Varejo torna lojas mais confortáveis para clientes – e funcionários

Crédito: Fast Company Brasil

Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

Os empregos no varejo estão dentre os mais comuns na economia dos EUA. Durante a pandemia, esses trabalhadores ficaram mais expostos do que muitos outros aos clientes, muitos dos quais possivelmente podem estar carregando e espalhando o vírus da Covid-19. Por isso, quando os arquitetos e designers decidiram reformular as lojas de varejo para que elas funcionassem melhor nessa era de pandemia, eles projetaram mudanças considerando as necessidades dos trabalhadores. 

Crédito: Morley von Sternberg/cortesia Gensler

Daqui para frente, essa será uma das principais tendências que vão moldar o design de espaços de varejo, de acordo com a Gensler, que recentemente divulgou sua previsão anual de design. Com mais de 50 escritórios, milhares de funcionários e atuação em mais de 100 países, a Gensler é a maior empresa de arquitetura do mundo, e sua ampla carga de trabalho lhe dá uma visão privilegiada de como o design está mudando. No setor de varejo, para o qual a empresa projetou de lojas da Microsoft a lojas da JBL e agências da Heritage Bank na Austrália, a mudança é que as lojas começarão a pensar não apenas nos clientes, mas também nas pessoas que fazem as vendas e mantêm o espaço funcionando.

Crédito: Morley von Sternberg/cortesia Gensler

“Normalmente, em toda recessão, você verá as marcas começarem a se reinventar, porque a crise lhes dá oportunidades de tirar vantagem desse tempo.”, diz Lara Marrero, diretora do escritório da Gensler em Londres com foco no varejo. “Os varejistas estão esperando por um ciclo de reinvenção.”

A pandemia, diz ela, reorientou os varejistas sobre como as pessoas realmente fazem uso das lojas físicas. Na última década, muitos varejistas sofreram para competir com o varejo online. Eles tentaram investir na experiência – nas razões para as pessoas entrarem em suas lojas, mesmo que muito do que eles vendem possa facilmente ser comprado online. “Com tudo isso, perdemos de vista alguns dos fundamentos do varejo, como garantir que haja uma sinalização clara para que as pessoas possam se sentir à vontade para entrar e sair da loja”, diz Marrero.

Agora, os clientes de varejo estão buscando designs que priorizem a clareza da experiência – sinalização simples e produtos de fácil localização, campos de visão mais limpos e layouts mais intuitivos, para que os clientes possam enxergar aonde precisam ir assim que entram pela porta. Trata-se de facilidade de uso, mas também de segurança, completa Marrero, observando que quanto menos tempo um comprador precisar circular dentro de uma loja, menos exposição haverá a um vírus com contágio ainda perigoso – tanto para clientes quanto para funcionários da loja.

Crédito: Morley von Sternberg/cortesia Gensler

“Sabemos que é importante prezar pela saúde e pelo bem-estar não apenas para os consumidores, mas principalmente desses funcionários”, diz ela. “Toda marca com a qual estamos trabalhando tem isso como um princípio. A questão é como podemos ajudar a fazer com que esses ambientes e esses compromissos se naturalizem nos negócios o mais rápido possível.”

Na verdade, esse não é um esforço completamente altruísta. Empregos no varejo, muitos deles oferecendo baixa remuneração e alto risco de contaminação por COVID-19, já não são as oportunidades mais atraentes no mercado de trabalho atual. Durante a pandemia, as vagas no varejo atingiram máximas históricas. Em novembro, o mês mais recente sobre o qual o Bureau of Labor Statistics tem dados, havia mais de 963.000 vagas de emprego no varejo em todo o país. As empresas parecem estar percebendo que se vão convencer as pessoas a trabalhar durante a pandemia, então as próprias lojas devem se tornar lugares mais agradáveis ​​de estar.

Crédito: Morley von Sternberg/cortesia Gensler

Essa mudança de percepção também está resultando em designs que prestam mais atenção às partes internas das lojas, aquelas que apenas os funcionários veem e usam. A maior parte do trabalho de design atual da Gensler se enquadra em acordos de confidencialidade, mas Marrero aponta para o exemplo recente de uma loja da Microsoft na Oxford Circus, em Londres, que tem uma sala de descanso especialmente projetada para os funcionários relaxarem ou até mesmo para jogarem alguns dos videogames que a loja vende. Outros projetos incluíram estudos sobre como acomodar pausas para trabalhadores que passam longas horas em pé ou períodos mentalmente desgastantes interagindo com os clientes. Marrero observa que mais varejistas estão começando a incorporar essas preocupações na forma como suas lojas são projetadas.

“A maneira como muitos de nossos clientes estão pensando demonstra que estamos passando por uma grande mudança”, diz Marrero. “Em vez de os funcionários serem apenas horistas, olhamos para essas pessoas e investimos nessas pessoas de outra forma: vamos treiná-las, vamos ensiná-las. Também consideraremos ambientes que atendam à sua necessidade de inatividade.”

Embora o varejo tenha sido afetado pela pandemia nos últimos dois anos, com mais de 5.000 fechamentos de lojas somente em 2021, Marrero diz que dificilmente esse será o fim. E as abordagens de design que a Gensler está aplicando nas lojas de todo o mundo parecem refletir as mudanças nas formas como empresas e trabalhadores veem as realidades dos empregos no varejo.

“Francamente, esse é o maior experimento, teste e aprendizado que o varejo já enfrentou desde sempre, diz Marrero. “O que estamos descobrindo é que as pessoas não podem deixar de ser prioridade.”

 


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Fast Company é a marca líder mundial em mídia de negócios, com foco editorial em inovação, tecnologia, liderança, ideias para mudar o ... saiba mais