The Gathering Summit 2023: aumenta o som que o DJ quer te ensinar negócios
As marcas precisam entender "qual é a sua playlist" em todos os pontos, não apenas nos espaços comerciais
O frio e o vento cortaram as vielas de um castelo antigo no norte do Canadá. Entre as quatros paredes do Fairmont Banff Springs pouco importava: a plateia estava animada. Em parte por conta das conversas instigantes da 10ª edição do The Gathering Summit, que reuniu as principais lideranças do marketing mundial para falar sobre os desafios do branding; em parte porque o DJ era realmente muito bom.
Não se engane, o DJ tem estratégias e poderes que executivos, principalmente do setor de comunicação, precisam entender bem. Seja em uma festa ou em um evento corporativo, os DJs são os líderes inspiradores. Mesmo que por um curto período de tempo.
São eles que dominam a hora de dançar e de ficar parado. A hora de conversar e a hora de cantar. A hora de se animar ou de ir embora. A hora de comprar mais uma bebida, de tomar café ou de, simplesmente, aproveitar o ambiente.
Ao entender o gosto da audiência e ligar com seu entendimento musical, a pessoa por detrás das pick-ups é capaz de criar ambiência, transformar humores e moldar emoções. Atribuições que marcas precisam estar mais e mais atentas para ganhar na guerra pela atenção do usuário, colaborador ou cliente.
“A lição mais importante que os executivos precisam aprender com os DJs é: saibam ler o contexto em que estão”, disse Shez Mehra, vice-presidente da Songtradr, plataforma de música para empresas (e DJ ocasional em festas independentes no Canadá).
Para fazer o público de uma balada dançar, o profissional das pick-ups combina alguns saberes nada intuitivos. O DJ precisa compreender o público, o ambiente, a playlist, os artistas em alta e aqueles com potencial para lotar as pistas.
Ainda assim, existe o componente do timing. Se não tiver um bom momento na balada, a música pode não mover ninguém. E é aí que entra a capacidade de se adaptar.
De acordo com Eric David Johnson, diretor executivo de criação da agência criativa sonora MassiveMusic, faz parte do “talento” de um bom DJ a habilidade de transformar uma pista vazia em uma bem cheia, animada. Para isso, ele altera a estratégia no meio do caminho, muda a playlist, faz apostas e se arrisca em tempo real. Com direito a ter o “feedback” no segundo que aperta o play.
Johnson, que já trabalhou como head de música para marcas como Nike, é conhecido por outro nome no mundo musical: DJ BunnyEars. O profissional já fez parte da curadoria de festivais como o SXSW e levantou públicos pelo mundo.
Quando comanda as remixagens, sabe dizer quais artistas e quais sons vão fazer sucesso. Uma capacidade de prever o comportamento do público que só os líderes de marketings mais atentos têm. Não é coincidência que as mentes que sabiam antever os movimentos do mercado, como Steve Jobs, estavam tão conectadas com a música.
SOBE O SOM!
O elemento primordial de trabalho dos DJs é também um território em que poucas marcas se arriscam. A música é um elemento tão crucial quanto complicado de captar, disse Johnson. “Ela não mexe com narrativas sequenciais, é mais uma emoção, uma vibe, uma jornada”, explicou.
Uma marca ouvir e ser ouvida pela linguagem musical tem até nome no marketing: music branding. Segundo o presidente da Songtradr, Bryan Biniak, para usar a música em seu favor, a empresa precisa estar em harmonia com a sua voz, a sua visão de mundo e o seu público. Não muito diferente de um DJ.
Biniak tem experiência de sobra quando o assunto é music branding. O executivo foi o primeiro investidor da Harmonix, criadora do game Rock Band, além de pioneiro dos ringtones nos celulares da Nokia.
Ele argumenta que as marcas precisam entender “qual é a sua playlist” em todos os pontos, não apenas no comercial. “Nas lojas, por exemplo, sabemos que os funcionários trabalham melhor quando escutam músicas que gostam. As pessoas voltam quando gostam da música. É todo um ecossistema”, apontou.
A lição mais importante que os executivos precisam aprender com os DJs é: saibam ler o contexto em que estão.
Os sons podem elevar uma marca, mas podem trazer muito, muito barulho. A Bauducco que o diga. Na última semana, a campanha de um projeto musical da companhia levantou tantas questões que trouxe problema reputacional para a marca.
“Marcas têm guidelines específicas para o design visual, para a logomarca, as cores, até a linguagem que usam. Por que não têm o mesmo para a música e para os artistas com quem colaboram?”, questionou Mehra.
De acordo com Biniak, basta ligar os pontos, ou melhor, as notas musicais. “Uma música vem com um artista que vem com a sua audiência que, por sua vez, vem com seus hábitos, gostos e atividades. Em quais espaços a marca quer estar?”, comentou.
O DJ, por definição, conecta essas batidas em torno de uma harmonia única. E, de quebra, ainda cria uma atmosfera própria. Se ele faz tudo isso em uma mesa de som, imagine em uma mesa de reunião.