Como a IA pode estimular ou inibir a criatividade em jovens estudantes

IA e educação: inimigas ou aliadas? Pesquisa mostra que podem ser ambas

Crédito: FG Trade, a-r-t-i-s-t / iStock

Sabrina Habib 4 minutos de leitura

As ferramentas de inteligência artificial devem ser encaradas como inimigas ou aliadas na sala de aula? Minha pesquisa sugere que a resposta para esta pergunta nem sempre é simples. Podem ser ambas.

A chave está em ensinar os alunos a pensar de forma criativa, em vez de dependerem da IA para encontrar respostas. Foi isso o que descobrimos no nosso estudo sobre o impacto da inteligência artificial na criatividade dos estudantes, publicado no “Journal of Creativity”.

Pedimos a alunos universitários para fazer um brainstorming – sem o uso de tecnologia – sobre as diversas maneiras que um clipe de papel pode ser utilizado. Um mês depois, repetimos o exercício, mas, desta vez, usando o ChatGPT. Descobrimos que a IA pode ser uma ferramenta útil para o brainstorming, gerando rapidamente ideias que podem estimular a exploração criativa.

O estudo ressalta a importância de permitir que os alunos pratiquem a criatividade de forma independente.

Mas também identificamos potenciais efeitos negativos nas habilidades de pensamento criativo e autoconfiança dos alunos. Embora os participantes tenham relatado que “ter outro cérebro” era muito útil, também sentiam que este era “o caminho mais fácil” e que não lhes permitia pensar por conta própria.

Esses resultados indicam a necessidade de uma abordagem ponderada em relação ao uso da inteligência artificial na sala de aula, encontrando um equilíbrio que estimule a criatividade, ao mesmo tempo em que aproveita as capacidades da IA.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE?

Cada vez mais, os alunos estão recorrendo à inteligência artificial em busca de ajuda com suas tarefas e trabalhos. Seja para redigir textos, aprender um novo idioma ou estudar história ou ciências, as ferramentas de IA estão se tornando essenciais na vida acadêmica dos estudantes.

Em geral, eles veem a inteligência artificial como tendo um impacto positivo na criatividade. No nosso estudo, todos os participantes acharam a IA útil para o brainstorming e apenas 16% preferiram fazê-lo sem ela.

A boa notícia é que, quando usaram a inteligência artificial, os estudantes produziram ideias mais diversas e detalhadas. Outras pesquisas também sugerem que a IA pode servir como uma parceira imparcial no brainstorming, estimulando um fluxo livre de ideias que, em um ambiente de grupo, normalmente seriam reprimidas.

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A desvantagem é que alguns alunos expressaram preocupações sobre a dependência excessiva da tecnologia, temendo que isso possa minar seus próprios pensamentos e a confiança em suas habilidades criativas. Alguns estudantes relataram o que chamamos de “fixação da mente”, uma dificuldade em ter ideias próprias após serem expostos às geradas pela inteligência artificial.

Além disso, questionaram a originalidade das ideias sugeridas pela IA, uma questão também observada na nossa pesquisa. Notamos que, embora o uso do ChatGPT tenha aprimorado a produção criativa individual dos alunos, as ideias geradas tendiam a ser repetitivas. Isso provavelmente se deve ao fato de a IA generativa reciclar conteúdo existente em vez de criar pensamentos originais.

Os resultados do estudo ressaltam a importância de permitir que os alunos pratiquem a criatividade de forma independente antes de introduzir a IA, fortalecendo assim sua autoconfiança. Depois de atingir este ponto, a tecnologia pode servir para aprofundar a aprendizagem, assim como ensinar operações matemáticas antes de introduzir calculadoras na sala de aula.

O QUE AINDA NÃO SABEMOS?

Embora nosso estudo tenha se concentrado principalmente na aplicação da IA na geração de ideias, ressaltamos a importância do desenvolvimento de habilidades no início e no final do processo criativo. Identificar problemas e avaliar criticamente são duas habilidades essenciais que ainda dependem fortemente do componente humano.

O processo criativo geralmente envolve três etapas: identificação de problemas, geração de ideias e avaliação. De acordo com o nosso estudo, a IA se mostra promissora em ajudar os alunos na primeira etapa.

No entanto, a atual geração de inteligência artificial, como o ChatGPT-3, ainda não tem a capacidade de identificar

Identificar problemas e avaliar criticamente são habilidades que ainda dependem fortemente do componente humano.

problemas e transformar ideias em algo aplicável. O crescente papel da IA na educação traz muitas vantagens, mas manter o componente humano em primeiro plano é fundamental.

Questões relacionadas ao direito sobre o conteúdo, plágio e disseminação de informações falsas ou enganosas estão entre os desafios atuais para a implementação da IA na educação.

Com a inteligência artificial se tornando cada vez mais popular, as instituições de ensino precisam estabelecer diretrizes para assegurar que essas ferramentas sejam usadas de maneira responsável. Considerações éticas são essenciais para garantir uma relação positiva entre criatividade e IA.

Incorporar a inteligência artificial na educação de forma criteriosa ajudará a moldar um futuro em que a criatividade humana e o avanço tecnológico andem de mãos dadas.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Sabrina Habib é professora associada da Universidade da Carolina do Sul. saiba mais