O que pode acontecer se misturarmos IA generativa com robótica?

Com o mesmo nome de uma das maiores artistas do mundo, FRIDA pode dar vida à imaginação

Crédito: CMU

Connie Lin 3 minutos de leitura

O que é a arte quando não é concebida e produzida por um humano?

Esta é uma pergunta que tem tirado o sono de muitas pessoas nos últimos anos, desde que a IA generativa entrou em cena. Seriam os tons e traços usados pela IA capazes de evocar as mesmas emoções das pinturas de Van Gogh?

Essas obras, desprovidas de atuação humana, poderiam inspirar os mesmos sentimentos das telas de Monet?

Veja esta pintura a óleo de Frida Kahlo, criada em um estúdio da Carnegie Mellon University.

Crédito: Carnegie Mellon University

A imagem não veio de uma mente humana, nem foi pintada por um artista de verdade. Ela é uma criação de FRIDA, um braço robótico com um pincel acoplado capaz de produzir imagens que, para alguns, parecem infantis. Mas, para outros, podem ser como pinceladas de um gênio – dependendo da generosidade da interpretação.

“Há uma pintura de um sapo bailarino que, para mim, ficou muito boa”, diz Peter Schaldenbrand, aluno de doutorado da escola de ciência da computação da Carnegie Mellon, em um vídeo que apresenta a FRIDA. “É sutil, mas quando você percebe...”

Crédito: Carnegie Mellon University

FRIDA é uma criação do Instituto de Robótica da universidade. Seu nome é uma homenagem à famosa pintora mexicana e também o acrônimo de “Framework and Robotics Initiative for Developing Arts” (Estrutura e Iniciativa de Robótica para o Desenvolvimento de Arte).

A FRIDA usa machine learning, da mesma forma que o DALL-E ou o GPT, da OpenAI, para gerar imagens a partir de um comando de texto inserido por um ser humano. Mas, diferente de outros sistemas de inteligência artificial, ela dá um passo além ao reproduzir essas imagens no mundo físico – com pigmento de verdade no papel.

“As pessoas têm várias ideias sobre que tipo de coisas querem pintar”, diz Jean Oh, professora associada do Robotics Institute. “Mas poucas realmente conseguem visualizar como seriam. Então, começam a trabalhar com alguns objetivos semânticos.”

Se você já tem uma visão do que deseja – talvez um buraco de minhoca apocalíptico renderizado no estilo cubista de Pablo Picasso –, pode inserir o comando e esperar que ela transforme sua ideia em realidade.

O prompt pode ser ainda mais abstrato: nos testes, os desenvolvedores tocaram o áudio da música “Dancing Queen”, do ABBA, para FRIDA e pediram para pintá-la. O tempo para que ela conclua as obras varia, dependendo dos detalhes.

No entanto, a máquina tem suas limitações. Ela não consegue misturar tintas, mas sabe dizer exatamente o que é preciso para chegar no tom certo. De acordo com a Carnegie Mellon, os centros de arquitetura e machine learning da universidade estão trabalhando em um misturador de tinta automático.

Apesar de toda a ciência exata por trás da programação de um robô com todas as funções de FRIDA, os desenvolvedores dizem que a imprecisão da pintura é a parte central.

Quando comete um erro, como arrastar o pincel com muita força ou deixar pingar tinta aleatoriamente na tela, ela abraça a falha e seu desenho se transforma e reflete uma nova realidade.

A CRIATIVIDADE É HUMANA

A equipe da universidade enfatiza que ela foi feita para trabalhar com humanos, para fazer florescer sua criatividade. “As pessoas se perguntam se FRIDA vai tirar empregos de artistas, mas o principal objetivo do projeto é exatamente o oposto”, explica Oh. “Eu, pessoalmente, queria ser artista. Agora, posso colaborar com FRIDA para expressar minhas ideias na pintura.”

Mas, finalmente, de volta ao questionamento no início desta história. O que a arte significa para nós? Os desenvolvedores de FRIDA não têm as respostas. Mas Jim McCann, professor assistente do Instituto de Robótica, tem algumas ideias.

“Você pode ser muito reducionista e pensar: 'a expressão artística é uma coisa misteriosa que não entendemos. Nós sabemos como a FRIDA funciona. É um malabarismo com números, derivados de grandes conjuntos de imagens e palavras, portanto, não pode haver espaço para expressão artística' .”

Mas ele acredita que poderíamos mudar esse pensamento e nos questionar: “o que um artista faz além de reunir algum subconjunto do zeitgeist – do que as pessoas ao seu redor estão dizendo e fazendo – e transformar isso em uma expressão artística?”. Para McCann, “é exatamente isso que a FRIDA está fazendo.”


SOBRE A AUTORA

Connie Lin é jornalista e colaboradora da Fast Company. saiba mais