Por que as pessoas acreditam em fake news – e como combatê-las

Crédito: Fast Company Brasil

Stephanie Vozza 5 minutos de leitura

Meu melhor amigo da escola acredita que Joe Biden está morto e que o atual presidente é um impostor. O que eu faço?

 

Meu pai não vai se vacinar porque diz que a vacina contém um microchip de rastreamento. Como convencer ele?

 

Esses são os tipos de perguntas que a doutora Nika Kabiri, uma especialista em ciência de decisão e membro do corpo docente da Universidade de Washington, recebe de pessoas que não sabem como lidar com entes queridos que acreditam em fake news.

 

“A tendência do pensamento conspiratório ou da desinformação sempre existiu”, diz ela. “A pesquisa sugere que existe uma relação entre tempos de incerteza, como estresse econômico e abalo social ou político, e a disseminação de teorias da conspiração. Isso faz sentido do ponto de vista da ciência comportamental. Quanto menos certeza sobre o futuro temos, mais ansiosos ficamos e, então, um número maior de nós se apega a alguma história fantasiosa para se acalmar. É por isso que a desinformação é um problema tão grande agora.”

 

Ela também cria tensão nos relacionamentos. O que fazer se você não quiser se afastar de pessoas que acreditam e espalham teorias conspiratórias?

 

Embora você possa acreditar no ditado “você não pode mudar os outros; você só pode mudar a si mesmo”, Peter Bregman e Howie Jacobson, autores de You Can Change Other People: The Four Steps to Help Your Colleagues, Employees — Even Family — Up their Game, afirmam que mudamos as pessoas o tempo todo.

 

“Conversas mudam as pessoas de várias maneiras”, diz Bregman. “A tomada de decisão se dá por conta própria e é sempre individual, mas é algo feito a partir de experiências, como conversas que já tivemos. As pessoas não têm grande resistência a mudança; na verdade, elas resistem mais a serem mudadas.”

 

MUDE SUA MENTALIDADE PARA MUDAR OS OUTROS

Um erro que cometemos quando tentamos mudar os outros é que geralmente o fazemos a partir de nossa própria frustração, raiva ou medo, e, consequentemente, com um tom de crítica. Essa abordagem traz o resultado oposto do que queremos, diz Kabiri, que escreveu recentemente o guia How to Change a Misinformed Mind.

 

“Nós os pressionamos e esperamos uma mudança imediata”, explica. “Costumamos pensar: ‘Se ao menos eles ouvissem meu ponto de vista, mudariam de opinião.’ Mas, na vida real, opiniões não mudam tão rápido e nem a força.”

 

É comum também que adotemos a estratégia de tentar corrigi-los, “já que nós sabemos mais do que eles”, acrescenta Bregman. “Mas isso desperta um sentimento de vergonha, o que faz com que ajam na defensiva e continuem negando o problema”.

 

MANTENHA-SE ENGAJADO

Kabiri recomenda manter seu relacionamento leve e positivo, fazendo coisas que aproximem vocês. “A maioria das nossas crenças não vêm da leitura de dados científicos”, afirma. “Acreditamos no que as pessoas em quem confiamos acreditam. Eu, por exemplo, me vacinei porque confio no Dr. Fauci. Se as pessoas não confiam em você porque você costuma dizer coisas como: ‘Você é burro. Eu não admito que você acredite nessas coisas’, a confiança já se perdeu e não há esperança.”

 

Quando somos muito críticos com alguém, tiramos sua autonomia, afirma Jacobson. “Precisamos que nos vejam como um aliado, alguém com a melhor das intenções, que está interessado em saber o que pensam e que tem intenção de ajuda-los”, completa. “Devemos procurar um ponto em comum, algo que ambos desejam. Este é o lugar seguro por onde você deve começar.”

 

Ao iniciar uma conversa, tenha em mente que fatos não são tão eficazes quanto você pensa. “Para muitos de nós que gostamos de ciência, essa é a nossa linguagem”, diz Kabiri. “Mas para muitas pessoas, a ciência não é o dado mais importante. Elas internalizam histórias e, exatamente por isso, as teorias da conspiração são tão frequentes – pois são narrativas fascinantes. Apresentar suas visões através de histórias – ao invés de criar tensão com os fatos – é a melhor estratégia, especialmente se elas puderem eliminar noções erradas.”

 

MANTENHA-SE POSITIVO E ABERTO

Além disso, fique atento ao seu tom. “Nossa tendência é agir de forma negativa”, diz Bregman. “Tendemos a identificar problemas e dizer: ‘Deixe-me explicar porque isso não funciona. Deixe-me demonstrar como suas ideias estão erradas.’ Agora, considere nosso país que está tão polarizado: todos estão reclamando. Essa frustração, porém, vem de um lugar de cuidado e de boas intenções. Precisamos entrar em contato com isso com uma abordagem empática .”

 

Por exemplo, você pode iniciar uma conversa dizendo: “Eu realmente entendo que isso é difícil, consigo notar na sua voz. Você estaria disposto a pensarmos juntos sobre isso?”

 

“Se eles disserem ‘não’, você tem que aceitar”, completa Bregman. “Aceitar o ‘não’ aumenta as chances de que eles confiem em você no futuro.”

 

Quando você tenta mudar outra pessoa, você precisa estar disposto a ser mudado. “Inicie a conversa disposto a aprender. Não é uma competição em que você sabe tudo e a outra pessoa não sabe nada”, diz Bregman. “Você tem seus conhecimentos e eles também. Juntos vocês podem chegar a conclusões novas.”

 

Ser um líder não é arrastar outras pessoas para onde você quer ir, acrescenta Jacobson. “Encarar seus defeitos é difícil. Se aventurar em coisas novas com as quais você não está familiarizado também é. Mas é necessário que acessemos essa vulnerabilidade. Isso é algo transcendental, de certo modo.”

 

A desinformação está causando problemas sociais e de saúde generalizados e Kabiri aponta que os riscos são altos demais para que ignoremos as oportunidades de mudar os outros. “Acho que temos uma responsabilidade”, diz ela. “Espero que as pessoas não desistam, embora seja mais fácil. Espero que elas comemorem as pequenas vitórias. Não é um tudo ou nada. Mesmo que outros não parem de acreditar em uma grande mentira, se há espaço para conversa, já é uma grande vitória porque é exatamente onde as mudanças ocorrem.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais