Pomelo quer transformar toda empresa da América Latina em uma fintech

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O Brasil é o principal mercado de uma empresa que está disposta a transformar a América Latina em algo próximo do que é a Europa, uma meta que, por si, soa bastante ambiciosa. A companhia em questão é a Pomelo e o avanço que pretendem levar para a região envolve fintechs e toda e qualquer corporação que tenha serviços financeiros em seus negócios.  

Fundada na Argentina em março deste ano por três executivos experientes em fintech no mercado latino-americano, a Pomelo está expandindo sua operação no Brasil e no México após captar recentemente R$ 190 milhões (US$ 35 milhões), em um investimento Serie A.

A rodada ocorreu cinco meses após o anúncio de seu Seed Round de R$ 55 milhões (US$ 10 milhões). A companhia tem uma lista impressionante de fundos VCs – entre eles, Tiger Global, monashees, Index Ventures e Sequoia – e agora está atingindo uma base de colaboradores formada por mais de 150 pessoas. 

Para se ter uma ideia da velocidade com que a Pomelo está montando sua estrutura, vale dizer que, em seis meses, já tinha 100 especialistas em fintech atuando na companhia. Há profissionais vindos de companhias de renome, como Mercado Pago, Amazon Payments e os neobanks Naranja X (Argentina) e N26 (Alemanha). 

De olho tanto em startups quanto em companhias de presença regional, a Pomelo oferece uma plataforma de APIs de nova geração para que seus clientes tenham processos de onboarding simples de integrar, possam abrir contas virtuais conectadas a sistemas financeiros locais e emitir cartões de débito e crédito na América Latina. São três produtos básicos. 

Além disso, a empresa pode cuidar da parte regulatória referente aos mercados onde seus clientes adentrarem. Com isso, sinaliza com a possibilidade de acelerar o lançamento de serviços e produtos. 

A experiência mostra que, na América Latina, acelerar nesse segmento pode ser um enorme desafio. Quem pode prestar esse testemunho é o trio de fundadores: Gastón Irigoyen, Hernan Corral e Juan Fanton. Como então líder do Naranja X, Irigoyen, atual CEO da Pomelo, planejava fazer o lançamento de um cartão de crédito, junto com Corral, que tinha sido do Mercado Pago e com quem estava trabalhando no neobank. Mas foram necessários 18 meses para conseguir isso, mesmo tendo investimentos, relacionamentos e talentos. 

Além disso, Corral tinha passado pela experiência de escalar no mercado latino-americano, o que tinha sido extremamente difícil. Por sua vez, Fanton, que tinha sido de Mastercard, não conseguia recomendar nenhum player de infraestrutura. Diante de tudo isso, eles se reuniram e pensaram: se, com a expertise que tinham, tinham enfrentado tantos problemas, o que passariam as fintechs e todas as empresas que querem ter um serviço financeiro na região? Desse modo, surgiu a ideia da Pomelo.

A história é contada por John Paz, COO & diretor-geral da companhia no Brasil. Agora, a proposta é ajudar a criar uma infraestrutura do futuro para a região, com tecnologia facilmente escalável e localizável. Para isso, estão investindo nas três frentes já mencionadas, que modem ser moldadas conforme as características de cada mercado. 

No onboarding, o serviço pode incluir desde a análise do perfil financeiro do consumidor ao uso de biometria. Já em relação a contas, o Brasil tem uma modalidade em ascensão, o Pix. Quanto a cartões, tanto físicos quanto virtuais, a Pomelo entende que isso pode ser bastante complexo para uma empresa. Portanto, ela tem um time para criar o cartão, customizá-lo e responder até pela logística de entrega.

Segundo Irigoyen, o que existe hoje está completamente obsoleto e altamente fragmentado. “Nosso objetivo na Pomelo é fazer com que a América Latina se pareça com a Europa, o que significa que vamos ajudar nossos parceiros a desbloquear vários mercados em um curto período de tempo, permitindo que eles escalem seus negócios em vez de se preocupar com regulamentações, dezenas de contratos e integrações de backend”, declarou o CEO. 

Na visão da Pomelo, toda empresa será uma fintech ou pode ter uma oferta de finança embarcada. Ainda mais na América Latina, onde a penetração dos smartphones é massiva, porém onde cerca de 40% da população ainda não tem acesso a serviços financeiros. “As empresas de tecnologia dedicadas ao varejo, delivery, mobilidade e viagens estão incorporando produtos fintech para aumentar o envolvimento do cliente e desbloquear novas linhas de receita”, explicou John Paz, que trabalhou antes no Boston Consulting Group e liderou a operação da Lime no Brasil.

VHS X NETFLIX 

Com a experiência de ter implantado o Mercado Pago no país, Bruno Martucci, head of products da companhia, comentou que a tecnologia para pagamentos existente no Brasil é dos anos 1990. Ela foi estruturada para um mundo povoado de agências bancárias e sem internet. Ela não acompanhou a evolução da conexão e da interatividade no mercado brasileiro. “É como se nos entregassem fita VHS e nós temos Netflix”. 

Por outro lado, o consumidor se acostumou a serviços rápidos. Como lidar com assuntos de banco com a velocidade das instituições tradicionais quanto se está habituado a consumir filmes e séries em plataformas de streaming? A resposta está no investimento em talentos. 

A empresa vai contratar mais profissionais especializados. A intenção é chegar a 250. Toda essa equipe estará habilitada a construir, por sua vez, uma nova estrada para que os serviços embarcados com finanças possam transitar não apenas em um país, mas em outros, como Colômbia e Chile, onde a Pomelo pretende abrir operações. “Estamos buscando os melhores talentos e oferecendo um modelo híbrido de trabalho. Vemos a equipe como constituída por empreendedores”, afirmou Paz.

Para trabalhar com as questões regulatórias, a companhia irá estabelecer parcerias por país, com escritórios de advocacia, por exemplo. Mas localmente é também importante compreender o comportamento do consumidor. Embora o Pix seja atualmente uma febre, por exemplo, no Brasil é ainda forte o cartão. Existe no país muita compra parcelada e nem sempre a conexão é boa para fazer um pagamento. Por isso, o dinheiro de plástico continua firme. Na Argentina, o QR code virou costume. “A gente respeita as cores e os sabores locais”, emendou Martucci. 

Por falar nisso, pomelo é uma fruta cítrica. Alguns a chamam de grapefruit e até toronja. Outros, de laranja-natal ou cimboa. É muito popular na Argentina. Por aqui, ainda precisa ser mais apreciada.  


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