Por que o futuro mexe tanto com a gente?

Crédito: Fast Company Brasil

Marcos Medeiros 3 minutos de leitura

Estamos vivendo uma revolução tecnológica que está causando grandes transformações nas relações de trabalho e no sistema de produção – e que se espalha pelo mundo rapidamente. Ela permitiu a criação de máquinas sofisticadas capazes de realizar tarefas de forma eficiente e com mais precisão. O resultado é uma mudança densa no estilo de vida. E se eu contar que uma das maiores inovações desta revolução foi a locomotiva a vapor e as estradas de ferro? Sim, estou falando da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, no século dezoito. E não do assunto mais comentado do momento: a inteligência artificial.

O ser humano sempre teve fascínio e medo em relação àquilo que desconhece e que pode ameaçar a sua zona de conforto. Foi assim na invenção da pólvora, na Revolução Industrial, na automação industrial e na chegada da “rede mundial de computadores”.

Durante o South by Southwest 2023, o que mais se falou pelos corredores é que muitas pessoas perderão o seu emprego. Que a AI vai fazer o trabalho em muito menos tempo. Em contrapartida, vendedores da tecnologia, como Greg Brockman, que ajudou a dar vida ao ChatGPT, afirmam que a inteligência artificial veio para amplificar os talentos, e não para substituí-los.

Rahul Roy-Chowdhury, CEO do Grammarly Go, disse em seu painel que prefere chamar a tecnologia de “inteligência aumentada”. Para ele, a “inteligência aumentada” fará com que as pessoas se comuniquem melhor e reduzam perdas anuais de 1,2 trilhão de dólares só nos Estados Unidos, quantia atribuída a falhas de comunicação entre colaboradores. Kevin Kelly, fundador da Wired, definiu a AI como um excelente estagiário. Não é de hoje que os humanos criam monstros, se orgulham deles e, depois, se dobram de medo do que fizeram.

Mery Shelley já fez isso lá em 1818 com o fascinante Frankenstein. O visionário Victor desenvolve, com o uso de tecnologia, uma criatura impressionante que, como sabemos, volta para acertar as contas com seu criador. A frase “isso é muito Black Mirror” é só uma nova versão de “a Skynet já chegou”, do filme “O Exterminador do Futuro”. Este último se passa em 2029, ou seja, logo ali.

Voltando ao ponto do onipresente medo em se perder o emprego, gostei muito do exemplo que Whurley, CEO da Strangeworks, trouxe: “quando os caixas eletrônicos de bancos foram apresentados, houve um pavor no setor quanto aos empregos dos bancários. Eles continuam existindo, o que mudou foi o que eles passaram a fazer”.

Ou o exemplo dado por Tye Sheridan, ator do “Ready Player One”, atual fundador da incrível plataforma de efeitos visuais com uso de AI, Wonder Studios: “Um filme que custava 200 milhões de dólares hoje pode custar 20. Isso permite que 10 filmes sejam feitos com o mesmo recurso. Portanto, precisaremos de mais talentos para realizá-los”.

Não acredito que haja uma resposta sobre o que vai acontecer no futuro. Mas, no meu ponto de vista, a criatividade vai para além de trabalhos criativos dentro da publicidade e da comunicação. A criatividade pode englobar nossas ações e adaptações coletivas para aprender a lidar com o fascínio e as frustrações de coexistir com uma máquina fazendo parte do nosso trabalho. Mas, ninguém sabe, nenhuma máquina sabe ao certo. Parafraseando William Shatner – uma das figuras mais reconhecidas de Hollywood – durante um painel no SXSW: “a única coisa que eu sei é que estou falando com você agora”.


SOBRE O AUTOR

Marcos Medeiros é Chief Creative Office na agência CP+B saiba mais