Qual será a jogada da Apple na corrida da inteligência artificial?

Em vez de criar um sistema genérico, a Apple pode investir em um grande modelo de linguagem construído a partir do que conhece sobre seus clientes

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Ben Bajarin 4 minutos de leitura

A essa altura já está claro que a inteligência artificial generativa afetará, de alguma forma, quase tudo o que fazemos com computadores. Isso tem levado muita gente a se perguntar qual será a estratégia de um dos maiores e mais importantes players no mercado de hardware e software: a Apple.

Os comentários da empresa sobre IA têm sido cautelosos. Sua liderança entende que essa tendência é nova e que a tecnologia ainda apresenta problemas de confiança e segurança. Por isso, é improvável que seja incorporada aos produtos até que a Apple acredite que ela é confiável o suficiente para seus mais de um bilhão de clientes.

é pouco provável que a Apple exponha seus clientes a qualquer tecnologia que traga riscos.

Seus maiores concorrentes em plataforma de computação – Microsoft e Google –, por outro lado, têm apostado alto em IA generativa. E podemos supor que, além dos aplicativos, provavelmente adicionarão a tecnologia em seus sistemas operacionais. Como a Apple conseguirá bater de frente com eles é uma questão em aberto.

No entanto, ela tem alguns diferenciais importantes:

SILÍCIO

A Apple desenvolve alguns dos melhores semicondutores do planeta para cada categoria de produto que fabrica. O Mac é o melhor computador do mercado para executar softwares de IA generativa. Seus processadores da linha M2 são capazes de realizar aproximadamente 15 trilhões de operações por segundo (TOPS).

Também contam com uma poderosa unidade de processamento neural, que pode permitir que aplicativos de inteligência artificial sejam executados direto no dispositivo, em vez de na nuvem.

PRIVACIDADE

Ao contrário de outras tecnologias, os usuários não

Crédito: Apple

precisam de um novo hardware para usar a IA generativa, apenas algum tipo de dispositivo de computação moderno (PC, smartphone, tablet). Isso significa que mais de quatro bilhões de pessoas no planeta terão acesso instantâneo a ela. Para quem cria aplicativos, serviços ou qualquer experiência visando o cliente final, essa é uma notícia muito empolgante.

Mas, devido à enorme quantidade de dados entrando e saindo de grandes modelos de linguagem (LLMs, na sigla em inglês), a privacidade se tornou um motivo de preocupação. Se quisermos que a IA seja adotada rapidamente, essa terá que ser uma questão central.

Por isso, o compromisso da Apple com a privacidade dos dados dos usuários pode ser um diferencial importante. Desenvolver IA de forma responsável é fundamental para levar a tecnologia adiante – e respeitar a privacidade dos usuários é grande parte disso.

DESENVOLVEDORES

Embora os desenvolvedores de hoje estejam criando principalmente aplicativos de IA executados na nuvem, eles inevitavelmente passarão a construir apps que rodam modelos de inteligência artificial no próprio dispositivo, como smartphones e notebooks. E nenhuma empresa se beneficiou mais do vibrante ecossistema de desenvolvedores na última década do que a Apple.

Embora não tenha atuação direta na IA generativa, ela oferece suporte a aplicativos de terceiros no iOS e no macOS. Testei todas as ferramentas de IA generativa que consegui encontrar e funcionaram perfeitamente no Mac e no iPhone.

Além disso, pode continuar oferecendo ferramentas aos desenvolvedores por meio de sua API e SDK para colocar em prática suas ambições nas plataformas da empresa.

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DADOS DO USUÁRIO

A Apple pode se diferenciar treinando seus modelos de IA com dados que ninguém mais tem. Em vez de criar um sistema genérico, como o ChatGPT e o Bard, pode investir em um LLM construído a partir do que conhece sobre seus clientes.

A empresa sempre quis que a Siri fosse uma assistente mais útil. Se usar IA generativa e o poder de computação do Apple Silicon para treiná-la nos padrões únicos de comportamento e nuances individuais de seus usuários – e manter todas essas informações privadas e no dispositivo –, acredito que teremos uma ideia do que a Siri poderia se tornar. Poderemos chamá-la de um modelo de linguagem pessoal que pode se adaptar e evoluir à medida que aprende mais sobre cada cliente.

Desenvolver IA de forma responsável é fundamental para levar a tecnologia adiante, e respeitar a privacidade do usuário é grande parte disso.

Muitas empresas consideram misturar grandes modelos de linguagem de terceiros com modelos menores treinados em seus próprios dados. A Apple poderia usar essa mesma abordagem para que seus usuários possam ter o melhor dos dois mundos.

Se isso acontecer, é possível imaginar que nenhum cliente teria a mesma experiência de IA generativa. Cada modelo seria personalizado exclusivamente para os fluxos de trabalho do usuário, preferências de idioma e estilo, personalidade e muito mais.

Este é o meu melhor palpite sobre como a Apple poderia aproveitar a IA generativa para oferecer algo único em comparação com a concorrência.

Mas não acredito que ela faça algum anúncio nesse sentido tão cedo. Ainda existem questões de confiança e segurança em torno de todos os modelos.

Duvido muito que a Apple exponha seus clientes a qualquer tecnologia que traga riscos. Portanto, até que esses problemas sejam resolvidos, não a vejo integrando qualquer tecnologia de IA generativa em seu software.


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