Sou imigrante e os bancos me deixaram na mão — por isso fundei meu próprio neobank

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 3 minutos de leitura

Muitos bancos estão deixando minorias na mão — mas, a tecnologia financeira pode mudar este cenário.

Comunidades dissidentes geralmente pagam taxas bancárias excessivas ou até são completamente excluídas dos serviços bancários tradicionais. Os neobanks estão entrando na jogada para promover mudanças reais.

Muitas dessas fintechs prometem taxas baixas com transparência e possuem uma interface de navegação amigável. Mas não só isso, os neobanks mais novos assumem um desafio adicional: atender às necessidades específicas de comunidades desprivilegiadas.

Por exemplo, a Cheese visa atender clientes asiático-americanos, enquanto a Daylight oferece serviços bancários para a comunidade LGBTQIA +. Fair, a plataforma bancária que minha equipe e eu lançamos este ano, é o primeiro neobank com certificação Halal nos Estados Unidos. Entre outras soluções, estamos introduzindo uma plataforma de assinatura que acaba com as taxas bancárias tradicionais. Da mesma forma que a empresa de varejo Costco faz, mas para bancos.

Eu vim para os EUA da Índia com 100 dólares no bolso e me tornei o fundador de uma empresa de tecnologia, a AMSYS Group, que agora está avaliada em US$ 350 milhões. Mas nunca esquecerei como foi difícil, como imigrante, utilizar o sistema bancário dos EUA. Lembro-me claramente de como apenas abrir uma conta e conseguir um empréstimo era um grande desafio.

Afinal, contas bancárias e contratos de empréstimo são complicados e cheios de letras miúdas. Muitas pessoas têm dificuldade de entender o funcionamento e muitas vezes acabam simplesmente pulando parte ou todo o processo. Além disso, quando os contratos e todo o sistema não estão na sua língua nativa, como era o meu caso, é difícil saber quando alguém está tentando tirar vantagem de você.

Esses problemas são reais e mensuráveis. Por exemplo, em 2020, uma pesquisa da Bankrate descobriu que negros e hispânicos pagavam o dobro em taxas bancárias em relação a pessoas brancas. 

ALÉM DOS “DESERTOS BANCÁRIOS”

Quando bancos fecham agências em bairros pobres, os “desertos bancários” resultantes deixam os moradores sem alternativas. Infelizmente, agências próximas que descontam cheques costumam ser a opção mais conveniente — porém mais cara. Além disso, a falta de agências significa menos acesso ao capital, dificultando o início ou o crescimento de um negócio.

Os neobanks oferecem uma experiência móvel fácil de usar, um ponto importante para essas comunidades que foram deixadas na mão. Em 2019, a Pew Research Center descobriu que aproximadamente 25% dos hispânicos e afro-americanos só possuem acesso à internet em casa a partir de seus smartphones. Enquanto, apenas 12% dos americanos brancos passam pelo mesmo problema.

Também é animador ver como os neobanks estão indo além dos serviços bancários básicos para criar plataformas de finanças pessoais. Você pode ter as principais ferramentas orçamentárias, de investimento e de empréstimo integradas no mesmo aplicativo em que recebe seu salário.

De uma perspectiva pessoal, sei que nossa abordagem nos levou a novas maneiras de ajudar nossos clientes. Como exemplo, somos certificados pela Organização de Contabilidade e Auditoria para Instituições Financeiras Islâmicas e cumprimos os padrões descritos na Sharia e na lei judaica. É claro que nossos serviços, como ordens de pagamento internacionais e cartões de débito gratuitos para crianças, também se destinam a clientes ateus ou de outras religiões.

Ainda este ano, em conformidade com a lei islâmica, que proíbe a cobrança de juros, lançaremos produtos de empréstimos sem juros para casas, automóveis e pequenas empresas. Além disso, estamos construindo um “consultor-robô” para ajudar clientes a poupar com opções de investimento socialmente responsável (SRI). E espero que nosso novo recurso de investimento em construção de riqueza, que pode retornar dividendos anuais de até 4% para clientes, se torne popular.

Acredito que um foco na intenção e no impacto é necessário para que as fintechs ajudem genuinamente as comunidades desprivilegiadas. 

Ao ouvir os clientes, você consegue investir em tecnologia que realmente atenda diretamente às suas necessidades específicas. Mas você deve ter humildade e flexibilidade para ajustar o curso conforme necessário para benefício do consumidor. Por fim, você deve ser ágil: a capacidade de agir rapidamente é a vantagem que muitos neobanks têm sobre os bancos tradicionais.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais