O que a onda de demissões nas big techs significa para os designers

Será que tantos talentos novos no mercado podem levar a uma nova era de inovação em design?

Crédito: JulNichols/ Levent Konuk/ iStock/ Freepik

Nicole Gull McElroy 4 minutos de leitura

Uma estimativa feita pelo empresário Roger Lee mostra que quase 60 mil pessoas da indústria de tecnologia foram demitidas desde o início deste ano nos EUA. Não há dados disponíveis sobre como as equipes de design, especificamente se saíram. Mas uma rápida olhada no Twitter ou no LinkedIn traz algumas pistas sobre essa leva de demissões, que parece ampla e profunda.

As recentes demissões levantam a questão: qual é o lugar do design no mundo dos negócios hoje? Essa é uma questão particularmente pertinente neste momento em que as empresas estão apertando os cintos e decidindo como e onde vão gastar seu dinheiro.

Na última década, o design como disciplina passou por uma reformulação: deixou de ser visto como mera superficialidade e passou a ser considerado por muitas empresas como parte integrante do negócio, necessário para a inovação, para a estratégia e a solução de muitos problemas.

Ao mesmo tempo, conforme o design se torna uma parte mais arraigada nos manuais das empresas, seu brilho próprio vem sumindo. Se as equipes de inovação estão entre as primeiras a desaparecer, o que isso significa para o lugar do design na estratégia e no crescimento? E se o design ainda tem lugar à mesa, isso necessariamente significa que ele está a salvo dos cortes quando a economia aperta?

QUANDO O ROI TEM PRIORIDADE

Nos últimos anos, as empresas de tecnologia têm contratado talentos de design e tecnologia em um ritmo recorde. Algumas delas dobraram o número de funcionários durante a pandemia ou aumentaram em mais de 50%.

Na última década, o design passou a ser considerado por muitas empresas como parte integrante do negócio.

Em um episódio do podcast Pivot, o professor de negócios da Universidade de Nova York Scott Galloway previu que essa recessão seria ruim para “trabalhadores da era da informação”, dizendo que “o campo não está mais tão verde para os unicórnios”. 

É claro que essas estimativas estão sendo feitas no calor do momento, à medida que as forças macroeconômicas vão restringindo o crescimento e a expansão em lugares onde até recentemente o dinheiro era barato e as ideias brilhantes e a mão-de-obra eram abundantes.

Agora que as empresas estão segurando o dinheiro, elas priorizam equipes que estão trabalhando em projetos com ROI (retorno sobre investimento) imediato, optando por demitir aqueles que não estão focados em tarefas que tragam retorno no curto prazo.

Ainda não há como saber os desdobramentos de tudo isso. São esses cortes que vão salvar os negócios daqui a alguns meses, quando as coisas azedarem de vez? Ou será que algumas dessas empresas estão dispensando justamente os talentos que teriam impulsionado alguma grande ideia que alimentaria a sua próxima ascensão?

UMA NOVA ERA DE INOVAÇÃO?

De um jeito ou de outro, há motivos para pensar que estamos vivendo um momento parecido com a crise de 2009. Só que, desta vez, há mídia social, millennials que nunca estiveram nessa situação, incontáveis cérebros de tecnologia e designers de alto desempenho em atividade no mercado. O que está por vir, porém, talvez seja o aspecto mais interessante dessa história.

Para Mia Blume, que dirige o Design Dept.– e que passa seus dias treinando executivos e líderes de design em organizações como Dropbox, Google, Uber, Lyft e Facebook –, esse movimento tem um lado positivo.

As indústrias que não passaram por uma conversão para o design podem aproveitar o momento para fazer contratações importantes.

“Existe uma oportunidade realmente interessante para a comunidade do design se envolver em negócios de uma forma que está avançando lentamente. Esta é uma oportunidade para mostrarmos que o valor do nosso trabalho está muito mais ligado aos fundamentos de qualquer negócio. Podemos ajudar a moldar o futuro. Não precisamos ser aqueles que ficam sentados em laboratórios de P&D para fazer inovação”, defende ela.

As indústrias que não passaram por uma conversão para o design também podem aproveitar o momento para fazer contratações importantes. Semana passada, a GM divulgou um comunicado anunciando que planeja contratar pelo menos oito mil profissionais de tecnologia. Finanças, saúde, governo e manufatura, diz Blume, são excelentes exemplos de indústrias “digitais adjacentes”, onde há um enorme espaço para inovação.

Doug Powell, executivo que atua há 30 anos no setor – inclusive liderando a equipe de design de mais de mil pessoas da IBM – concorda. “Alguém que hoje está administrando uma empresa de médio porte – transporte, remessa, serviços governamentais, setor público, manufatura –, está provavelmente de olho nos designers e profissionais de transformação digital”, diz ele.

“Existe uma oportunidade de essas empresas realmente acelerarem a sua transformação digital, investindo em um nível de talento que não estava disponível antes.”


SOBRE A AUTORA

Nicole Gull McElroy é escritora, editora e consultora. saiba mais