Redes sociais fomentam radicalização política, afirma estudo de Yale

Crédito: Fast Company Brasil

Connie Lin 2 minutos de leitura

Não é só imaginação: as redes sociais estão se tornando mais extremas — e há razões científicas para isso.

Um estudo da Universidade de Yale aponta a razão por trás da enxurrada de discussões políticas mordazes e longos comentários pessoais nos feeds do Facebook e Twitter. Os usuários são sutilmente “treinados” para publicá-los, por meio de um sistema de recompensas alimentado por curtidas e compartilhamentos. Simplificando, como o conteúdo com “expressões de indignação moral” é mais popular, as pessoas os publicam mais.

Para a análise, o time de pesquisadores desenvolveu um software com machine learning capaz de identificar injúrias morais em posts do Twitter, que então compilou quase 13 milhões de tweets de mais de 7 mil usuários. Depois de rastrear as páginas dos usuários ao longo do tempo, eles descobriram que aqueles que obtiveram mais “curtidas” ou “retuítes” depois de mostrar indignação eram mais propensos a continuar em postagens futuras. Isso foi posteriormente confirmado por experimentos comportamentais controlados conduzidos pela equipe.

Mas, surpreendentemente, a descoberta não se limitou às redes de eco política extremista, onde normalmente espera-se que vozes enviesadas fiquem mais altas. É verdade, dizem os pesquisadores, que os usuários com redes mais politicamente radicais manifestaram mais disparates do que aqueles com redes mais ao centro do espectro político. Mas o sistema de recompensas teve a maior influência sobre o último: “Pessoas com amigos e seguidores politicamente moderados são mais sensíveis ao feedback social que reforça suas expressões de indignação”, disse Molly Crockett, professora associada de Yale, em um comunicado. “Isso sugere o mecanismo de como grupos moderados podem tornar-se politicamente radicalizados ao longo do tempo. . . [através de] ciclos de feedback que aumentam a indignação.”

Embora a indignação moral possa ser uma força positiva, impulsionando movimentos ativistas na história, desde direitos civis e crueldade contra os animais a reformas financeiras, ela também pode ser uma faca de dois gumes, alimentando a polarização política e a desinformação — e até mesmo resultando no assédio de minorias. As Big Techs como Twitter, Facebook e Reddit têm sido criticadas nos últimos anos por deixarem prosperar as piores vertentes do extremismo. 

Isso levou a uma crescente pressão por regulamentação. Enquanto as empresas argumentam que são apenas canais passivos para conversas que de outra forma aconteceriam em outro lugar, este estudo sugere que os algoritmos empregados por elas que incentivam os usuários a postar conteúdo mais popular podem estar desempenhando um papel mais ativo.

Os autores do estudo não tomaram nenhuma posição sobre se amplificar a radicalização política na sociedade é positivo ou negativo, já que dificilmente algo costuma ser ou preto ou branco. É, no entanto, “uma consequência clara do modelo de negócios das Big Techs de redes sociais, que otimizam a performance por meio do engajamento do usuário”, disse Crockett. “Dado que a indignação moral desempenha um papel crucial na mudança social e política, devemos estar cientes de que as empresas de tecnologia, por meio do design de suas plataformas, têm a capacidade de influenciar o sucesso ou o fracasso de movimentos coletivos. . . [eles] mudam a forma como os usuários reagem a eventos políticos ao longo do tempo.”


SOBRE A AUTORA

Connie Lin é jornalista freelancer e colaboradora da Fast Company. saiba mais