Até que ponto podemos contar com as florestas para reduzir o carbono na atmosfera?

Crédito: Lukasz Szmigiel/ Dan Edwards/ Unsplash

William Anderegg 4 minutos de leitura

Quando as pessoas discutem maneiras de retardar as mudanças climáticas, geralmente pensam em plantar e proteger árvores – e por boas razões. As florestas realmente absorvem uma grande quantidade do dióxido de carbono que aquece o planeta e que é lançado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis.

Mas será que as árvores vão manter esse ritmo de absorção à medida que as temperaturas globais aumentarem? Essa é uma questão multibilionária, já que as empresas estão investindo cada vez mais em florestas como compensação e afirmando que isso cancelaria suas emissões de gases de efeito estufa.

Entretanto, os resultados de dois estudos publicados nas revistas "Science" e "Ecology Letters" – um focado no crescimento, outro na morte de florestas – levantam novas questões sobre o quanto podemos confiar nas árvores para armazenar quantidades crescentes de carbono conforme o aquecimento global avança. O ecologista William Anderegg, que esteve envolvido em ambos, explica o porquê.

O que a nova pesquisa nos diz sobre as árvores e sua capacidade de armazenar carbono?

O futuro das florestas está no fio da navalha, no meio de um cabo de guerra entre duas forças muito importantes: os benefícios que as árvores obtêm com o aumento dos níveis de dióxido de carbono e os estresses que elas enfrentam com calor, seca, incêndios, pragas e patógenos.

Essas tensões climáticas estão aumentando muito mais rápido à medida que o planeta aquece. Estamos vendo imensos incêndios florestais e mais mortes de florestas causadas pela seca do que se esperava. Quando essas árvores morrem, o carbono volta para a atmosfera. Também estamos coletando evidências de que os benefícios de que as árvores usufruem quando os níveis de dióxido de carbono estão mais altos podem ser mais limitados do que as pessoas imaginam em um mundo em crescente aquecimento.

Isso indica que não é uma boa ideia contar apenas com as florestas para ampla absorção de carbono, principalmente se as sociedades não reduzirem suas emissões ao longo deste século 21.Árvores e florestas são capazes de feitos incríveis – elas limpam o ar e a água e fornecem valor econômico em termos de madeira, turismo e polinização. Entender como vão crescer é importante por muitas razões.

Mapa mostra áreas com maior risco de incêndios, secas e ataques de insetos

Há um argumento de que, com mais dióxido de carbono na atmosfera, as árvores simplesmente crescerão mais e bloquearão esse carbono. O que o seu estudo descobriu?

Duas coisas importantes afetam o crescimento das árvores: a fotossíntese, que é como elas transformam a luz solar e o dióxido de carbono em alimento, e o processo de divisão e expansão celular. Há um debate de longa data sobre qual é o maior impulsionador do crescimento. As pessoas assumem que a fotossíntese é o processo dominante em quase todos os lugares. Mas encontramos evidências mais fortes de que esses processos celulares sensíveis à seca realmente fazem mais para impulsionar ou limitar o crescimento.

Usamos dados de milhares de anéis de árvores nos EUA e na Europa e medições de fotossíntese de torres em florestas próximas, para verificar se o crescimento das espécies e a fotossíntese estavam relacionados ao longo do tempo, mas não encontramos correlação. Isso sugere que as secas, e não a quantidade de dióxido de carbono no ar, podem ter o maior impacto na rapidez com que as árvores crescerão.

O que você aprendeu sobre o risco de morte de árvores no futuro?

No outro estudo, descobrimos que a redução das emissões globais de gases de efeito estufa pode ter um enorme impacto para evitar danos às florestas causados ​​por incêndios florestais, secas e insetos.

não é uma boa ideia contar apenas com as florestas para ampla absorção de carbono, principalmente se as sociedades não reduzirem suas emissões.

Usamos anos de observações de satélite, dados climáticos e uma rede de cerca de 450 mil árvores nos EUA, sendo cada uma delas monitorada quanto ao estresse climático e à sobrevivência. Com esses dados históricos, construímos modelos estatísticos do risco que as árvores no território norte-americano enfrentam de morrer por incêndios florestais, insetos e estresse climático, principalmente relacionado à seca. Em seguida, analisamos o que pode acontecer em cenários climáticos futuros, com emissões de carbono altas, médias ou baixas. É possível explorar esses resultados em um mapa interativo.

O quadro geral é o seguinte: à medida que o planeta aquece, o risco de incêndios aumentará substancialmente ao longo deste século. Em um cenário com emissões médias, projeta-se que o risco de incêndios florestais aumente quatro vezes. Os riscos de seca e insetos aumentam em cerca de 50% a 80%.

O que isso significa para o uso de compensações de carbono?

Juntos, esses estudos sugerem que os benefícios do dióxido de carbono para o crescimento das florestas não serão tão grandes quanto as pessoas pensavam. Já o risco de estresse climático, principalmente de incêndios florestais, secas e insetos, será muito maior do que se prevê. Isso tem enormes implicações para o uso de florestas como compensações de carbono.

A mensagem mais esperançosa é que nossas ações na próxima década importam de fato. Se conseguirmos controlar a velocidade das mudanças climáticas e se seguirmos um caminho de emissões mais baixas, isso vai diminuir os riscos e aumentar os benefícios. O que fazemos agora a respeito de nossas próprias emissões e os esforços para desacelerar a mudança climática são de imensa importância para o futuro das florestas.


SOBRE O AUTOR

William Anderegg é professor associado de ecologia da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Utah. saiba mais