Por que o “bom gosto” é um mito


Fast Company Brasil 2 minutos de leitura

Como estudante universitário na década de 1990, estava inconscientemente acostumado a ser um dos únicos designers negros caribenhos na sala, e um dos dois no departamento de arquitetura.

Minha herança não era aparente até que eu discutisse minhas ideias de design com os professores. Confiei na minha intuição, mas ela não combinava com o que meus professores consideravam “aceitável” ou “de bom gosto”. Na arquitetura, o “gosto” estava escondido atrás da máscara da pesquisa, do design baseado em evidências, dos estudos filosóficos e da análise psiquiátrica; na criação da forma a intuição era inédita. As instituições de design, como muitas outras instituições na América, não foram feitas originalmente para incluir a mim e minha história. Eu não deveria estar lá.

Gosto e representação andam de mãos dadas. O gosto, como é amplamente compreendido na arquitetura ocidental e no design de interiores de hoje, tem raízes na sociedade europeia. Coincide com o sistema de classes emergente da Inglaterra, que começou no século XVIII e atingiu sua forma definitiva durante a virada do século XX na Era Vitoriana. A ideia era distinguir a burguesia, que podia pagar pelo design de interiores, das classes mais baixas.

O bom gosto é agora como nos últimos 300 anos — uma forma de reforçar os sistemas de classes. Considere a casa de Sir John Soane construída em 1753. Com uma forte influência grega, é uma cápsula do tempo para as ideias originais de luxo. Esta casa (agora museu) é um santuário ornamentado de ouro, veludo, porcelana e cristal, alojado em pilares de mármore. Embora exista há muito tempo, continua a ser um poderoso símbolo de poder que alguns decoradores ainda tentam imitar atualmente.

Todas as culturas têm o que chamo de “poço da gravidade estética”: códigos, signos e significantes do que a cultura designa como aceitável e belo. Não tenho nenhum problema com as idiossincrasias de qualquer cultura. No entanto, questiono quando uma ideologia dominante se torna a única ideologia aceitável. Nenhuma estética isolada deve ser considerada a estética “certa”.

A chave para os designers é ter consciência cultural o suficiente para perceber quando esses códigos definem sua criatividade e ousar desafiá-los. Quando se é honesto o suficiente consigo mesmo para enfrentar o desconhecido, irreconhecível e, possivelmente, o feio, é quando pode-se encontrar algo verdadeiramente original.

Apesar do que sei hoje, ainda penso comigo mesmo: “Sendo um  designer e homem negro de Trinidad, uma ilha da comunidade inglesa, eu tenho gosto?” É claro! Mas não é a ideia homogênea e eurocêntrica de gosto. Minha experiência no mundo é profundamente colorida e texturizada. Me inspiro pelo Adhan em Istambul; o badalar de um sino de igreja em Paris ecoado em Port of Spain; as fragrâncias e as luzes de cada um desses lugares; e, claro, as pessoas, com todos os seus hábitos e rituais tão diferentes dos meus. Tenho a honra de compartilhar o planeta com tantos exemplos de beleza. A tarefa para mim é me esforçar para refletir essa beleza de volta para o mundo através do meu design.

Não adianta nada permanecer estritamente racional sobre o gosto. As conversas intelectuais sobre a história e o monólito que ele é não têm valor para o que é mais importante para mim: praticar o design com plena presença emocional e espiritual e, acima de tudo, confiar na minha intuição.


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