Quanto mais se usa este tênis, mais colorido ele fica

O coletivo de arte MSCHF e Jimmy Fallon colaboraram em um tênis projetado para ser desgastado

Crédito: MSCHF/ Divulgação

David Salazar 3 minutos de leitura

O coletivo de arte e, por vezes, marca de streetwear MSCHF ficou famoso por ignorar o consumismo e lançar produtos que combinam a estética de Andy Warhol com o hype do momento.

Com sede em Nova York, o grupo foi responsável pelo controverso tênis apelidado de “Satan Shoes”, em parceria com o rapper Lil Nas X – uma tiragem limitada de 666 pares de Nike Air Max 97 modificados que lhe rendeu um processo de ninguém menos do que a própria gigante dos tênis, em março deste ano (as empresas chegaram a um acordo em abril).

Na semana passada, a MSCHF colocou nas ruas de Nova York e de Los Angeles caminhões de sorvete que vendem um produto chamado Eat the Rich Popsicles – picolés de US$ 10 com os rostos de Jeff Bezos, Bill Gates, Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jack Ma (do Alibaba).

Agora, o coletivo lança sua mais recente criação: o tênis Gobstomper, feito em colaboração com o apresentador Jimmy Fallon. Anunciado em seu programa, The Tonight Show, o Gobstomper, que custa US$ 195, é um tênis de skate que muda de cor à medida que a camurça cinza da superfície se desgasta com o uso.

Crédito: MSCHF/ Divulgação

“Estou bastante empolgado com isso porque Jimmy é apaixonado por tênis, mas nunca criou um”, revela Daniel Greenberg, cofundador e diretor de receita da MSCHF. Embora a organização demonstre um talento nato para viralizar na internet, a colaboração do grupo com Fallon e o The Tonight Show sinaliza um novo esforço para apresentar seus produtos para um público mais mainstream.

TÊNIS PARA AS PESSOAS USAREM

Fundada em 2016, a MSCHF já lançou mais de 80 produtos até o momento, que variam de conceitual – um notebook sem conexão à internet repleto de malwares responsáveis por prejuízos financeiros de mais de US$ 95 bilhões – a lascivos, como uma rede neural que cria fotos de pés geradas por IA (ainda não está claro se as fotos são capazes de cruzar o “vale da estranheza”).

A colaboração mais famosa da empresa foi o Satan Shoes. Estes tênis de US$ 1.018 vinham com um pentagrama na língua e uma gota de sangue misturada com tinta.

Diferentemente dele e do Jesus Shoes, que foram projetados como obras de arte e não para serem usados, o Gobstomper, bem como os outros recentes lançamentos – o Tap3 e o Super Normal – fazem parte da aposta da MSCHF na moda streetwear. É necessário baixar o aplicativo MSCHF Sneakers para adquirir os tênis.

“Costumamos dizer que criamos tênis para as pessoas usarem”, diz Greenberg. Nesse sentido, o Gobstomper foi projetado para levar essa ideia ao extremo, já que as cores escondidas só aparecem com o tempo, com o desgaste.

“Muita gente limpa seus tênis todos os dias. Aqui, oferecemos o oposto”, explica Greenberg. “Queremos que parem. Queremos que os usem, raspem, destruam. Esse é seu diferencial. Se você o mantiver limpo, ele continua sendo um ótimo tênis, mas será apenas um tênis cinza.”

Greenberg também afirma que seus usuários podem abusar da criatividade e usar objetos, como lâminas ou facas, para desgastar o Gobstomper: “Cada um pode usá-lo como preferir. Mas, certamente, isso oferece muitas oportunidades para a criatividade.”

Assim como a maioria dos lançamentos da MSCHF, há um toque de humor irônico no Gobstomper, pois é um tênis de skate criado em parceria com uma celebridade que não sabe andar de skate. Imaginar as tentativas frustradas de Fallon de se manter em pé é peça central da campanha de marketing.

Como afirma Greenberg, parte da natureza do lançamento é “a ironia de criar um tênis de skate com alguém que não tem a mínima habilidade para andar em um, e então fazer uma sessão de fotos com ele tentando e caindo”.


SOBRE O AUTOR

David Salazar é editor associado da Fast Company. saiba mais