Boa notícia: o material mais popular do planeta é ótimo para armazenar CO2

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Mark Wilson 3 minutos de leitura

Nosso planeta está aquecendo devido ao excesso de dióxido de carbono no ar. Mas, ainda que pudéssemos sugar todo o CO2 da atmosfera, o que faríamos com ele?

A resposta mais simples é: colocá-lo em produtos. Mas a resposta mais elaborada é colocá-lo nos produtos certos. Mais especificamente, no concreto. Esta substância aparentemente inócua  que sustenta nossos prédios é, na verdade, o material mais usado da era moderna. Mais de 10 bilhões de toneladas de concreto são produzidos por ano. E, por sorte, cientistas estão provando que o concreto é, também, um ótimo lugar para armazenar CO2.

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A descoberta vem de uma nova pesquisa da Universidade do Michigan, na qual foram analisadas mais de 20 diferentes tecnologias de aproveitamento do CO2. Os pesquisadores perceberam que, entre todas as opções, apenas quatro tinham mais de 50% de chances de realmente beneficiar o meio ambiente. A mais promissora, é o concreto.

Mas porque o concreto? Além de ser um material popular em termos de escala, o que o torna bom para armazenar o dióxido de carbono? Greg Keoleian, um dos autores da pesquisa e diretor do Centro para Sistemas Sustentáveis da Universidade do Michigan, explica que isso se deve às moléculas do próprio CO2.

O CO2 entra na atmosfera quando queimamos combustíveis fósseis, como gasolina e carvão. Uma vez produzido, se mantém na atmosfera porque possui uma estrutura estável que requer energia para se transformar. Essa transformação pode requerer mais ou menos energia. E se muita energia tiver que ser aplicada ao dióxido de carbono, todo o processo já não valerá a pena. Por que? Simplesmente porque a maior parte da energia gerada causará novas emissões de CO2. Ou seja:  não faz sentido gerar mais CO2 para capturar CO2.

Mesmo que se use energia limpa para reutilizar CO2, é mais interessante aplicá-la em algo como aquecer casas ou acender as luzes, por exemplo. O movimento natural da agitação do concreto é toda a energia necessária para transformar o CO2 em carbonato de cálcio, uma substância não só usada como preenchimento, como também para fortalecer a mistura do concreto. O maior uso do carbonato de cálcio duro na mistura representa menor uso de cimento, outro ganho ambiental, uma vez que cimento é o componente mais poluente do concreto.

“É uma dupla vitória,” diz Dwarak Ravikumar, pesquisador no Centro para Sistemas Sustentáveis que contribuiu para o artigo.

Agora, tudo isso não quer dizer que o concreto aditivado com CO2 seja a cura milagrosa para o meio ambiente. Enquanto alguns concretos com CO2 já estão sendo comercializados, os pesquisadores da Universidade de Michigan chamam a atenção para a validação de cada método de produção utilizado. Além disso, o processo de construção em si é altamente poluente. Prédios são responsáveis pela emissão da maior parte dos gases de efeito estufa. E o próprio concreto está sendo visto como uma substância problemática na nossa infraestrutura. É um material comum, porém tem sido criticado por sua natureza imprevisível enquanto envelhece – levando à queda de vários prédios nos últimos anos, incluindo um próximo a Miami, em junho passado.

Há outra maneira, mais direta e mais responsável de capturar carbono, afirma Keoleian: utilizar madeira de reflorestamento, outro material para construção que sequestra carbono da atmosfera (uma empresa está projetando  “super árvores” para puxar CO2 extra do ar).  Ainda assim, é difícil ignorar o potencial à espreita no concreto – uma das várias possibilidades que, se bem explorada, pode ajudar a salvar o planeta.

“Em termos de materiais, o concreto é o mais comumente usado no planeta,” diz Keoleian. “Quando se escala isso [com CO2], pode haver um grande benefício.”


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais