ONU quer que bancos informem a pegada de carbono de mercados onde atuam

A aliança climática dos bancos está exigindo que o JPMorgan, o BoA, o Citi e outros informem as emissões em seus mercados de capitais

Créditos: Annie Spratt/ Unsplash/ sharply_done/ iStock

Simon Jessop, Virginia Furness e Ross Kerber 3 minutos de leitura

Uma coalizão climática bancária apoiada pela ONU divulgou orientações atualizadas para seus membros, exigindo que eles divulguem mais detalhes sobre como planejam reduzir as emissões de carbono, inclusive das suas atividades nos mercados de capitais.

A Net-Zero Banking Alliance (NZBA), cujos 143 membros supervisionam US$ 74 trilhões em capital, disse que as diretrizes também exigirão que os bancos tenham um plano de defesa relacionado ao clima e que divulguem seus dados sobre o planejamento de transição.

As diretrizes mantêm as ambições da coalizão diante de um cenário político difícil, segundo o grupo. Alguns políticos norte-americanos foram os mais veementes em suas críticas, alegando preocupações antitruste.

"Ainda estamos aqui na mesa de negociações, não estamos reduzindo nosso escopo, estamos expandindo. Estamos dobrando a meta de 1,5ºC, e não nos afastando dela", declarou Remco Fischer, diretor de clima da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que atua como secretaria da NZBA.

Pelo Acordo de Paris das Nações Unidas de 2015, os países se comprometem a limitar o aumento da temperatura média global a bem menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais e a ter como meta 1,5ºC – um limite que, se ultrapassado, pode trazer efeitos muito mais graves da mudança climática, segundo os cientistas.

As diretrizes mais recentes destacam que cada banco deve agir de forma independente, dadas as pressões antitruste, mas também se referem a um plano global para abandonar os combustíveis fósseis, algo que também provocou resistência política na Europa.

As novas regras exigem que os bancos relatem as emissões dos mercados de capitais, como aquelas ligadas ao dinheiro levantado para as empresas por meio de emissões de títulos ou ações. Eles também terão que divulgar a abrangência de cada uma de suas metas de redução de emissões como uma porcentagem de sua participação no mercado.

Sarah Kemmitt, que dirige a secretaria da NZBA, disse que a assessoria jurídica indica que eles estão confiantes de que não há nenhum caso a ser respondido em relação às críticas sobre a participação dos bancos em alianças relacionadas ao clima.

"Obtivemos uma opinião jurídica... Achamos que estamos em um terreno muito seguro no que diz respeito ao antitruste."

QUEM É A FAVOR, QUEM É CONTRA

O Triodos Bank, sediado na Holanda, disse que votou contra as novas diretrizes por não acreditar que elas fossem suficientemente rigorosas, mas que permaneceria no grupo.

"As diretrizes atualizadas não são suficientemente rigorosas e ainda dão aos bancos muita margem de manobra", disse Jacco Minnaar, diretor comercial do Triodos Bank. "Mas observamos que as diretrizes melhoraram em comparação com a primeira proposta, respondendo parcialmente às nossas críticas."

As diretrizes mais recentes também se referem a um plano global para abandonar os combustíveis fósseis, o que provocou resistência política na Europa.

Os principais bancos dos EUA que participam da NZBA – entre eles o Bank of America, Citi, JPMorgan e Wells Fargo – não quiseram comentar o assunto.

Ivan Frishberg, diretor de sustentabilidade do Amalgamated Bank, afiliado a sindicatos, disse que a nova orientação para os mercados de capitais é "extremamente relevante", uma vez que, entre outras coisas, define quais são os tipos de divulgações que os bancos devem fazer sobre seus planos de redução de emissões.

O tesoureiro do estado da Virgínia Ocidental, Riley Moore, um dos republicanos norte-americanos que criticaram os bancos por darem muita atenção às considerações ambientais, disse que a nova orientação entrava em conflito com as obrigações fiduciárias dos bancos e representava uma tentativa de cortar o capital do carvão, petróleo e gás natural.

Em uma declaração enviada por um representante, Moore declarou que os bancos e instituições financeiras dos EUA deveriam se retirar da NZBA e de organizações semelhantes "e rejeitar essas tentativas de impor políticas climáticas globalistas ao sistema bancário americano".


SOBRE O AUTOR

Simon Jessop, Virginia Furness e Ross Kerber são jornalistas da agência Reuters. saiba mais