Novos satélites vão ajudar a detectar emissões de metano na atmosfera

O metano é o segundo poluente mais abundante, ficando atrás apenas do dióxido de carbono

Crédito: Laboratório de Propulsão a Jato da NASA/ Caltech

Riley Duren 4 minutos de leitura

Muito mais metano, um potente gás de efeito estufa, está sendo liberado de aterros sanitários e operações de petróleo e gás ao redor do mundo do que os governos imaginavam, de acordo com pesquisas recentes realizadas por satélites e aeronaves.

Isso é um problema tanto para o clima quanto para a saúde humana. A boa notícia é que muitos desses vazamentos podem ser contidos – se forem detectados rapidamente.

A Carbon Mapper, uma organização sem fins lucrativos, está planejando colocar em órbita uma constelação de satélites para monitorar emissões de metano. O primeiro, desenvolvido em parceria com o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e a empresa de mapeamento Planet Labs, será lançado em 2024.

Mas como, exatamente, esses novos satélites podem ajudar empresas e governos a encontrar e conter vazamentos?

O metano é o segundo poluente mais abundante, ficando atrás apenas do dióxido de carbono. No entanto, sua capacidade de aquecer o planeta é quase 30 vezes maior ao longo de 100 anos, e mais de 80 vezes ao longo de 20 anos. Podemos pensar nele como uma manta extremamente eficaz que retém o calor na atmosfera, aquecendo o planeta.

Além disso, o metano também apresenta riscos para a saúde. Ele é um precursor do ozônio, que pode agravar a asma, bronquite e outros problemas pulmonares. E em alguns casos, suas emissões são acompanhadas por outros poluentes prejudiciais, como o benzeno, que é um agente carcinógeno.

Fonte: Agência Internacional de Energia

Em sua forma natural, ele é invisível e inodoro. As empresas tradicionalmente contabilizam as emissões de metano usando um método do século 19 chamado inventário. Os inventários calculam as emissões com base na produção relatada em poços de petróleo e gás ou na quantidade de lixo que vai para aterros sanitários, onde os resíduos orgânicos liberam o gás ao se decompor.

Mas há muita margem para erro neste tipo de método; ele não leva em conta, por exemplo, vazamentos desconhecidos.

Em sua forma natural, o metano é um gás é invisível e inodoro.

Até recentemente, a detecção de vazamentos em operações de petróleo e gás envolvia a visita de um técnico a cada 90 dias (ou mais) com uma câmera de infravermelho ou analisador de gás. Mas um grande vazamento pode liberar uma quantidade enorme de gás ao longo de vários dias e semanas ou pode ocorrer em locais de difícil acesso.

Satélites e aviões de sensoriamento remoto, por outro lado, podem inspecionar grandes áreas de forma rápida e rotineira. Os novos satélites lançados por meio da Carbon Mapper Coalition podem se concentrar em locais específicos, para que possam identificar superemissores de metano em poços, estações de compressores ou seções específicas em aterros sanitários.

Nuvens de metano detectadas por avião em um aterro sanitário no estado da Geórgia, nos EUA, cercado por moradias (Crédito: Carbon Mapper)

Se os cientistas puderem monitorar essas áreas com frequência e consistência a partir de satélites, poderão identificar superemissões e notificar rapidamente o operador para que possa encontrar o problema enquanto ele ainda está acontecendo e corrigir quaisquer vazamentos.

Cada satélite tem capacidades diferentes e, muitas vezes, complementares. O MethaneSat, lançado pelo Fundo de Defesa Ambiental, funciona como uma lente grande-angular que produz uma imagem muito precisa e completa das emissões de metano em grandes paisagens. Os satélites da Coalizão Carbon Mapper complementarão o MethaneSAT, atuando como um conjunto de lentes teleobjetivas, o que permitirá localizar emissores individuais.

O método usado para detecção de metano ele não leva em conta vazamentos desconhecidos.

Trabalhando com a Planet Labs e a NASA, planejamos lançar o primeiro satélite da Carbon Mapper Coalition ainda em 2024, com o objetivo de expandir a constelação nos próximos anos para fornecer monitoramento diário em regiões de alta prioridade.

Por exemplo, estima-se que cerca de 90% das emissões de metano provenientes da produção e do uso de combustíveis fósseis venham de apenas 10% da superfície da Terra. Portanto, planejamos concentrar os satélites em bacias de produção de petróleo, gás e carvão; grandes áreas urbanas com refinarias, estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários; e nas principais regiões agrícolas.

Nuvens de metano identificadas pela NASA (em sentido horário): explosão de tanques de armazenamento no Alyson Canyon, na região de Los Angeles; instalação de óleo e gás na região do Texas; usina de energia e aterro sanitário no Irã (Crédito: Carbon Mapper)

Com base em nossa experiência anterior em compartilhar dados de aeronaves com operadores e reguladores, esperamos que nossos dados de satélite sejam utilizados para orientar esforços de detecção e reparo de vazamentos.

Muitas empresas de petróleo e gás, operadores de aterros sanitários e algumas grandes fazendas com digestores de metano estão interessados em identificar vazamentos, pois o metano, nestes casos, é valioso e pode ser capturado e utilizado. Portanto, além dos impactos climáticos e na saúde, eles prejudicam os lucros.

Os dados também podem ajudar a alertar comunidades próximas sobre riscos, educar o público e orientar esforços de fiscalização nos casos em que as empresas não corrigem voluntariamente os vazamentos.

Ao medir as tendências nos eventos de alta emissão de metano ao longo do tempo e em diferentes regiões, também podemos ajudar a avaliar se as políticas estão tendo o efeito desejado.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Riley Duren é pesquisador na Universidade do Arizona e líder da Carbon Mapper. saiba mais