Não dá para depender só das florestas para chegar à meta de carbono zero

Muitos países dependem da natureza para compensar suas emissões de carbono. É uma estratégia arriscada para atingir as metas climáticas

Crédito: Stefan Stefancik/ Pexels

Harry Smith, Johanna Forster e Naomi Vaughan 5 minutos de leitura

A maioria dos países tem apostado nas florestas e no solo para reduzir suas emissões de carbono remanescentes – aquelas mais “difíceis de descarbonizar” – e, assim, atingir suas metas climáticas.

Mais florestas e solos saudáveis são, de fato, melhores para a natureza e para a adaptação às mudanças climáticas. Mas essa estratégia pode representar um risco para a meta global de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa.

a maioria dos países não estimou quanto de suas emissões seria difícil de descarbonizar até 2050.

Cortes substanciais de emissões em toda a economia global são necessários para manter o curso das metas de temperatura. Atingir o zero líquido, no entanto, também envolverá remover CO2 da atmosfera e armazená-lo, em um processo conhecido como remoção de carbono.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU afirmou que a remoção de carbono será “inevitável” para equilibrar as emissões contínuas de setores “difíceis de descarbonizar”, como aviação e agricultura. 

Pesquisamos como os governos planejam buscar a remoção de carbono em suas estratégias climáticas nacionais. Examinamos todas as estratégias climáticas nacionais publicadas em inglês até 2022, totalizando quase quatro mil páginas em 41 estratégias. E o que descobrimos foi que a maioria não estimou quanto de suas emissões seria difícil de descarbonizar até 2050.

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Das 20 estratégias que o fizeram, a maioria depende principalmente (e em alguns casos apenas) de florestas, solos ou outros retentores naturais para compensar as emissões. Na verdade, florestas e solos são os métodos de remoção mais citados, estando presentes em quase todas as estratégias.

Só que florestas, solos ou outras formas naturais de sequestro de carbono não são as únicas opções disponíveis. Os métodos de engenharia, por exemplo, estão ganhando cada vez mais força na política climática.

Um método de engenharia é a captura e armazenamento direto de carbono no ar (DACCS), que usa reações químicas para retirar o CO2 do ar e bombeá-lo para o subsolo.

Os métodos de engenharia para captura de carbono estão ganhando cada vez mais força nas políticas climáticas.

Outro método é a bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS), que captura o CO2 liberado na queima de matéria vegetal (denominado “biomassa”), antes de armazená-lo também no subsolo.

Esses métodos aparecem em pouquíssimas estratégias. Apenas dois países (Reino Unido e Suíça) estimam quanto CO2 podem remover com o DACCS, enquanto o método recebe menções apenas em outras cinco.

Já a contribuição da BECCS para a remoção de carbono é quantificada em cinco estratégias e mencionada em outras 11. Muitos dos exemplos em que são mencionados são especulativos, enfatizando que sua implantação potencial depende de avanços tecnológicos adicionais.

ESTRATÉGIAS NACIONAIS PRECISAM MUDAR

Os governos parecem hesitantes em adotar métodos de engenharia e estão sendo mais atraídos pela remoção de carbono baseada na natureza. Não chega a ser surpreendente: a remoção de CO2 por meio do uso da terra tem sido uma característica da política climática global desde o Protocolo de Kyoto, em 1997.

as mudanças climáticas tornam as florestas e os solos mais vulneráveis a riscos naturais.

Faz sentido os países serem atraídos por métodos baseados na natureza, pois eles não apenas removem o carbono, como também são essenciais para interromper a redução da biodiversidade e para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.

Métodos baseados na natureza, no entanto, podem ser uma aposta arriscada quando se trata de remover e armazenar carbono para eliminar as emissões remanescentes.

Os países parecem cientes desses riscos. O plano climático nacional de Portugal, por exemplo, depende de florestas e solos para fechar a conta do zero líquido, mas descreve incêndios rurais prejudiciais, que em 2017 atingiram as florestas que ajudavam a remover e armazenar CO2, fazendo com que elas voltassem a lançá-lo de volta na atmosfera.

A Suécia e a Eslovênia também dependem de suas florestas, mas temem que sejam vulneráveis a pragas e doenças. Hungria, Finlândia, Eslováquia, Coreia do Sul e Ucrânia antecipam que seus mecanismos florestais de retenção de carbono darão uma contribuição superficial para suas metas climáticas de longo prazo, devido à idade das florestas existentes ou à limitação de terras para o cultivo de novas.

Essas preocupações ecoam amplamente o que os pesquisadores já identificaram, destacando as limitações da remoção de CO2 por meio desses métodos, principalmente porque as mudanças climáticas tornam as florestas e os solos mais vulneráveis a riscos naturais.

ESFORÇO CONJUNTO

Os novos métodos de remoção de carbono, projetados por engenheiros, podem oferecer uma maneira mais durável de remover e armazenar carbono, bombeando-o para o subsolo. Mas a capacidade desses métodos precisa ser ampliada com urgência nesta década.

A mitigação das mudanças climáticas requer reduções grandes e rápidas nas emissões.

Dentro de suas estratégias nacionais, os países observam ou a falta de locais de armazenamento em potencial ou uma ampla capacidade de armazenamento. Tornar a implantação generalizada de métodos de engenharia uma realidade pode depender da colaboração dos países para transferir cotas de CO2 entre si ou para remover CO2 em nome um do outro.

A mitigação das mudanças climáticas requer reduções grandes e rápidas nas emissões, além do aumento responsável dos métodos de remoção de carbono. É muito provável que seja necessário somar métodos naturais e artificiais.

Nossa pesquisa sugere que os países podem precisar se envolver com métodos de engenharia para remoção se o desafio do zero líquido for alcançado.

Essas estratégias devem quantificar os caminhos que cada país seguirá para atingir sua meta climática e reconhecer as funções únicas, mas diferentes, das remoções baseadas na natureza e as artificiais. Os governos com estratégias já em andamento devem seguir o exemplo em revisões futuras.

Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Harry Smith é doutorando em governança climática, Johanna Forster é professora associada de meio ambiente e desenvolvimento internacio... saiba mais