Como essas 3 tendências tecnológicas estão remodelando o Vale do Silício

Depois que a indústria de tecnologia superar a atual onda de demissões, ela poderá ver seu maior período de crescimento até agora

Crédito: Milad Fakurian/ Unsplash

Tim Bajarin 5 minutos de leitura

Além de trabalhar e acompanhar o desenvolvimento do Vale do Silício nos últimos 40 anos, também nasci aqui. Naquela época, toda a região era coberta por pomares de damascos, pêssegos e cerejas, além de campos de morangos. Mas, em meados da década de 1960, o crescimento urbano começou a tomar conta. Logo, os pomares deram lugar a novos empreendimentos.

Coincidentemente, por volta de 1965, teve início a era dos semicondutores. E a região se tornou o epicentro da tecnologia, liderado pelos laboratórios Shockley Semiconductor, Fairchild Semiconductor International, Intel e outros.

Embora tenham se tornado o cerne de toda inovação tecnológica, o real impacto dos semicondutores só foi compreendido com o surgimento dos computadores pessoais. Os PCs chamaram a atenção do mundo quando o Apple-1, criado por Steve Jobs e Steve Wozniak, foi lançado em 1976.

Mas a verdadeira revolução foi impulsionada pela decisão da IBM de utilizar o processador 8088/ 8086, da Intel, em seu primeiro computador pessoal, em 1981. Quando a máquina se tornou um sucesso surpreendente em todo o mundo, esta estratégia colocou o Vale do Silício no mapa.

O IBM PC deu origem a toda uma indústria de hardware, software, lojas especializadas e serviços, dando início à era dos PCs. Embora computadores pessoais ainda sejam uma peça fundamental no mundo da tecnologia, a demanda por eles atingiu o pico em meados dos anos 2000. De acordo com a empresa de consultoria Gartner, em 2023, 241 milhões de unidades foram vendidas em todo o mundo.

Crédito: Wikipedia

Em outro ponto de virada, o Vale do Silício começou a se reinventar quando a Netscape lançou seu navegador, em 1994. Em 1997, emergiu uma nova indústria, impulsionada pelo boom da internet, com todos os tipos de serviços e produtos migrando para o ambiente online.

Nessa época muita gente achou que era só criar um novo navegador de internet, sem grandes investimentos e sem um plano de negócios, para ficar rico. Isso levou ao que foi chamado de "bolha da internet", que estourou em 2000-2001. Foi um período difícil para os empreendedores, mas a semente da revolução da internet estava plantada.

A ERA DA INTERNET MÓVEL

Em 2007, quando a Apple lançou o iPhone, o vale se tornou novamente o epicentro do mundo tecnológico, mas desta vez no universo dos smartphones. Engenheiros de semicondutores, programadores de software e desenvolvedores de aplicativos começaram a se mudar para a região, vendo nela uma incrível oportunidade de crescimento.

Novas empresas, como Uber e Lyft, deram origem a subindústrias com o smartphone no centro. As vendas de produtos passaram a ser medidas em bilhões, não mais em milhões. Segundo a plataforma Statista, a quantidade de assinaturas de planos de serviços em smartphones atingiu 6,4 bilhões em 2022, com projeção de crescimento para 7,7 bilhões até 2028.

Crédito: Apple

Todas essas novas tecnologias, dos PCs aos notebooks, da internet aos smartphones, ajudaram a reenergizar o Vale do Silício e a trazer fortunas cada vez maiores para a região. Mas as transições de um foco tecnológico para outro forçaram empresas a mudar de direção. Essas mudanças frequentemente resultaram em demissões em massa, especialmente durante períodos de economia em baixa.

Agora estamos passando por outro desses períodos. Desafios econômicos, contratações excessivas durante a pandemia e grandes empresas de tecnologia se preparando para o próximo grande avanço causaram muitas demissões e interrupções. Mas três tecnologias emergentes estão prontas para impulsionar o Vale do Silício nas próximas décadas.

O FUTURO É QUÂNTICO

A primeira é a inteligência artificial. Até o momento, estamos apenas arranhando a superfície de como ela impactará todos os aspectos de nossas vidas. Nos próximos 10 a 15 anos, os processadores se tornarão exponencialmente mais poderosos.

Já estamos vendo um trabalho intenso em designs de semicondutores e projetos focados em alimentar aplicativos, soluções e serviços de IA que sequer conseguimos imaginar hoje.

A inteligência artificial será uma das tecnologias mais importantes para a computação nos próximos 25 anos. E, certamente, também vai impulsionar a próxima fase de crescimento e importância do Vale do Silício.

A segunda tecnologia é a computação espacial. Por muitos anos, o 3D tem sido usado em aplicações verticais especializadas, como desenho assistido por computador. No entanto, para a maioria de nós, o mundo da computação continua em 2D.

Crédito: Apple

Isso é compreensível, dado o enorme impacto que teve em todos os aspectos do nosso trabalho e vida pessoal até agora. Mas a transição será liderada pela Apple e por muitas outras empresas que estão preparando o terreno para filmes, jogos, esportes, entretenimento e concertos em 3D, além de outras novas aplicações que ainda não foram inventadas.

A terceira área para ficar de olho é a computação quântica – que ainda está em seus estágios iniciais, mas que terá um impacto significativo no mundo digital. Esta tecnologia promete mudar drasticamente a IA e o aprendizado de máquina, resultando em benefícios como sugestões de compras hiperpersonalizadas e ferramentas avançadas para casas inteligentes.

Crédito: IBM

Também mudará radicalmente a área da saúde, potencialmente sendo utilizada para acelerar a descoberta de medicamentos, possíveis curas e novas maneiras de prolongar a vida humana.

Além disso, os computadores quânticos trarão benefícios para setores como investimentos, gestão da cadeia de suprimentos, entretenimento e robótica. Porém, também podem representar uma ameaça à privacidade e à cibersegurança caso não haja defesas adequadas quando essas máquinas começarem a ser implantadas.

Quando combinamos essas três novas tecnologias, fica claro que o Vale do Silício já está se reinventando para sua próxima fase. Embora leve tempo, acredito firmemente que estamos prestes a testemunhar um de seus períodos de maior crescimento.


SOBRE O AUTOR

Tim Bajarin é diretor da Creative Strategies, empresa de consultoria e pesquisa em tecnologia sediada no Vale do Silício, na Califórnia. saiba mais