e do Omniverse da Nvidia.

Mais conhecida por produzir placas de vídeo para jogos e criar tecnologias de inteligência artificial, a Nvidia, há anos, vem desenvolvendo o Omniverse – um metaverso feito sob medida para que empresas possam planejar e otimizar processos industriais, economizando milhões de dólares.

Ao transformar projetos em algo que pode ser simulado e executado em um computador, empresas como a BMW têm a oportunidade de testar tudo digitalmente antes de criá-lo no mundo real. Isso significa menos dores de cabeça e dinheiro gasto para detectar potenciais problemas.

Créditos: Nvidia/ Fast Company

MAIS DO QUE UM SIMPLES JOGO

O Omniverse é como um game extremamente complexo na nuvem. Nele, tudo o que existe no mundo real tem uma duplicata 3D que funciona exatamente como sua versão física.

Por exemplo, lá, os robôs também são objetos sólidos, são afetados pela gravidade e podem ser programados para realizar tarefas. Podem pegar uma porca e aparafusá-la no chassi de um carro e até esbarrar em uma prateleira.

O metaverso da Nvidia permite que a BMW conecte seus complexos designs a um gigantesco banco de dados – uma fábrica viva na nuvem, se preferir.

Crédito: BMW

Isso permite que todos vejam, em tempo real, o que está acontecendo no trabalho de cada um. Por exemplo, se for necessário colocar uma ferramenta extra em algum lugar da linha de montagem, todos poderão ver onde ela está na fábrica virtual do Omniverse.

Krambergar afirma que os resultados são fenomenais quando se trata de acelerar o trabalho em equipe. Isso acontece porque ver tudo acontecendo em tempo real, diretamente no seu navegador, permite que todos entendam as coisas intuitivamente. Os designers ganham mais tempo para cumprir os prazos, o que leva a muito menos pressão e a um trabalho melhor.

CORREÇÃO DOS PROBLEMAS

A interação visual em tempo real, onde tudo é coordenado em um único modelo, torna automaticamente mais rápida a detecção de possíveis problemas, diz Lebaredian. “Os engenheiros podem olhar para a questão como se estivessem juntos fisicamente, identificar onde as coisas entram em conflito e corrigi-las ali mesmo.”

Um exemplo disso aconteceu recentemente, quando Lebaredian fez um tour pelo prédio de uma fábrica da BMW, em Munique. Ao chegar a uma seção da fábrica onde enormes robôs faziam a soldagem, viu uma passarela de metal sobre eles e perguntou aos funcionários como fizeram para garantir que os braços gigantes não batessem nela.

Crédito: Nvidia

Antes, para ter a resposta, o fabricante dos robôs teria que ir à fábrica, colocá-los em posição e testar a programação com os engenheiros da BMW para se certificar de que os braços não atingiriam a passarela ou qualquer outra coisa ao redor. Um processo que poderia levar dias. 

Usando o Omniverse, a montadora conseguiu colocar os robôs dentro da fábrica virtual, fazê-los funcionar como se fossem reais e, imediatamente, descobriu que teriam destruído a ponte se a programação original tivesse sido usada.

Para corrigir o problema, modificaram a programação, poupando-lhes dias de trabalho. Rapidamente, os robôs já estavam prontos para voltar à sua função.

Mas o verdadeiro teste para o Omniverse acontece agora, com a nova fábrica – a primeira com uma versão digital. Também será a primeira vez que todas as equipes da montadora poderão acessá-la após um longo período de testes beta.

Nos próximos meses, a BMW e a Nvidia planejam adicionar novos recursos, como simulações de trabalhadores humanos.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais